07 jun, 2022 - 06:20 • Eduardo Soares da Silva
Fernando Santos vai orientar, esta noite, o 100.º jogo enquanto selecionador nacional português, frente à República Checa, em Alvalade, a contar para a 3.ª jornada da fase de grupos da Liga das Nações.
Desde a estreia, num particular frente à França, a 11 de outubro de 2014, no Stade de France, Fernando Santos orientou a seleção nacional em seis competições.
Já com experiência anterior na seleção grega, PAOK, AEK de Atenas, Benfica, Sporting, FC Porto, Estrela da Amadora e Estoril Praia, Fernando Santos assumiu a seleção depois do Mundial 2014.
Paulo Bento manteve-se no cargo, depois de ter caído na fase de grupos da prova, mas não resistiu a uma derrota no arranque da qualificação para o Euro 2016, em casa, frente à Albânia.
Depois da seleção ter ficado perto de títulos com Scolari e até Paulo Bento, Fernando Santos conduziu Portugal aos primeiros troféus da sua história: Euro 2016 e a Liga das Nações 2019.
No entanto, o selecionador tem-se tornado menos consensual nos últimos anos, principalmente depois das participações no Mundial 2018 e no Euro 2020 e, mais recentemente, depois de ter falhado o acesso direto ao Campeonato do Mundo do Qatar, para o qual Portugal qualificou-se via "play-off".
António Fidalgo, treinador que lançou Fernando Santos no Estoril Praia e amigo pessoal do atual selecionador, não concorda com os mais críticos da seleção.
"Vivi muito tempo com vitórias morais, ele está na seleção desde 2014 e conquistou dois troféus. Pergunto que seleção da Europa durante este tempo venceu mais títulos que Portugal? Nenhuma. A França e a Alemanha têm dois também, mas ninguém conquistou mais títulos que o Fernando Santos. Não são críticas, são opiniões diferentes, ele lida bem, são opiniões legítimas, mas eu não concordo com elas", argumenta.
Em 99 jogos orientados, Fernando Santos tem uma taxa de vitórias alta, com 66 triunfos, 22 empates e 15 derrotas.
É pelos inéditos títulos conquistados e pelos registos estatísticos que António Fidalgo considera que Fernando Santos é o melhor selecionador português da história.
"Arrisco-me a dizer que é o melhor selecionador português de sempre, porque conseguiu efetivamente títulos. Se joga bem ou mal, são opiniões legítimas. Só atesta o valor dos jogadores que tem ao dispor. Ele sabe bem quem escolher para o onze inicial face ao adversário, contexto e momento dos jogadores. Ele discute essas opções com a sua equipa técnica. Por muitas opiniões que lhe cheguem, não o influenciam", atira.
António Fidalgo admite que "não compreende bem" o facto de Fernando Santos se ter tornado menos apreciado pelos portugueses e dá o exemplo do jogo frente à Espanha, na última semana.
"Ouvimos muitas críticas à seleção portuguesa, que foi 'à justa' que conseguimos empatar. Os jornais espanhóis diziam que o resultado foi justo, que Portugal jogou bem e que o empate se aceita. Em Espanha é justo, em Portugal é à justa. Isto diz muito das opiniões. É o único selecionador português que conseguiu vencer", sublinha novamente.
Fernando Santos é claro na filosofia: prefere ganhar e jogar mal do que perder e jogar bem. "Ele não tem vitórias morais, foca-se muito no resultado. Para ele seria extremamente agradável jogar bem e ganhar. Se tiver de escolher uma, prefere ganhar".
Com maior ou menos sucesso, António Fidalgo diz que não há motivo para questionar a continuidade de Fernando Santos: "Decisivo é o contrato que tem com a Federação, até 2024. Ele tem dito que os objetivos a que se propôs no contrato foram alcançados. Enquanto forem, não compreendo o porquê de tanta contestação, quererem que ele saia".
Melhor estreia numa competição seria impossível de imaginar para Fernando Santos, que qualificou a seleção nacional para o Europeu de 2016 e venceu a prova, no Stade de France, contra a França, numa repetição do jogo da sua estreia, que tinha perdido.
Seguiu-se a Taça das Confederações, em 2017. Portugal caiu nas meias-finais para o Chile, nas grandes penalidades. A seleção voltou da Rússia com o terceiro lugar, após bater o México na última partida. A Alemanha conquistou o troféu.
O Mundial 2018 foi o primeiro grande dissabor de Fernando Santos. Portugal qualificou-se para os oitavos de final no segundo lugar com um empates com a Espanha e Irão e uma vitória com Marrocos. A aventura não se prolongou muito mais: nos oitavos de final, Portugal foi eliminado pelo Uruguai de Cavani, que apontou os dois golos da vitória por 2-1.
A nova prova da UEFA trouxe mais um título para a seleção nacional. Portugal chegou à "final four" da Liga das Nações, organizou-a no Porto e em Guimarães e levantou o troféu no Estádio do Dragão, numa vitória por 1-0 frente aos Países Baixos. Gonçalo Guedes "fez de Éder" e marcou o golo solitário da vitória.
