10 fev, 2022 - 06:28 • José Bastos
A tensão entre a Rússia e a Ucrânia tem um trajeto partilhado que remonta à Idade Média, no período do antigo estado da Rússia de Kiev, nos territórios eslavos do leste. Esta poderá ser uma das razões pelas quais o presidente russo, Vladimir Putin, se refere aos dois países como tendo “um só povo”.
Mas, dado objetivo, Rússia e Ucrânia estão divididas há séculos, o que alimentou o surgimento de duas línguas e duas culturas com elementos comuns, mas distintas. Quando a Rússia se desenvolveu politicamente como império, a Ucrânia não estabeleceu um estado próprio. No século XVII, uma vasta região do que é hoje o território ucraniano. Após a desintegração do império russo em 1917, a Ucrânia viveu um breve período de independência, antes da União Soviética o reconquistar à força.
A Renascença recorda os acontecimentos e as datas chave de um conflito que não tem abrandado desde 2014, depois de um levantamento popular em Kiev ter levado ao derrube do presidente pró-russo Viktor Yakunovitch e a Rússia ter anexado a península da Crimeia.
Uma guerra de baixa intensidade deflagrou nas regiões pró-russas de Donetsk e Lugansk entre milícias separatistas – com o apoio de Moscovo – e o exército ucraniano. Em 2015 entrou em vigor um cessar-fogo acordado em Minsk que tem sido continuamente desrespeitado.
Divulgação deste relatório coincide com um momento(...)
Em dezembro, a Ucrânia, Rússia e Bielorrússia assinam um acordo que estabelece o fim da União Soviética, mas Moscovo pretende continuar a influenciar a região criando a Comunidade de Estados Independentes (CEI).
O Kremlin apostava no fornecimento do gás natural a baixos custos para manter a Ucrânia e a Bielorrússia na sua esfera de influência. A década de 90 decorreu sem incidentes, com Moscovo a enfrentar a crise económica e o conflito na Chechénia.
Kiev e Moscovo assinam o tratado de amizade, cooperação e parceria, conhecido como o “Grande Tratado” com a Rússia a reconhecer as fronteiras oficiais da Ucrânia, incluindo a Crimeia, região de maioria étnica russa.
A primeira grande crise surge já com Putin no poder. A Rússia inicia a construção de uma barragem no estreito de Kerch, junto à ilha de Turch, entre o território russo e a península da Crimeia. A construção foi suspensa depois um encontro entre os dois presidentes, mas as relações começaram a ficar tensas. Até 2010 a Rússia haveria de cortar o fornecimento de gás em duas ocasiões.
George W. Bush defende o início do processo de adesão da Ucrânia à NATO, apesar dos protestos de Putin. A Alemanha e a França minam os planos de Bush na cimeira da NATO em Bucareste, não ficando estabelecidos prazos para o processo.
As relações agravaram-se durante as presidenciais ucranianas com a Rússia a apoiar "o seu" candidato Viktor Yanukovych.
Na reposta a um acordo de associação com a União Europeia, Moscovo exerce forte pressão económica sobre Kiev e Yanukovich é forçado a congelar o entendimento.
Em fevereiro, o Governo russo impôs um embargo sobre exportações ucranianas o que alimentou protestos em massa em toda a Ucrânia. Depois de dois meses de manifestações pacíficas, prosseguiram mais de dois meses na praça Maydán, em Kiev. A 18 de fevereiro, Kiev vive uma das jornadas mais violentas com as forças de segurança a matar pelo menos 100 pessoas nos protestos.
A 21 de fevereiro, o presidente Yanukovich e os principais líderes da oposição chegam a um acordo para cessar a violência, que inclui novas eleições. No dia seguinte, a continuação da brutal repressão policial obriga Yanukovich a fugir de madrugada para a Rússia e a oposição toma conta da governação.
A 16 de março de 2014, contra a vontade de Kiev é realizado um referendo na Crimeia – onde a maioria é russa – em que com uma participação de 82,7% dos eleitores, cerca de 97% opta pela anexação a Moscovo. A União Europeia não reconhece o resultado do referendo.
A 18 de março, Putin assina a incorporação da Crimeia e assegura que a península “sempre foi parte da Rússia”.
Em abril, depois da anexação da Crimeia, um ponto de viragem na crise, forças militares russas começaram a mobilizar uma revolta separatista na região de Donbass no leste da Ucrânia e anunciaram, depois de referendos, “repúblicas populares” com simulacros de estados em Donetsk e Lugansk.
O Governo de Kiev lança uma operação militar de resposta e Moscovo apoia os separatistas numa guerra que já causou a morte de mais de 14 mil pessoas entre militares e civis.
A 17 de julho de 2014, um avião comercial que realizava um voo da Malaysia Airlines foi derrubado por um míssil no território leste da Ucrânia controlado pelos pró-russos, causando a morte dos 300 passageiros a bordo.
A investigação final da queda do Boeing 777 feita pela Holanda – a maioria dos passageiros a bordo era de nacionalidade holandesa – sustentou que o aparelho foi derrubado por um míssil russo, mas Moscovo sempre negou qualquer responsabilidade.
O presidente recém-eleito, Petro Poroshenko, reuniu com Putin em França, na ocasião dos 70 anos da invasão da Normandia, abrindo conversações para um acordo sob mediação da França e da Alemanha.
O conflito foi oficialmente encerrado em Minsk, em setembro, com a assinatura de um cessar-fogo, mas os milicianos pró-russos violam a trégua uma semana depois.
O comediante Viktor Zelenski, que concorreu prometendo colocar um ponto final no conflito no leste do país, bate Poroshenko na segunda volta das presidenciais com mais de 70% dos votos.
A última vez que Kiev e Moscovo se sentaram à mesma mesa foi em dezembro de 2019 em Paris, numa cimeira designada por “Formato Normandia”/Grupo de Contato da Normandia promovida por Emmanuel Macron e Angela Merkel. Putin acusa Zelensky de não cumprir o Tratado de Minsk.
Ucrânia
O ministro dos Negócios Estrangeiros crê que a "di(...)
As cimeiras entre Washington e Moscovo e entre a Rússia e a NATO terminam sem resultados a 11 e 12 de janeiro. A 18, os Estados Unidos advertem para a possibilidade da Rússia atacar a Ucrânia.
A 21 de janeiro, o responsável pela diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken e o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, encontram-se em Genebra para suavizar a tensão. Ambos concordam em continuar na via diplomática e Washington promete responder numa semana às preocupações russas sobre a possível adesão de Kiev à NATO.
A 26 de janeiro, os Estados Unidos e a NATO entregam à Rússia as suas propostas por escrito. No documento de Washington são descritas áreas onde Joe Biden vê potencial para regressar às negociações com Moscovo, como na transparência, estabilidade e controlo de armamento, mas avisa que a exigência de afastar Kiev da NATO não é aceitável. Por sua parte, a NATO indica estar pronta para reunir de novo com a Rússia para discutir áreas de segurança que podem beneficiar tanto a Moscovo com ao Ocidente.