Eleições Legislativas 2024

Provocação ou castigo? À boleia dos indecisos, Chega lidera sondagens entre os jovens

30 jan, 2024 - 06:35 • Diogo Camilo

Com a crise política, PS caiu cinco pontos percentuais na intenção de voto de jovens entre os 18 e 34 anos, enquanto o PSD caiu três pontos nas sondagens nestas faixas etárias. O número de indecisos disparou e o Chega ultrapassou socialistas e sociais-democratas. Geração Z e parte dos "millenials" são quem decide o voto mais tarde e especialistas avisam: “Uma intenção não é um voto.”

A+ / A-

Nas últimas eleições legislativas, se o PS garantiu maioria absoluta entre o voto dos mais velhos, foi nos partidos de direita que os jovens mais votaram. Até ao final de 2023, o PSD liderava a evolução das intenções de voto nas idades entre os 18 e os 34 anos, mas na última sondagem de 2023, os sociais-democratas foram ultrapassados pelo Chega - ainda antes de ser formada a Aliança Democrática.

Os vários especialistas ouvidos pela Renascença avisam que a faixa etária dos jovens é a que tem mais indecisos e a que mais se abstém. Acima de tudo, “intenção de voto não é voto”, argumentam.

Agregando todas as sondagens publicadas em 2023, através do mesmo modelo da Sondagem das Sondagens e para as amostras com idades entre os 18 e os 34 anos, a Renascença estimou intenções de voto de 22,5% para o Chega e de 21,9% para o PSD, que resultam num empate técnico devido às margens de erro.

Fora deste alcance está o PS, com 15,2%, seguido da Iniciativa Liberal, com 12,3%, e do Bloco de Esquerda, com 8,1%. O Livre surge numa liga própria, com 4,3%, enquanto PAN, CDU e CDS registaram menos de 2% de intenções de voto entre os jovens.

Chega (e indecisos) dispararam desde a demissão de Costa

O resultado é feito através da distribuição proporcional de indecisos, tendo em conta os votos em cada partido, de cada sondagem. Sem esta distribuição, e se os indecisos fossem transformados num partido, seriam a terceira força política entre os jovens, com 13,8%, o que espelha a volatilidade de decisões desta faixa etária, onde nenhum partido tem mais de 20% das intenções de voto.

Incluindo indecisos nos resultados, no final de 2023, o Chega tinha 19,7% das intenções de voto dos jovens, o PSD tinha 19%, o PS 13% e a Iniciativa Liberal 10,9%.

Veja o gráfico com a evolução destas intenções de voto, em que os indecisos surgem lado a lado com os partidos, como se fossem uma força política.

Mas nem sempre foi este o cenário. A explicação da subida do Chega nas sondagens entre jovens vai para lá da presença do Chega no TikTok - rede social que o partido já tinha antes da subida nas sondagens - e de entrevistas de André Ventura a youtubers - que foram divulgadas já depois da subida do partido nas sondagens.

O crescimento acentuado desta intenção voto entre a geração Z e de parte dos chamados "millenials" surge imediatamente a seguir à crise política. E reflete a maneira como os jovens olham para as sondagens - e para as eleições.

Até 7 de novembro, data em que se conheceu a Operação Influencer e António Costa anunciou a sua demissão, o PSD liderava o agregador de sondagens das intenções de voto entre os jovens, com 23%, seguido do PS, com 18,2%.

O Chega surgia em terceiro lugar, com 15%, e a percentagem de indecisos era de 8,3%, semelhante à percentagem de intenção de voto na Iniciativa Liberal.

Desde então, o partido de André Ventura subiu quase cinco pontos percentuais, enquanto o PS caiu quase o mesmo valor (cinco pontos percentuais). O PSD caiu três.

O que aconteceu à percentagem de indecisos? Disparou a um ritmo maior do que o do Chega, subindo até aos 13,8% - mais 5,5 pontos percentuais no espaço de dois meses e meio.

Também a Iniciativa Liberal subiu neste período mais de três pontos percentuais, para os 12,3%, enquanto o Bloco de Esquerda cresceu quase dois pontos, para os 8,1%.

Crise política levou jovens a “castigar mais o PS” e “recompensar o Chega”

Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) do ISCTE, deu de caras com esta tendência ao cruzar os quatro estudos publicados na SIC e Expresso no ano passado, mas não a identificou de imediato.

No trabalho “Bases Sociais das intenções de voto em 2023” conclui que a probabilidade de um eleitor votar no Chega reduz em função da idade, tendo sido o partido mais votado nas sondagens do ISCTE na faixa etária entre os 18 e 25 anos, enquanto que o PS foi a força política mais votada dos 45 aos 88 anos.

