07 jan, 2022 - 06:28 • Eduardo Soares da Silva
A Taça das Nações Africanas (CAN) arranca a sua 33ª edição este domingo, 9 de janeiro, e durará cerca de um mês, nos Camarões, com final marcada para o dia 6 de fevereiro.
O futebol de seleções regressa a África, numa edição com polémica em torno da dispensa dos jogadores dos campeonatos europeus e com a pandemia a afetar as seleções, no continente com menor percentagem de população vacinada.
A prova era suposto ter sido disputada em janeiro do ano passado, mas a pandemia levou ao adiamento para este ano.
Apesar de ser uma competição com menor visibilidade, em comparação com o Europeu ou a Copa América, a prova tem grande importância no continente, com forte tradição ligada ao futebol.
"Percebi a importância desta competição para os africanos. Todos os jogadores querem participar na prova para se tentarem valorizar. A intenção de todos é mostrar o seu futebol, dar nas vistas e ser contratados por clubes de grande dimensão. Até para as próprias federações africanas, o CAN é extremamente importante", admite à Renascença o treinador português Litos, que trabalhou em Moçambique.
O pontapé de saída da CAN está agendado para este domingo, dia 9, com a seleção organizadora, os Camarões, a receberem o Burquina Fasso, às 16h00, no Estádio Olembe, com capacidade para 60 mil espectadores, que será também o palco da final.
A CAN está organizada de forma semelhante às outras grandes provas de seleções. Há seis grupos de quatro equipas, em que os dois primeiros classificados qualificam-se para os oitavos de final da prova, assim como os quatro melhores terceiros classificados.
Dos cinco Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa - Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe-, apenas duas seleções conseguiram qualificar-se para a fase final da CAN: Cabo Verde e Guiné-Bissau.
Angola ficou em último lugar do Grupo D de qualificação, atrás dos qualificados Gâmbia e Gabão. Moçambique ficou também em último lugar do grupo F. Camarões e Cabo Verde seguiram para a prova.
São Tomé e Príncipe foi a seleção menos competitiva na qualificação para a CAN, sem qualquer ponto somado. Gana e Sudão qualificaram-se para a CAN no grupo C. Resta a Guiné-Bissau, que se qualificou no grupo I, atrás do Senegal e à frente do Congo e Essuatíni.
A Taça das Nações Africanas é organizada, habitualmente, durante o mês de janeiro, devido ao clima e à organização da maioria dos campeonatos africanos, que se jogam anualmente e terminam entre novembro e dezembro.
A Confederação Africana de Futebol alterou a calendarização habitual da prova, que começará a ser disputada durante o verão, para se adaptar ao calendário dos campeonatos europeus e de onde chegam uma grande fatia dos jogadores que disputam a prova, mas tal não foi possível este ano, visto que o Campeonato do Mundo disputa-se no final do ano.
A próxima edição, na Costa do Marfim em 2023, será disputada no verão, tal como a última, no Egito em 2019.
Sim, mas o processo nem sempre é pacífico, porque os clubes perdem os seus jogadores a meio da temporada.
O Liverpool é apresentado habitualmente como exemplo dos clubes mais prejudicados, pois perde duas estrelas Mohamed Salah e Sadio Mané, assim como Naby Keita.
Este ano, a Associação de Clubes Europeus ameaçou não ceder os jogadores dos campeonatos europeus para a CAN, devido à pandemia da Covid-19 e aos problemas de organização dos Camarões, e pressionou a Confederação Africana para que o torneio fosse adiado, o que não aconteceu.
Os clubes podem reter os jogadores, caso seja obrigatória uma quarentena de pelo menos cinco dias, a contar da data da chegada. Todos os jogadores convocados foram cedidos.
A confederação decidiu limitar a lotação dos estádios a 60%, exceto nos jogos da seleção dos Camarões, onde a capacidade é aumentada para 80%. Só com vacinação completa ou teste negativo é permitido entrar nos estádios. Os Camarões têm cerca de 26 milhões de cidadãos e apenas 3% da população está vacinada, de acordo com o site "Our World in Data".
Apesar dos cuidados das federações, há já seleções com casos positivos. A seleção de Cabo Verde tem seis jogadores infetados e o selecionador nacional teve de ficar na Praia, em isolamento.
Há, no entanto, mais casos de infeção. Pierre-Emerick Aubameyang, capitão do Gabão, do Arsenal e uma das figuras da competição, está infetado, tal como Mario Lemina. Senegal, Tunísia, Burkina Fasso e Camarões também já confirmaram casos positivos.
Treinador português sabe que os objetivos estão be(...)
A Argélia é a atual detentora do troféu, conquistado em 2019, e com estrelas como Riyad Mahrez, Ismael Bennacer, Said Benrahma, Islam Slimani e Yacine Brahimi.
Há, no entanto, outros candidatos: o Senegal de Sadio Mané é a melhor seleção africana no "ranking" FIFA, o Egito, de Carlos Queiroz, tem um dos melhores jogadores do mundo na equipa, Mohamed Salah, enquanto que Gana, Marrocos e Nigéria são também crónicos candidatos ao título.Os Camarões, orientados por Toni Conceição, também assumiram o objetivo de chegar à final e levantar a taça.
Carlos Queiroz, no Egito, e Toni Conceição, nos Camarões, são os dois treinadores portugueses em prova.
O selecionador dos Camarões, no cargo desde 2019, apontou a conquista do troféu como objetivo, em entrevista à Renascença: "Só tenho um caminho que é ganhar. Chegar à final da CAN e ganhar e apurar a equipa para o Mundial 2022 são os dois objetivos claros que estão em cima da mesa”, referiu. Os Camarões medem forças com Cabo Verde, Burquina Fasso e Etiópia no grupo A.
Carlos Queiroz conta com vasta experiência internaconal, depois de ter estado nas seleções da África do Sul, Portugal, Irão e Colômbia. O Egito está no Grupo D, com Guiné-Bissau, Nigéria e Sudão.
A I Liga dispensou 11 jogadores para a Taça das Nações Africanas. A Guiné-Bissau convocou Alfa Semedo (Vitória de Guimarães), Manuel Baldé (Vizela), Sori Mané (Moreirense) e Fali Candé (Portimonense). Cabo Verde chamou Marco Soares (Arouca) e Gilson Tavares (Estoril).
O Mali convocou Sacko, do Vitória, e o Gana chamou por Mumin, também da formação de Guimarães. O FC Porto perdeu Zaidu para a Nigéria e Nanú para a Guiné-Bissau. O Boavista cedeu Yusupha à seleção da Gâmbia.
Cabo Verde levou ainda mais três jogadores de Portugal: João Paulo, do Feirense, Nuno Borges, do Casa Pia, e Márcio Rosa, do Montalegre.
A seleção da Guiné-Bissau é a equipa em prova com maior presença de jogadores em clubes portugueses. Para além de Sori Mané, Baldé e Fali Candé, da I Liga, juntam-se Leonel Alves, do Marinhense, Simão Júnior, do Vilafranquense, Bura, do Farense, Mimito Biai, da Académica, Frédéric Mendy, do Vitória de Setúbal, e Jefferson Encada, do Leixões. No total, são 11 convocados a jogar em Portugal.
Por último, Luís Asué, da equipa sub-23 do Braga, foi convocado pela Guiné Equatorial.