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Qatar 2022

O Duke do Japão que deu à Austrália a primeira vitória num Mundial em 12 anos

27 nov, 2022 - 13:45 • Inês Braga Sampaio

Aposta pessoal do selecionador e contestado pelos adeptos, Mitchell Duke joga, atualmente, na II Liga japonesa, mas o português Vítor Campelos, que o treinou na Arábia Saudita, confia que ainda vai a tempo de voar mais alto. Conheça a história do avançado que preparou dedicatória para o filho porque já sabia o que ia acontecer.

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Mitchell Duke, de 31 anos, tem nome de lorde e foi com semelhante estilo que escreveu história pela Austrália. Recebeu um cruzamento prensado da esquerda e cabeceou cruzado, fora do alcance do guarda-redes da Tunísia, aos 23 minutos de jogo, para dar aos "socceroos" a primeira vitória em Mundiais em 12 anos.

Na celebração, como prometido - porque tinha garantido, antes do jogo, que marcaria -, Duke desenhou com os dedos um "J", a primeira letra do nome do filho, Jaxson. O menino de seis anos replicou o gesto desde a bancada, deleitando o mundo do futebol.

Nascido em Liverpool (na Austrália, não em Inglaterra), Mitchell Duke começou a carreira profissional no Central Coast Mariners, sob o comando do atual selecionador australiano, Graham Arnold. Viajou, depois, para o Japão, onde representou o Shimizu S-Pulse.

Em 2018/19, regressou de forma breve à Austrália, para jogar no Western Sydney Wanderers, antes de ser contratado pelo Al-Taawon, da Arábia Saudita.

Foi uma contratação do português Vítor Campelos, atual treinador do Desportivo de Chaves, que explica à Renascença que, na altura, procurava um avançado asiático para a Liga dos Campeões. Na prova podem jogar, na totalidade, quatro estrangeiros: três de qualquer nacionalidade e um asiático. A Austrália pertence à Confederação Asiática de Futebol, pelo que Mitchell Duke é, futebolisticamente, asiático.

"De vários jogadores que chegaram até nós, o Duke, por indicação do agente Jorge Teixeira, foi o que nos despertou mais interesse, quer pelas qualidades apresentadas, quer por estar a fazer uma excelente época ao serviço do WS Wanderes da Austrália. A sua forma de jogar encaixava perfeitamente no nosso modelo de jogo", conta Campelos.

Campelos acabou por não trabalhar muito com Duke, devido às restrições resultantes da pandemia da Covid-19 e porque regressou a Portugal pouco tempo depois da contratação do ponta de lança. Ainda assim, lembra-se do internacional australiano como "um jogador com golo, muito forte no jogo aéreo, muito móvel e que trabalhava muito em prol da equipa".

A passagem de Mitchell Duke pela Arábia Saudita também foi curta. Fez apenas 18 jogos e um golo, antes de ser emprestado ao clube a que fora contratado, o WS Wanderers. Na Austrália, voltou ao nível que apresentara anteriormente. Contudo, quando o empréstimo terminou, em agosto, rumou à II Liga japonesa, ao Fagiano Okoyama, onde ainda joga.

Nestas declarações a Bola Branca, Vítor Campelos lembra que Duke já tinha jogado, anteriormente, no Japão e "tinha deixado boa imagem". No entanto, com o golo no Mundial, sai valorizado e quiçá consiga chegar a um nível superior.

"Com 31 anos, quase 32, penso que ainda pode jogar noutros patamares com maior relevância que a II Liga japonesa", refere o treinador do Chaves.

A mulher de Duke e os dois filhos, Jaxson e Chloe, ficaram a viver no Reino Unido. Mesmo no Qatar, o avançado pouco tem visto a família: só durante excursões, entre treinos, aos hotéis em que as famílias estão alojadas. Na entrevista pós-jogo, Duke assumiu que tem sido difícil estar longe daqueles de quem mais gosta.

"Tenho feito muitos sacrifícios pela minha família. Estar sozinho grande parte do tempo nestes últimos dois anos não tem sido fácil. Estes momentos de carinho [celebração com o filho] fazem com que os sacrifícios valham a pena. É essa a mentalidade que tens de ter", disse.

Mitchell Duke estreou-se pela seleção da Austrália em 2013, porém, esteve os seis anos seguintes sem ser chamado. Regressou em 2019, mesmo a tempo do início da qualificação para o Mundial, e ainda participou nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, como um dos jogadores sub-23.

Foi, precisamente, Graham Arnold, que estreara Duke como profissional em 2010/11, que o resgatou para a seleção. A confiança do selecionador no avançado tem gerado contestação dos adeptos australianos, que consideram o registo de oito golos em 22 internacionalizações insuficiente.

O golo que deu à Austrália a primeira vitória em fases finais de Campeonatos do Mundo, ao fim de 12 anos, justificou a aposta em Mitchell Duke.

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