06 jan, 2021 - 19:15 • Filipe d'Avillez , André Rodrigues com redação
Após os acontecimentos caóticos e a violência de quarta-feira no Capitólio, que fez quatro mortos, o Congresso norte-americano confirmou a vitória Joe Biden e de Kamala Harris nas presidenciais de 3 de Novembro.
O democrata Joe Biden contabilizou 306 votos (quando eram necessários 270 para a vitória), enquanto o republicano ficou apenas pelos 232.
Apesar de discordar com o resultado, Donald Trump promete uma transição pacífica a 20 de janeiro.
Na abertura da sessão, na quarta-feira à noite, o vice-Presidente norte-americano, Mike Pence, lamentou um "dia sombrio" e condenou "as violências".
"Mesmo após uma violência e um vandalismo sem precedentes neste Capitólio, os representantes eleitos do povo dos Estados Unidos são de novo reunidos, neste mesmo dia, para defender a Constituição", sublinhou Pence. "Não ganharam", disse, dirigindo-se aos apoiantes do Presidente cessante, Donald Trump.
A Casa Branca anunciou que a Guarda Nacional, agentes do FBI e agentes dos serviços secretos foram ativados.
De acordo com Sociedade Histórica do Capitólio, este foi o pior ataque ao icónico edifício desde que o exército britânico o queimou, em 1814.
Apenas 12 dos 538 votos haviam sido certificados quando, durante uma pausa para discutir uma objeção no Arizona, os manifestantes pró Trump invadiram o edifício do Congresso.
Seguiram-se quatro horas de cerco ao Capitólio com vidros partidos, gabinetes vandalizados e confrontos com a polícia dos quais resultaram 52 detenções e quatro vítimas mortais, anunciou a polícia citada pela agência de notícias Associated Press (AP).
A polícia da capital dos Estados Unidos usou armas de fogo para proteger congressistas e a AP já tinha dado conta da morte de uma mulher, alvejada no interior do Capitólio. A mesma força adiantou agora que mais três pessoas morreram no hospital.
A polícia também deu conta de que tanto as forças de segurança, como os apoiantes de Trump utilizaram substâncias químicas durante as horas de ocupação do edifício do Capitólio.
A mulher foi alvejada no início de quarta-feira quando a multidão tentou arrombar uma porta barricada no Capitólio, onde a polícia estava armada do outro lado. A mulher foi hospitalizada com um ferimento de bala e morreu mais tarde.
Dispersados os protestos, foi retomada a sessão do Congresso, por volta da 01h00 em Portugal Continental.
Joe Biden tomou uma posição pública, condenado o ato. "A nossa democracia está sob um ataque sem precedentes", afirmou, apelando a Donald Trump que "vá à televisão agora que defenda a constituição e ponha fim a este cerco". Trump divulgou poucos minutos depois a sua própria mensagem, que ficou muito aquém do que Biden tinha pedido, em que pede aos manifestantes que voltem para casa mas insiste que compreende a sua dor e a sua frustração.
Inicialmente, a polícia usou primeiro gás pimenta e depois gás lacrimogénio para tentar dispersar os manifestantes, mas sem sucesso. A violência levou a autarca da cidade a declarar a imposição de recolher obrigatório em Washington D.C. a partir das 18h, 23h em Lisboa, até dia 21 de janeiro.
Há notícia, também, de que outras sedes de poder no país também foram invadidos por manifestantes, incluindo os capitólios do Kansas e da Geórgia.
Há protestos em vários outros locais e incidentes a registar em alguns deles, incluindo Ohio e ainda em Washington foi encontrado um engenho explosivo na sede do Comité Nacional Republicano, que foi evacuado, bem como a sede do Partido Democrata, onde foi encontrado um pacote suspeito.
Depois da invasão do Capitólio, e apesar de ter feito um discurso incendiário horas antes, Trump recorreu ao Twitter para pedir que os protestos sejam pacíficos e que não houvesse conflitos com a polícia e a Guarda Nacional. "Por favor apoiem a Polícia do Capitólio e as Forças de Segurança. Estão verdadeiramente do lado do nosso País. Mantenham-se pacíficos!"
Mitt Romney, o principal rosto da oposição interna a Trump no Partido Republicano, já culpou diretamente o Presidente pelo que se está a passar, dizendo que foi ele quem causou esta "insurreição".
O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, também comentou os incidentes na sua conta de Twitter. "Acompanho com preocupação os desenvolvimentos em #Washington. São imagens inquietantes. O resultado das eleições deve ser respeitado, com uma transição pacífica e ordeira do poder. Confio na solidez das instituições democráticas dos #EUA", diz.
Antes, durante a tarde, centenas de milhares de pessoas ouviram Donald Trump dizer que os americanos estão fartos do que considera ser uma fraude eleitoral que levou à vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais.
A multidão de apoiantes juntou-se em torno do Capitólio precisamente no dia em que se prevê que o congresso formalize a eleição de Biden.
Os manifestantes, que incluem alguns grupos de extrema-direita com um historial recente de violência, como os “Proud Boys”, contestam o resultado das eleições de novembro e apoiam as queixas de Trump de que houve uma fraude eleitoral.
Dirigindo-se à multidão, Trump gritou que “não vamos aturar mais isto” e recorreu a palavrões para descrever as vitórias do Partido Democrata nas eleições.
“Não se assume uma derrota quando houve roubo”, disse o ainda Presidente, clamando que “o nosso país está farto e não vamos aturar mais isto”.
Na sessão que decorre e onde será formalizada a eleição de Biden pelo Colégio Eleitoral, Mike Pence abriu os trabalhos reafirmando a sua desconfiança em relação ao processo eleitoral mas salvaguardando que não iria unilateralmente contribuir para reverter a decisão do Colégio Eleitoral.
Do lado de fora, Trump dirigiu-se a Pence pedindo-lhe que faça o que tiver ao seu alcance para dificultar o processo. “Mike Pence, espero que defenda a nossa constituição e o bem do seu país”, disse o Presidente. “Se não o fizer ficarei muito desiludido consigo, digo-lhe já!”
A reação de Pence à desilusão manifestada por Trump tornou-se aparente mais tarde quando mudou a fotografia de capa da sua conta do Twitter para uma de Joe Biden e de Kamala Harris.
Donald Trump foi eleito em 2016 e tornou-se formalmente Presidente em janeiro de 2021. Em novembro passado perdeu as eleições para Biden, pelo que não chegará a cumprir um segundo mandato.
[Notícia atualizada às 9h00 de quinta-feira]