Em entrevista à Renascença, confessa não ter uma “explicação óbvia” para a subida do Chega desde a demissão de Costa nem para a queda do PS nas faixas mais jovens.

“É um facto novo, de que não me tinha apercebido. É um fenómeno interessante. No fundo, é a ideia de que a crise política acabou por levar os jovens a castigar mais, de alguma maneira, o Partido Socialista e, pelos vistos, a recompensar mais o Chega”, afirma.

No entanto, o politólogo assinala que “uma coisa é a intenção de voto e que outra coisa é o voto”.

“São coisas diferentes. Se alguém chega a nossa casa, nos telefona ou nos contacta através de email e nos pergunta em quem tencionaríamos votar é algo que facilita muito a expressão de uma vontade, às vezes de uma certa provocação, que não é necessariamente aquilo que se acaba por fazer”, explica, defendendo que existe um desfasamento entre aquilo que é a intenção e o que é o comportamento na hora do voto.

PS subiu entre os mais velhos após a crise política

A propósito da volatilidade dos votos, e comparando com a restante faixa etária, a Renascença analisou os resultados das sondagens de 2023 para todos aqueles que têm 35 e mais anos. A conclusão é que não se verifica nem o fenómeno de queda do PS, nem a subida do Chega, nem a percentagem de indecisos após a crise política.

Aplicando o mesmo método, em que é utilizada a amostra de todas as sondagens de 2023 e é feita a distribuição de indecisos de forma proporcional, o PS reúne 33,2% das estimativas de intenção de voto, enquanto o PSD recolhe 27,6% dos votos e o Chega 13,1%.

A 7 de novembro, a estimativa nesta faixa etária para o PS era de 31,1%, o que significa que os socialistas subiram 2,1 pontos percentuais após a crise política e a demissão de António Costa.

Ao mesmo tempo, o PSD subiu mais de um ponto e o Chega manteve-se quase inalterado. Iniciativa Liberal, CDU, PAN e Bloco de Esquerda registaram as maiores quedas.

Se a estas intenções acrescentarmos o peso dos indecisos, o PS regista 29,2% das intenções de voto para a população com mais de 35 anos, enquanto o PSD tem 24,3% e o Chega 11,4%.

Os indecisos teriam o peso de quarta força política, se fossem um partido, com 9,8% - subindo 1,3 pontos percentuais desde a demissão de Costa.

Os partidos fundadores da democracia - PS, PSD, CDS e CDU - recolhem menos intenção de voto entre os jovens, em relação aos resultados para faixas etárias mais velhas, enquanto que os partidos recém-criados - Chega, Iniciativa Liberal, Bloco de Esquerda e Livre - registam melhores resultados.

A única exceção é o PAN, que regista uma maior intenção de voto em maiores de 35 anos do que entre os jovens dos 18 aos 34 anos.

Como votam os jovens nas sondagens? Com mais rapidez

Para Luís Aguiar-Conraria, presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e responsável pela metodologia da Sondagem das Sondagens, é necessária uma “análise mais fina” para estudar as transferências de voto entre sondagens e eleições, mas admite à Renascença que, para o Chega subir nas intenções de voto, “a correlação com o PS existe”.

“Isto vai-se refletir no dia das eleições ou não? Esta é uma dificuldade das sondagens, porque a maioria das pessoas diz que vai votar. Será que o Chega consegue mobilizar os jovens para irem votar ou será que vão abster-se mais do que outras faixas etárias?”, questiona, indicando que nas sondagens a taxa de abstenção estimada é “muito mais baixa do que é na realidade”.

Já António Salvador, diretor da empresa de sondagens Intercampus, lembra que os mais jovens “tomam decisões com maior rapidez e facilidade” do que os mais velhos.

“É da natureza do próprio cidadão, da idade que tem, da sua experiência de vida, e o voto é capaz de ser mais volátil”, acrescenta à Renascença.

O antigo presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Estudos de Mercado e Opinião (APODEMO) refere também que a abstenção é maior nesta faixa etária: “Com base naquilo que tem acontecido, provavelmente a abstenção não é uniforme em todos os escalões etários e é maior junto dos mais jovens.”

Numa das sondagens após a demissão de António Costa, divulgada pela Universidade Católica, a percentagem de jovens indecisos ultrapassou os 30%, enquanto que o PS registava apenas 6% das intenções de voto. No mesmo inquérito, a faixa etária de +65 anos tinha uma percentagem de indecisos de 17%, enquanto na faixa etária de 35 a 64 anos havia 22% de abstenção.

