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Irmãos Eustáquio partilham sonho canadiano no Mundial 2026

25 abr, 2019 - 09:25 • Eduardo Soares da Silva

​Presença garantida no Campeonato do Mundo levou Stephen Eustáquio a trocar Portugal, depois de ter representado os sub-21, pelo Canadá. O irmão mais velho, Mauro, que fez toda a carreira no futebol norte-americano, partilha o sonho e explica o desenvolvimento do futebol no Canadá.

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Stephen Eustáquio vai representar a seleção principal do Canadá, depois de representar a seleção portuguesa sub-21 na qualificação para o Europeu 2019. A presença garantida no Mundial 2026, que o Canadá organiza com México e Estados Unidos da América, e a vontade de representar o país onde nasceu foram os motivos da escolha.

O médio chamou à atenção no Leixões, em 2017/18. Saltou para o Chaves, depois de apenas meia temporada em Matosinhos, representou a seleção sub-21 e rumou ao Cruz Azul, do México. Recentemente, anunciou que vai representar a seleção do Canadá e explicou a decisão na primeira entrevista desde que rumou ao futebol mexicano, em exclusivo a Bola Branca.

“A seleção canadiana sempre foi a prioridade, até porque não esperava representar a seleção sub-21 portuguesa. Já tinha representado os sub-17 do Canadá e foi sempre o país que quis representar. Quando comecei a subir na carreira, vi as coisas de outra forma. O Romeu, adjunto de Rui Jorge, dos sub-21, falou comigo e, depois de tantos anos em Portugal, senti que poderia jogar por Portugal. Recentemente, o Canadá chamou-me, pensei muito e decidi continuar a minha carreira internacional no país onde nasci”, começa por contar.

Stephen pensa a longo-prazo e não esconde que o Mundial 2026, organizado pelo Canadá, México e Estados Unidos da América, foi também um motivo que o levou a escolher a seleção: "O Mundial foi um dos motivos da minha opção. Vamos ter presença obrigatória e vou trabalhar muito para estar lá. É um sonho marcar presença num torneio dessa dimensão."

Mauro Eustáquio, irmão, atualmente no Cavalry FC, é internacional sub-23 pelo Canadá e compreende a decisão de Stephen, vários contactos do selecionador, e acredita numa grande oportunidade de se mostrar ao mundo: “O Stephen nasceu lá, viveu lá a sua infância, foi onde deu os primeiros toques numa bola de futebol. O selecionador já falava com ele há algum tempo, sentiu que era uma oportunidade de voltar às raízes, e vamos receber o Mundial daqui a uns anos. É uma boa oportunidade de singrar num palco internacional”.

O sonho da seleção é partilhado por Mauro, três anos mais velho, que deixou o futebol português após uma temporada de sénior no Sporting Pombal, em 2014. Entretanto, representou o Ottawa Fury, FC Edmonton, Penn FC e, atualmente, o Cavalry FC.

“Sempre quis representar uma seleção. Apesar de ter nascido em Portugal, as minhas primeiras memórias de futebol são todas do Canadá. A minha primeira camisola foi da seleção canadiana. Sempre tive uma ligação muito grande ao país, e orgulho-me muito disso. Qualquer profissional sonha em chegar à seleção do seu país. Tive uma lesão complicada e fiquei de fora 10 meses. Agora, quero voltar à minha forma, ganhar confiança e espero chegar a esse patamar, se jogar. O selecionador depois fará as suas escolhas”, diz o médio de 26 anos.

Stephen acredita que “Canadá é futura potência da CONCACAF”

A seleção do Canadá ocupa, atualmente, o 78.º posto no “ranking” da FIFA e é apenas a oitava melhor seleção da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (CONCACAF), atrás do México, Estados Unidos da América, Costa Rica, Jamaica, Honduras, El Salvador e Panamá. Apesar de nunca ter sido uma potência e não contar com nenhuma presença em Mundiais, Eustáquio garante que o futuro do futebol canadiano é risonho.

“Antes, estávamos estagnados. Mas, com algumas pessoas novas na seleção, o projeto está muito bom. Hoje em dia, temos jogadores no Bayern de Munique, Cardiff City, Barcelona e noutros clubes da Europa. E temos também ainda temos o Atiba Hutchinson, lenda do Besiktas. O grupo é bom e a aposta no futebol aqui no Canadá é cada vez maior. Vêm aí jovens com muito talento e o primeiro objetivo é começar a subir no 'ranking' da FIFA”, diz Stephen a Bola Branca.

Os dados comprovam as declarações do médio. Alphonso Davies, de apenas 18 anos, já se estreou pelo Bayern de Munique, depois de brilhar na MLS; Junior Hoilett é titular do Cardiff, na Premier League; Alessandro Busti joga nos sub-23 da Juventus; Zachary Brault pertence ao Lyon; e Tabla está no Barcelona.

Mauro Eustáquio é especialista da realidade do futebol do Canadá. Passou pelo Ottawa Fury, entre 2014 e 2016, e FC Edmonton, em 2017. Apesar de canadianos, os clubes disputavam a segunda divisão do futebol dos Estados Unidos, sendo que não existem promoções e despromoções no futebol norte-americano. Apenas três clubes do Canadá jogam na MLS, principal escalão dos EUA: Vancouver Whitecaps, Toronto FC e Montreal Impact.

O médio, hoje com 26 anos, explica que teve de emigrar para conseguir cumprir o objetivo de ser futebolista profissional, depois de experiências nas divisões inferiores do futebol português, no Sporting Pombal e no Nazarenos, cumprida a formação no União de Leiria.

