03 mar, 2022 - 13:30 • Sílvio Vieira
Rui Casaca não tem dúvidas de que Abel Ferreira "cabe em qualquer equipa em Portugal", mas, tendo em conta os "olhos que estarão em cima dele nesta altura", conclui que o treinador não regressará a casa num futuro próximo.
"Acho que a perspetiva dele não será regressar já a Portugal. Este sucesso irá repercutir-se na carreira dele. Muitos olhos estarão em cima dele nesta altura. Nem sei se, neste momento, tirando o Benfica, haverá alguma possibilidade de [um grande] ir buscar um treinador para o próximo ano. Penso que neste momento ele terá outras coisas", admite o antigo dirigente do Sporting de Braga, em entrevista à Renascença, poucas horas depois da última conquista de Abel no Palmeiras, a supertaça sul-americana, em que derrotou o Athletico Paranaense.
"Todas estas conquistas elevam-no para um patamar de excelência, bem como a sua equipa técnica. É uma equipa técnica muito boa, complementam-se muito bem uns aos outros. Conquistar o quarto troféu num país daqueles não é nada fácil", anota.
Vitória sobre o Athletico Paranaense, por 2-0, sel(...)
O próximo passo do treinador português, apesar de todo o interesse que poderá estar a gerar, será ainda no clube paulista, acredita Casaca. Com duas Libertadores, uma Recopa (supertaça sul-americana e uma Copa do Brasil, Abel poderá ter no seu horizonte a conquista do título que lhe falta: ser campeão brasileiro.
"Ele tem confiança total da presidente, tem um crédito muito grande no clube. É muito admirado por toda a gente dentro do clube e pela massa associativa. Ele sente-se bem no clube", observa, alimentando o cenário de continuidade no Palmeiras, com o objetivo de vencer o Brasileirão, antes da despedida.
"Sucesso merecido de um ser humano fantástico"
Casaca trabalhou três anos com Abel Ferreira em Braga e vive as conquistas do treinador como suas. O antigo diretor-geral dos minhotos manifesta grande felicidade com o sucesso "merecido" de uma pessoa que admira.
"Falar do Abel para mim é uma alegria muito grande. Além de treinador, ele tem a seu favor o facto de ser um ser humano incível. Preocupa-se muito com os amigos e com a família. E transporta isso para o aspeto profissional. É um treinador muito minucioso, estuda muito as equipas. Fico muito contente por ele, porque como treinador e ser humano é fantástico", afirma, nestas declarações a Bola Branca.
Rui Casaca destaca, ainda, as circunstâncias em que Abel Ferreira assumiu o desafio de treinar o Palmeiras, "a seguir ao sucesso de Jorge Jesus no Flamengo", para dar significado maior à dimensão àquilo que tem alcançado. "Fazer este trajeto no Brasil, onde a exigência com os treinadores sente-se semana semana, não é fácil", conclui.
Jorge Jesus abriu portas que Abel agora escancara
O trabalho de Abel é um reforço da imagem do trabalho dos treinadores portugueses e o Brasil continua a importar nomes. O mais recente é Vítor Pereira, no Corinthians, e Luís Castro é desejado pelo Botafogo.
Portas inicialmente abertas por Jorge Jesus, recorda Casaca. "O Jorge Jesus, pela sua forma de estar, mexeu com o Flamengo e com o futebol brasileiro. Foi confliutoso q.b., mas foi um vencedor e as pessoas querem vencedores. A maneira como as pessoas o desejam lá é incrível. Isto é reconhecimento da competências dos treinadores portugueses, como os que agora estão a ir para lá têm", refere.
Tal como Abel, Jesus também trabalhou com Rui Casaca em Braga e, também, no Belenenses. Aliás, grande parte dos treinadores portugueses que obtiveram sucesso nos últimos anos passaram pelo gabinete de Casaca. Abel, Jesus, Rúben Amorim, Sérgio Conceição, Carvalhal, Jesualdo Ferreira, José Peseiro, Leonardo Jardim, Domingos Paciência, Paulo Fonseca, Jaime Pacheco, Vítor Oliveira, Manuel José, Inácio são alguns dos nomes de destaque, entre outros.
Sporting de Braga como selo de garantia
Treinadores com quem teve "imenso gosto de trabalhar". "O mérito é todo deles. Estamos a falar de pessoas que trabalharam, sobretudo, no Sporting de Braga, que os catapultou para outros voos. Houve um mérito nosso na escolha do perfil dos treinadores, porque trabalhar o Sporting de Braga não é fácil, porque é um clube muito exigente", ressalva.
"[O Braga] É uma antecâmara do sucesso, porque já signifca trabalhar num patamar bastante elevado. Ter sucesso no Braga é um selo de garantia para ter sucesso noutro clube para onde vão", afirma.
Rui Casaca, de 62 anos, foi dirigente de Boavista, Belenenses e Sporting de Braga. Entre 2015 e 2021 foi diretor-geral da SAD dos minhotos. Despediu-se do clube após a conquista da Taça de Portugal. Trabalhou três épocas com Abel Ferreira.