13 nov, 2023 - 07:00 • José Pedro Frazão , Susana Madureira Martins , Diogo Camilo
A WebSummit faz em 2023 uma prova de sobrevivência. O líder histórico Paddy Cosgrave já não vai subir ao palco, duas semanas depois de uma tempestade motivada pelas suas declarações sobre o conflito entre Israel e o Hamas.
A estrutura sentiu o abanão, mas sobreviveu ao abalo. Tudo já estava montado por uma máquina que agora tem Katherine Maher como presidente executiva.
As comparações serão inevitáveis, pelo menos, em palco, onde o irlandês dominava a comunicação do evento com boas vendas, ao ponto de a organização ter comercializado as suas icónicas camisolas a 700 euros por unidade.
A sobrevivência da WebSummit faz-se com os números habituais. 70 mil pessoas são esperadas até quinta-feira na FIL e na Arena do Parque das Nações, atingindo mais uma vez o limite físico do espaço.
A meio do contrato de 10 anos com Lisboa, a edição deste ano de WebSummit sobrevive também à fasquia que apenas Marcelo Rebelo de Sousa verbalizou em 2021. O Presidente da República queria 100 mil pessoas em 2022, mas estará longe do desejo, pelo segundo ano consecutivo. Tão longe que até Marcelo, de malas feitas para a Guiné-Bissau, vai faltar à sessão de encerramento onde agitava a plateia do Arena com mensagens finais em inglês. A menos que surja inopinadamente num dos primeiros dias da WebSummit - o seu nome nunca foi retirado da lista de oradores e Marcelo está em Portugal até meio da semana - o Presidente português junta-se a Paddy Cosgrave como um dos ausentes de peso do palco central da cimeira tecnológica do Parque das Nações, tal como a Renascença avançou.
A edição deste ano fica também marcada pelo impacto da crise política em Portugal. António Costa não consta da lista de presenças esperadas cuja gestão governativa está entregue a António Costa Silva. O ministro da Economia está escalado para as sessões de abertura e fecho da conferência, com um debate pelo meio.
No plano inicial, consta também Ana Catarina Mendes, apontada a um debate sobre racismo e em defesa de um ambiente inclusivo no "ecossistema" tecnológico. A operação "Influencer" estará na base da retirada do nome da secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia, que figurava como oradora num debate da WebSummit.
Para já mantêm-se alinhadas as presenças em debates dos Secretários de Estado da Digitalização e do Comércio Externo, Mário Campolargo e Bernardo Ivo Cruz, respectivamente. No entanto, o histórico das edições da WebSummit é composto de cancelamentos de última hora da presença de governantes portugueses.
Israel anunciou o boicote à Web Summit na semana p(...)
A organização esteve nos últimos dias a retocar o alinhamento, procurando reforçar o lote de oradores. Longe do mediatismo de nomes como Edward Snowden ou o já desaparecido Stephen Hawking, a abertura da WebSummit limita-se a aumentar o lote de oradores portugueses. A António Costa Silva, junta-se a presença incontornável de Carlos Moedas - o seu antecessor no cargo e atual ministro das Finanças Fernando Medina também não consta do programa. Do universo tecnológico português com cartadas internacionais , sobem ao palco Vasco Pedro, da UNBABEL e Cristina Fonseca do fundo de capital de risco Índico Capital Partners. O único nome sonante internacional é Jimmy Wales, um repetente na cimeira tecnológica criada por Cosgrave. Dado curioso - Wales fundou a Wikipedia onde fez carreira a atual CEO da WebSummit e ambos são os únicos estrangeiros da sessão de abertura.
As mudanças no alinhamento foram uma força das circunstâncias, depois de afirmações do cofundador da WebSummit, Paddy Cosgrave, sobre o conflito que envolve Israel e o Hamas, terem levado a um boicote por parte das grandes tecnológicas, como a Alphabet (dona da Google), a Meta (dona do Facebook e Instagram) e a Amazon, e afugentado nomes como os atores Gillian Anderson e Joseph Gordon-Levitt.
No entanto, nenhuma das big tech explica as razões por detrás do boicote.
Em resposta à Renascença, a Meta não acrescentou mais além de que não marcará presença na WebSummit deste ano, não confirmando se a presença em futuras edições do evento estão em causa.
A Google, parceira da conferência, respondeu taxativamente: "A Google não vai estar presente na WebSummit."
A Intel também confirmou à Renascença que não irá estar presente, não adiantando justificações. E a Siemens adianta ter "revisto a situação", determinando que a empresa não estará representada na WebSummit de 2023
"A nossa simpatia vai para todas as vítimas da escalada de violência em Israel e na Faixa de Gaza. Condenamos a ação terrorista contra Israel no dia 7 de outubro", refere o porta-voz da empresa alemã.
Contando de novo com uma significativa presença ucraniana, a edição deste ano promete muitos debates sobre Inteligência Artificial, energia, sustentabilidade e comércio eletrónico. Entre os nomes mais mediáticos constam os de Chelsea Manning, cujas denúncias deram origem aos Wikileaks ou Stella Assange, advogada e companheira de Julian Assange, que divulgou esses telegramas diplomáticos. Aguardam-se com expectativa as intervenções de Meredith Whittaker, da aplicação de mensagens Signal, da ativista climática Sage Lenier, do ativista norte-americano De Ray McKeeson ou da denunciante do escândalo Cambridge Analytica, Brittany Kaiser. A WebSummit vai receber uma parada de antigos jogadores de futebol como Sol Campbell, Roberto Carlos, Gilberto Silva ou Cesc Fabregas, para além do repetente André Villas-Boas. A atriz Morena Baccarin e o realizador Neil Jordan marcam também presença numa edição que repete nomes nacionais como Cristina Ferreira ou os Calema.
Alameda dos Oceanos e Avenida do Índico, entre a A(...)
2600 startups estarão presentes, um terço delas lideradas por mulheres. A organização, baseada num contingente de 300 funcionários e de 6000 subcontratados e voluntários - estima a presença de mais de 900 investidores. Nos Pavilhões vai ser possível encontrar participantes de 160 países e de regiões e cidades nacionais como Açores, Fundão e , pela primeira vez, o Porto.
Como é habitual, a WebSummit irá causar perturbações na circulação automóvel no Parque das Nações. A PSP alerta para o corte na circulação até quinta-feira em toda a Alameda dos Oceanos e na Avenida do Índico, entre a Alameda dos Oceanos e a Avenida Dom João II, onde será garantido o acesso ao parque e a operações de cargas e descargas. A Rua do Bojador será encerrada à circulação entre a Rotunda do Bojador e a Alameda dos Oceanos. O uso de transportes públicos é fortemente aconselhado pelas autoridades e pela organização.