E a história dos EUA repete-se no Brasil? Quatro pontos para perceber as semelhanças e diferenças

08 jan, 2023 - 22:55 • Fábio Monteiro

Passaram dois anos e dois dias desde a tragédia norte-americana. Agora, chegou a vez da tragédia brasileira. E o resultado é muito semelhante. Porventura, um dos protagonistas e “atiçadores” do golpe em solo norte-americano estará também envolvido no caos no Brasil.

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É difícil não ter a sensação de deja vu. A invasão, este domingo, do Congresso, do Palácio do Planalto (a sede do governo brasileiro) e do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, por apoiantes de Jair Bolsonaro, é, em mais do que um sentido, uma réplica do que se sucedeu, a 6 de janeiro de 2021, no capitólio, nos EUA.

Passaram dois anos e dois dias desde a tragédia norte-americana. Agora, chegou a vez da tragédia brasileira. E o resultado é semelhante.

Porventura, um dos protagonistas e “atiçadores” do ataque em solo norte-americano, Steve Bannon, estará também envolvido no caos no Brasil. Mas vamos por pontos, porque também há diferenças importantes.

1.Uma invasão tardia

Olhando para o calendário eleitoral, a invasão do capitólio nos EUA ocorreu num momento muito diferente da do Brasil. Os apoiantes de Trump acorreram a Washington no dia em que o resultado das eleições presidenciais ia ser reconfirmado e certificado, Biden ainda nem tinha tomado posse.

A invasão dos seguidores de Jair Bolsonaro ocorre num momento muito mais tardio no calendário. Lula da Silva tomou posse como Presidente do Brasil há uma semana e Jair Bolsonaro está fora do país. Aliás, está na Flórida, nos Estados Unidos da América.

Apoiantes de Bolsonaro invadem Congresso do Brasil
Apoiantes de Bolsonaro invadem Congresso do Brasil

2. O Trump “tropical” está fora do país

Durante anos, Jair Bolsonaro foi descrito como o “Trump tropical”. Ora, com a invasão do Congresso em Brasília, os dois ex-presidentes ganharam mais um elemento de parecença. Mas também uma diferença.

Apesar de não os ter acompanhado, Donald Trump esteve em Washington a atiçar os ânimos dos apoiantes no dia da invasão ao Capitólio. Jair Bolsonaro não está sequer no Brasil. Não é-lhe conhecido nenhum apelo público a uma invasão em Brasília.

Até à hora de publicação deste artigo, o ex-presidente brasileiro ainda não publicou nenhuma mensagem direcionada aos seus apoiantes. Continua ainda em silêncio.

Há dois anos, todas as contas de Trump nas redes sociais foram suspensas para que este não criasse mais caos junto dos seus apoiantes.

3. A cumplicidade da polícia

A invasão ao capitólio nos EUA aconteceu, mas as forças policiais norte-americanas resistiram. Um agente de segurança morreu (Trump está a ser processado por isso) e três civis. No caso brasileiro, tudo indica que a invasão terá ocorrido com a conivência das forças policiais.

O jornal “ Estadão” revelou fotografias de agentes a abandonarem as grades de segurança e até a comprarem água de coco, numa banca de rua, enquanto os manifestantes entravam no edifício do Supremo Tribunal.

Há registo também de agentes a tirar selfies com manifestantes durante a invasão.

O secretário de Segurança do Distrito Federal de Brasília, Anderson Torres, é um ex-ministro de Bolsonaro, está fora do país (de visita aos EUA) e tinha conhecimento que, para este domingo, estava prevista uma grande manifestação. Há semanas que grupos de apoiantes de Bolsonaro estavam acampados em vários pontos da cidade.

O Governo de Lula da Silva já pediu a detenção do secretário da Segurança do Distrito Federal de Brasília.

4. Steve Bannon. Outra vez.

Na retaguarda de muitas das ações políticas de Trump e, em particular da sua eleição em 2016, esteve Steve Bannon. O estratega político, nos últimos anos, expandiu o seu leque de clientes e interesses.

De acordo com um artigo recente do “Washington Post”, Bannon é hoje um dos conselheiros de Bolsonaro. No dia 1 de novembro, após a derrota de Bolsonaro na urnas, Bannon lançou a ideia de uma “primavera brasileira” (paralelismo com a primavera árabe) devido à recusa dos apoiantes de Jair Bolsonaro.

“A minha pergunta é: é esse o começo da primavera brasileira? Porque o povo está se levantando e ele não concedeu [não aceitou o resultado]”, disse.

Dias antes do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, publicou um vídeo de Steve Bannon nas redes sociais em que este ele diz que a “eleição foi roubada” e defende protestos nas ruas.

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