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O que é que os nossos filhos veem no TikTok?

12 jul, 2023 - 08:30 • Daniela Espírito Santo , Pedro Valente Lima (edição de vídeo)

O que é que os nossos filhos veem no TikTok? Criamos um perfil de teste para uma criança de 14 anos para descobrir. Quase um ano depois da reportagem "Nos Bastidores do TikTok", voltamos a falar com a plataforma sobre crianças e moderadores de conteúdos.

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O que é que os nossos filhos veem no TikTok? Para responder à pergunta, a Renascença criou um perfil de teste para uma criança de 14 anos para descobrir.

A "Maria" nasceu a 21 de janeiro de 2009, gosta de comédia, fitness, alimentação e atividades ao ar livre.

Gravamos o ecrã do telemóvel nos primeiros vinte minutos da conta e, entre os conteúdos que o algoritmo considera serem interessantes para o utilizador, surgem vídeos perfeitamente inócuos, mas também outros reportando, por exemplo, teorias da conspiração sobre o submarino Titan, um "teste de depressão", imagens militares e até conteúdos de cariz sexual.

Vimos vídeos de propaganda militar, de tensão entre polícias e cidadãos num bairro da região de Lisboa, imagens das trincheiras na Ucrânia e de mulheres militares israelitas. Uma mulher usou uma régua para responder a um utilizador que lhe perguntou sobre órgãos genitais masculinos; há imagens onde aparece, ao longe, uma mulher desnuda e uma outra mulher a caminhar sem roupa interior.

A Renascença falou com Emer Cassidy, líder de políticas de produto da TikTok na Europa, Ásia e Médio Oriente (EMEA), que nos garantiu que retirar conteúdo nocivo da plataforma é uma das suas grandes prioridades.

“Não posso comentar porque não vi os vídeos, mas quero frisar que temos normas para a comunidade que são a espinha dorsal da nossa abordagem na segurança", confirmou, em declarações à margem de um evento promovido pela empresa, em Lisboa.

"Posição muito muito forte contra esse tipo de conteúdo"

"Proibimos conteúdo que possa ser perigoso para a nossa comunidade. Qualquer conteúdo que esteja relacionado com discurso de ódio, imagens de abusos sexuais de crianças, tudo o que violar as normas da comunidade não ficará na plataforma”, assegura.

"Tomamos uma posição muito muito forte contra esse tipo de conteúdo", reforça.

Quanto aos eventuais contactos com as autoridades portuguesas, Emer reforça que o que é removido por não estar em conformidade com as diretrizes de comunidade da aplicação é “removido segundo as regras” de remoção e não “por pedido governamental”.

A rede social garante que tem “uma parceria” com a APAV e o Centro Internet Segura (Safe Internet for Children). “Temos uma parceria com eles em que nos notificam de novas tendências e novos tipos de conteúdo através de um canal de denúncias”, explica.

Para além disso, a plataforma também tem uma “equipa de divulgação e parceria” que colabora com diversos parceiros e organizações não governamentais. “Eles trabalham de forma muito próxima com estes grupos”, assegura.

“É uma conversa contínua”, admite, conversa essa que é alimentada por “novas tendências” e “o que estiver a acontecer” a cada momento.

Este material passa, depois, por uma filtragem. Emer Cassidy diz que a moderação de conteúdos é feita, na maior parte das vezes, por algoritmos: "A maioria do conteúdo é revisto através de meios automatizados."

Mas, tal como foi abordado, em 2022, na reportagem “Nos Bastidores do TikTok - O trabalho traumático dos moderadores”, sabemos que também há dedo humano, que serve para dar "contexto e subjetividade".

Na reportagem, ficamos a saber que o dia a dia dos moderadores pode ser traumático. O tipo de conteúdo a que estão expostos durante o horário de trabalho não é de fácil digestão. Tendo em conta o cenário, Emer Cassidy reforça que garantir o bem-estar mental dos seus trabalhadores é uma das prioridades da empresa.

“É incrivelmente importante para nós e digo isto como alguém que trabalha na área da segurança há muito tempo", reitera.

"Temos acesso a aconselhamento a toda a hora e temos pausas para o bem-estar das pessoas que são moderadoras de conteúdo e também temos intervenções específicas para pessoas que possam estar numa situação difícil e precisem de mais ajuda”, adianta.

Utilizadores e moderadores em Portugal: TikTok não revela números

Questionada sobre o número de utilizadores que a plataforma tem no país, Emer Cassidy admitiu não ter conhecimento do número exato. Na Europa, são 150 milhões. Quantos são crianças? Não sabemos.

“A minha função é manter todos os utilizadores seguros, o que implica uma série de medidas de segurança específicas e de mecanismos para salvaguardar a nossa comunidade e isso inclui quem tem menos de 18 anos”, reitera.

Quanto aos moderadores de conteúdos que, todos os dias, tornam o TikTok uma rede social mais segura para as crianças, Cassidy diz que o número varia. A empresa assegurou-nos que existem 40 mil profissionais encarregues da segurança da comunidade na plataforma, mas não nos adiantou quantos destes são portugueses ou falam português.

“Eu não sei o número específico de moderadores portugueses, mas posso confirmar que temos moderadores que falam português de Portugal e que o número de moderadores pode variar", reitera, explicando que o número pode mudar "dependendo de eventos específicos" para o qual possa ser necessário "garantir maiores níveis de moderação".

Alguns desses moderadores de conteúdos são, percebemos na reportagem de 2022, "terceirizados", ou seja, trabalham noutras empresas que, por sua vez, os "cedem" ao TikTok. Qual o acompanhamento de quem é subcontratado?

"Eu não vi esses contratos. Não posso mesmo especular, mas posso dizer que o bem-estar é incrivelmente importante", remata Cassidy.

Posteriormente, a plataforma garantiu-nos, por resposta escrita, que promove "um ambiente de trabalho acolhedor para os moderadores" e que exige que os "fornecedores externos lhes proporcionem apoio ao bem-estar".

Quantos trabalham diretamente para o TikTok? Também não sabemos.

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