“Era chamado à seleção sub-20 do Canadá e as boas exibições abriram-me as portas para o mercado da América do Norte. O adjunto da seleção foi para o Ottawa Fury e o irmão era o técnico principal. Disse que gostava de mim como jogador e queria dar-me a oportunidade de ser profissional. Havia esse interesse, conversámos e fui. Foi assim que começou a minha jornada”, explica.

A subida à MLS era objetivo e surgiu oportunidade de assinar pelo Toronto FC, mas uma proposta longe do esperado. “No meu segundo ano em Ottawa, em que fomos à final dos ‘play-offs’, fiz uma grande época, com dois golos e seis assistências, e tinha ido à qualificação para os Jogos Olímpicos. Houve interesse para ir para o Toronto FC, mas era a equipa B e decidimos que não era bom ir, até porque já tinha algum peso em Ottawa”.

O regresso ao futebol português, de forma profissional, “é um sonho para os próximos três anos”, e Mauro acredita que tem "qualidade para jogar em Portugal", apesar de reconhecer que o seu mercado é na América do Norte.

O primeiro ano da Canadian Premier League

O futuro da seleção canadiana passa também pelo desenvolvimento do futebol internamente. Nesse sentido, arranca esta temporada a Canadian Premier League (CPL), o primeiro campeonato profissional no país: "O futebol está a crescer. Vim para o Cavalry FC, no primeiro ano da CPL, primeira vez que o país vai ter uma liga interna profissional. São oito equipas, sete foram criadas de raiz, são ‘first year franchise’, foi uma oportunidade de negócio no país. Só o Edmonton FC é que já existia. Para o próximo ano, já entram mais quatro equipas."

Toronto FC, Montreal Impact e Vancouver Whitecaps vão continuar na MLS, assim como o Ottawa Fury optou por continuar no segundo escalão americano. Para além do futebol, que cresce em popularidade, Mauro Eustáquio destaca os outros desportos-rei no país.

“O hóquei no gelo é o principal desporto, foi criado aqui no Canadá. Faz sentido, por que sete dos 12 meses do ano faz frio, neve e gelo. O gelo, no Canadá, é como o sol em Portugal. Hóquei é o número um e depois há outros com muita popularidade. No basquetebol, há muito apoio, com os Toronto Raptors na NBA. O basebol também teve um ‘boom’ com os Toronto Blue Jays e o Montreal Expos [extinto em 2004]. Há uns 30 anos, surgiu também a Canadian Football League, uma forma canadiana de jogar futebol americano, com 70 mil pessoas nos estádios, em média, por jogo”, explica Mauro.

O médio, que regressou a solo canadiano recentemente, depois de uma época no Penn FC, em Harrisburg, nos Estados Unidos da América, explica a ligação entre clubes da Canadian Premier League com o campeonato de futebol americano.

“As equipas da CPL entraram em contacto com as de futebol americano e, neste momento, todas as organizações da Canadian Football League têm um clube de futebol a jogar no mesmo estádio, para trazer mais adeptos, mais notoriedade, mais impacto ao campeonato. É um projeto que vai demorar algum tempo a implementar, mas estou muito feliz por fazer parte do início deste projeto”, adiciona.

As raízes

Para perceber as raízes da família Antunes Eustáquio, é preciso puxar a fita até à década de 90. Em 1993, nascia Mauro Eustáquio, ainda na Nazaré. Dois anos depois, emigraram para o Canadá, para o pequeno município de Leamington, Ontário, no Canadá.

“Os nossos pais são portugueses. Emigraram para o Canadá porque queriam uma vida melhor e porque a nossa mãe já tinha cidadania canadiana. Nasci em Portugal e fomos quando tinha apenas um ano. O Stephen nasceu lá e ficamos cerca de 10 anos no país, antes de regressar a Portugal. O nosso pai nunca gostou da vida lá, porque faz muito frio durante sete meses por ano, muita neve. Não dá para fazer grandes atividades familiares fora de casa, e então voltámos à Nazaré”, detalha Mauro, o mais velho, que explica a força relação com o irmão mais novo, Stephen.

Registos fotográficos da infância dos irmãos Eustáquio. Foto: DR
Registos fotográficos da infância dos irmãos Eustáquio. Foto: DR
Foto: DR
Foto: DR
Foto: DR
Foto: DR

“Sempre fomos muito unidos. Como eu era o mais velho, para onde eu fosse, ele vinha sempre atrás. Fazíamos muitas atividades em família, os nossos pais sempre incutiram isso. A nossa relação foi fortalecendo e ainda hoje temos uma grande relação. Falamos todos os dias”, conta.

E foi ainda no Canadá que surgiram os primeiros toques na bola para os dois médios, hoje com carreiras profissionais bem distintas: “O nosso pai sempre gostou de futebol, sempre nos esteve no sangue. Há muitos portugueses em Leamington e o futebol sempre foi algo que uniu a comunidade. Jogávamos na escola, e até no rancho folclórico, que chegámos a andar os dois, jogávamos lá, quando era possível. Era como ocupávamos o tempo”.

Apesar da forte ligação com o Canadá, a Nazaré também é casa para os dois médios. “Quando a época acaba, vou para a Nazaré. Os nossos pais ainda vivem lá. Quando terminar carreira, vou voltar à Nazaré, fazer lá a minha vida. O Stephen é igual. Jogava no Leixões e no Chaves, mas voltava sempre a casa quando podia, nas folgas”, remata Mauro.

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