Eleições Legislativas 2024

IL “entalada” e a perder gás desde que Rui Rocha é líder

05 fev, 2024 - 07:10 • João Pedro Quesado , Diogo Camilo

Os liberais oscilaram bastante nas sondagens do último ano. Chegaram a desejar atingir os 15%, mas agora, depois de divisões internas durante o primeiro ano de liderança de Rui Rocha, voltaram ao patamar das eleições de 2022. É um partido entre o voto útil na AD e o voto "populista radical", avalia Luís-Aguiar Conraria.

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A Iniciativa Liberal fez uma marcha-atrás lenta e aos solavancos nas sondagens desde que Rui Rocha foi eleito líder, em janeiro de 2023. Nessa altura, o partido parecia lançado para atingir os 10%, mas a IL chega à pré-campanha para as eleições de 10 de março com o mesmo resultado que conseguiu nas legislativas de 2022.

Durante a Convenção Nacional que elegeu Rui Rocha como presidente da IL, a Sondagem das Sondagens atribuía 8% das intenções de voto ao partido. No dia de consagração, uma sondagem da Aximage até colocava os liberais nos 9,2%, dando gás à promessa do novo líder de atingir os 15% nas eleições legislativas seguintes. Nessa altura, as próximas eleições ainda estavam ‘marcadas’ para 2026.

Desde aí, a análise aos números do agregador da Renascença mostra que os liberais foram mantendo uma relativa estabilidade, com tantas variações nas sondagens como qualquer outro partido.

Essa estabilidade durou até 12 de setembro, quando a Sondagem das Sondagens deu à Iniciativa Liberal a maior percentagem de intenções de voto desde a entrada do partido, 8,9%, graças a uma sondagem da Intercampus onde a IL tinha 9,2% das intenções.

Nove dias depois, uma sondagem ICS/ISCTE em que os liberais recolhem apenas 2,5% das intenções de voto atira a IL para o valor mais baixo na Sondagem das Sondagens desde que Rui Rocha tomou as rédeas do partido – 3,5%.

Agora, o partido que conseguiu 4,9% dos votos nas eleições de janeiro de 2022 tem 4,9% das intenções de voto na Sondagem das Sondagens.

Não é "anormal" um partido novo sofrer "uma grande variação"

Luís Aguiar-Conraria atribui uma importância reduzida às sondagens mais antigas, realizadas quando “não havia expectativa de eleições” e as “pessoas, de facto, não estavam a pensar da mesma forma que se pensa quando se tem de votar”.

“Uma pessoa que tem de votar faz mais considerações táticas de voto útil”, defende o consultor da Sondagem das Sondagens, a quem “não parece anormal” que um partido “novo como a IL sofra uma grande variação nas sondagens” com a aproximação de eleições.

Por outro lado, também é preciso olhar para o que aconteceu no partido desde o início de 2023. A eleição de Rui Rocha foi a primeira em que houve mais que um candidato à liderança, e o partido pareceu não sarar as divisões sublinhadas pelo processo eleitoral interno.

Meses depois da Convenção, em maio, Carla Castro abandonou a vice-presidência da bancada parlamentar liberal por não se estar a verificar um “efetivo exercício” do cargo. Em setembro, nas eleições regionais da Madeira, o partido falhou o objetivo de eleger dois deputados, e os sinais de desmobilização e saída de militantes começaram a tornar-se públicos.

Em dezembro, já com as legislativas de março no horizonte, a elaboração das listas de candidatos trouxe novos problemas. A IL ofereceu a Carla Castro o sétimo lugar na lista de deputados por Lisboa, “eventualmente quinto ou sexto”, e a ex-candidata a líder recusou a proposta.

Depois disso, foi preciso pouco mais de um mês para Carla Castro decidir abandonar a Iniciativa Liberal, numa decisão que descreveu como “refletida e ponderada”.

Como se faz a Sondagem das Sondagens?
Como se faz a Sondagem das Sondagens?

Liberais “entalados” entre AD e Chega

Luís Aguiar-Conraria aponta outro factor para os números incertos das intenções de voto nos liberais. Há “uma casa de sondagens que dá sempre bastante menos intenções de votos para a IL”, aponta o presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, que considera que essa “variabilidade” traz incerteza acerca da “verdadeira intenção de voto da IL”.

Contudo, o economista avalia que a IL “parece estar um bocado entalada” entre dois movimentos: o do voto útil na AD, “para que a direita consiga ser a mais votada”, e o voto de protesto “populista radical no Chega”.

“Só se fala, de certa forma, nesses dois partidos”, declara Luís Aguiar-Conraria, criando uma situação em que a IL tem tendência “a ficar apagada”.

Apesar disso, “ainda faltam bastantes semanas” para as eleições legislativas de 10 de março, e mais casos judiciais como o da Madeira podem “ser uma janela de oportunidade” para os liberais. O consultor da Sondagem das Sondagens acredita que essas situações, que passam uma mensagem “que o PSD e o PS, afinal, são muito parecidos”, podem permitir à IL “diferenciar-se” e dizer que fizeram bem em não se juntarem à AD.

“Eu acho que o resultado para a IL é muito incerto”, observa Luís Aguiar-Conraria, acrescentando que “vai depender muito do que for feito, ou do que se passar até ao dia das eleições”.

Uma eleição com lideranças renovadas

A grande maioria dos partidos apresenta-se às eleições de 10 de março com lideranças renovadas. A mudança mais recente é a do PS, que elegeu em dezembro Pedro Nuno Santos como secretário-geral, depois da demissão de António Costa na sequência da Operação Influencer.

Pedro Nuno Santos está a conseguir recuperar terreno nas sondagens desde que subiu à liderança socialista, mas o PS está quase 11 pontos percentuais abaixo do resultado das legislativas de 2022. Nessa altura, os mais de 41% dos votos no PS surpreenderam o país, que não esperava uma maioria absoluta.

PSD e CDS, que agora concorrem de braço dado com o PPM na coligação Aliança Democrática, também têm novos líderes - Luís Montenegro e Nuno Melo. Na Sondagem das Sondagens, os dois partidos chegaram a superar o resultado de janeiro de 2022 mas agora, coligados, estão os dois abaixo do resultado do PSD.

À esquerda, Mariana Mortágua também se estreia na liderança do BE. Apesar de ser a mais jovem entre os líderes, é conhecida desde a comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES. O agregador da Renascença tem colocado o Bloco consistentemente acima do resultado de 2022 (4,4%) - desde que Mortágua é líder, o valor mais baixo do BE foi 5,3%, tendo atingido um pico de 9,2% nas sondagens após a crise política de novembro.

O PCP também tem um novo líder, mas já desde novembro de 2022. As intenções de voto na CDU - a tradicional coligação do PCP com Os Verdes - têm superado apenas brevemente os 5% das intenções, e agora cifram-se em 3%, abaixo do resultado das anteriores legislativas.

PAN, Livre e Chega mantêm as lideranças que tinham em 2022. Contudo, enquanto Inês Sousa Real e Rui Tavares querem passar a ter grupos parlamentares, André Ventura terá poucas dúvidas de que vai ter mais deputados depois de 10 de março. O partido de extrema-direita cresceu 10,5 pontos percentuais na Sondagem das Sondagens desde 30 de janeiro de 2022.

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