Como votam os jovens nas eleições? Decidem tarde e à direita

Para observar melhor como votam os jovens, Pedro Magalhães e o investigador João Cancela debruçaram-se sobre os dados da sondagem à boca das urnas nas legislativas de 2022, que mede não apenas o voto, mas também o sexo, a idade e a instrução de todos os inquiridos.

A amostra é de quase 39 mil pessoas, mais do que todas as amostras de sondagens publicadas em 2023 juntas.

O estudo concluiu que o PSD foi o partido mais votado entre os menores de 25 anos, enquanto metade do seu eleitorado da Iniciativa Liberal, do PAN e do Livre estava nos mais jovens. Já o PS tinha nos maiores de 55 anos metade dos seus eleitores.

Na altura, os mais jovens representavam apenas 26% do eleitorado do Chega - a menor percentagem de todos os partidos recém-criados.

Ao mesmo tempo, segundo o estudo pós-eleitoral do ISCTE, os jovens com idades entre os 18 e 24 anos e a faixa etária entre os 25 e os 44 anos foram as que admitiram em menor percentagem ter decidido o voto antes da campanha eleitoral (61% e 58%, respetivamente).

O mesmo estudo estabelecia ainda outra relação: as pessoas com simpatia partidária ou com posição ideológica à direita também diziam que decidiam mais tarde o seu voto.

PS e CDU foram os partidos onde uma maior percentagem de votantes decidiu o voto com mais de um mês de antecedência da eleição (80% e 87%, respetivamente). Além deles, também tiveram a maioria dos votantes do PSD (70%) e do Chega (52%) decidiram o voto com essa antecedência.

Na Iniciativa Liberal acontece o oposto: foi o partido com a menor percentagem de votantes a decidir antes de a campanha começar (34%) e com a maior percentagem de votantes a decidir durante a campanha (65%).

Outra das conclusões foi que, pela primeira vez, homens e mulheres não votaram de forma igual, com Portugal a aderir ao “gender gap” moderno — em que o voto feminino se coloca mais à esquerda do que o voto masculino.

PS, BE e PAN registaram um apoio desproporcionalmente mais alto entre as mulheres que votaram, enquanto os homens se aproximaram de PSD, IL, CDU e (especialmente) Chega.

Quase dois em cada três dos eleitores que votaram no Chega são homens, enquanto duas em cada três votantes do PAN foram mulheres.

No PS, a diferença de voto entre homens e mulheres foi de oito pontos, enquanto no PSD os homens votaram mais que as mulheres, numa diferença de dois pontos.

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Anónimo
    02 fev, 2024 Lisboa 17:50
    50 anos de esquerda? O "ZE" é tão burro que deve conseguir emprego numa empresa de sondagens, já que essas percebem tanto de estatística quanto eu percebo mandarim.
  • Anónimo
    02 fev, 2024 Lisboa 17:48
    Eu fiz uma sondagem e 100% dos inquiridos acha que as sondagens mentem. Não acreditam? Pois eu também não acredito nas vossas sondagens! Falharam em 2022 e vão voltar a falhar agora! Escumalha!
  • Joaquim Correto
    31 jan, 2024 Paços 12:10
    Em relação ao titulo da notícia, é inocência e inexperiência!
  • PAULO JORGE DA SILVA
    30 jan, 2024 POVOA DE VARZIM 17:36
    Sondagens são servem os interesses do PS e PSD mas já não conseguem lavar cabeça das pessoas
  • ze
    30 jan, 2024 aldeia 12:07
    Portugal mudou.Mudou porque após 50 anos de governos de esquerda,a vida ficou pior, tudo se foi degradando, a saúde, a educação, a justiça e por fim a habitação,quanto ao emprego, tornou-se precário e mal remunerado, a única coisa que aumentou, foram os impostos, criaram mais taxas e tachinhas etc....uma carga enorme de impostos.As gerações mais idosas, habituadas ao conceito de promessas de abril,ora votavam esquerda, ora centro-esquerda,com o passar dos anos, a corrupção instalou-se nos partidos da governação, a justiça, lenta e ineficaz,deixava-os incólumes e libertos, assim, se ía passando, os mais jovens depois de terem estudado e tirado cursos superiores, começaram a imigrar, pois cá na terra deles não encontravam resposta, até que.....surge um novo partido, que começa a denunciar tudo e todos, conta as verdades, a comunicação social tenta por todos os meios calá-lo,(a liberdade de imprensa!.....)ao mando de quem manda,só pode ser assim compreendido, mas toda esta situação, de casos e casinhos e de corrupção tanto em Portugal continental,como agora no governo regional da madeira,vai mudar.Só será surpresa que o Chega ganhe as eleições, quem ainda está a agarrar o poder e as suas mordomias.

Destaques V+