As críticas voltaram a subir de tom no último verão, com uma prestação aquém do esperado no Euro 2020. Portugal caiu nos oitavos de final, depois de ter sofrido para se qualificar no grupo. A seleção bateu a Hungria na estreia, foi goleada pela Alemanha e empatou com a França, resultado que qualificou a equipa das quinas no terceiro lugar.
Se o terceiro posto poderia fazer lembrar a caminhada de sonho no Euro 2016, não passou de um "déjà vu" momentâneo. Portugal foi arrumado da prova dias depois, em Sevilha, frente à Bélgica.
No total, o técnico de 67 anos convocou 101 jogadores, tendo superado a barreira da centena com a chamada dos bracarenses David Carmo e Ricardo Horta.
Ricardo Horta foi o 89.º jogador a alinhar na "era" Fernando Santos e o 32.º a fazê-lo sem ser na condição de estreante. David Carmo, de 22 anos, que ainda não foi utilizado, faz parte da lista dos 12 que o atual selecionador chamou e não utilizou.
Ivo Pinto, Ventura, Tiago Pinto, Rui Fonte, Bruno Varela, José Sá, Ferro, Sequeira, Gonçalo Inácio, Tiago Djaló e David Carmo foram chamados, mas não foram utilizados.
Dos 89 futebolistas utilizados por Fernando Santos, o guarda-redes Rui Patrício é o que conta mais minutos (6.540), enquanto Cristiano Ronaldo lidera em termos de jogos disputados, com um total de 74, o que significa que falhou 25. Ronaldo não participou na fase de grupos da Liga das Nações em 2019, por opção.
Há 19 jogadores que jogaram, mas não atingem sequer 90 minutos de utilização, entre eles alguns consagrados, como Silvestre Varela, Hugo Almeida ou Hélder Postiga, que já estavam em fim de ciclo quando Fernando Santos chegou.
Paulinho, Dyego Sousa, Pedro Gonçalves, André Pinto, Tiago Gomes, Ukra, Ricardo Horta, Edgar Ié, Pedro Mendes, Daniel Carriço, Rony Lopes, Gedson, Podence, André Almeida, Cláudio Ramos e Vítor Ferreira também não fizeram um jogo completo, sendo que alguns, certamente, já não vão a tempo de o fazer.
António Fidalgo acredita que Fernando Santos soube aproveitar a nova geração talentosa de jogadores portugueses.
"Soube adaptar-se e os jogadores também souberam adaptar-se às suas ideias de jogo e à sua filosofia muito própria. Não me surpreende o Fernando ter chamado tantos jogadores. A dor de cabeça é para escolher, não só o 11, mas a convocatória. Há muitos jogadores ao dispor, é preciso estruturar bem a mente para escolher os jogadores face ao contexto das competições", considera.
Fernando Santos vai fazer as malas no inverno para o terceiro Campeonato do Mundo da sua carreira, o segundo por Portugal.
O treinador já tinha estado no Mundial 2014 com a Grécia e em 2018 disputou-o por Portugal. Já admitiu que o Mundial "é para vencer" e António Fidalgo concorda que é possível.
"Pode ser realista porque temos os jogadores que temos. Se temos os melhores jogadores do mundo, é natural que esse seja um objetivo. Mas é extremamente difícil. Cito Fernando Santos, Portugal 'não é favorito, mas é candidato'. É candidato face à competência dos jogadores que tem", atira.
Com dois troféus, algumas eliminações desapontantes e exibições aquém das expetativas, Portugal caminha com uma equipa de topo para o Mundial do Qatar.
"Por vezes junta o resultado à exibição, por vezes não. Quem dera a muitas seleções terem os resultados de Portugal, até mesmo nesta Liga das Nações", atira António Fidalgo. Bélgica, Inglaterra e Itália estão à frente de Portugal no "ranking", mas não têm tantos troféus como Portugal desde que Fernando Santos assumiu cargo. O mesmo se aplica a Brasil e Argentina.
Portugal lidera o grupo da Liga das Nações e pode, no centésimo de Fernando Santos no comando técnico, cimentar o primeiro lugar e aproximar-se do objetivo de regressar à "final four".
Diogo Dalot, Matheus Nunes, David Carmo, Domingos Duarte, Vitinha, João Palhinha e Gonçalo Guedes têm menos do que 30 minutos disputados nos primeiros dois jogos a Liga das Nações.
Desperdiçar uma oportunidade para preparar o Mundial "é uma forma de ver o assunto", considera António Fidalgo.
O foco da seleção não está em preparar o Mundial no imediato, mas voltar à fase final da Liga das Nações. Mais cedo ou mais tarde, os jovens terão oportunidades na seleção.
"Portugal tem como grande objetivo passar a fase de grupos. O foco no resultado é total, mas vai dando oportunidades a muitos jogadores. Com este contexto de quatro jogos em 10 dias, é natural que faça muitas alterações. Muitos poderão ter oportunidades. Se não for agora, será mais tarde. Quando era jogador, era o ponto mais alto quando era chamado à seleção. Estar lá já é extremamente importante. O Vitinha e o David Carmo estão lá, poderão jogar, porque não?", questiona.
O Portugal-República Checa arranca esta quinta-feira, às 19h45, em Alvalade, com relato na Renascença e acompanhamento, ao minuto, em rr.sapo.pt.