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Covid-19. Os três critérios para a definição de concelho de risco

11 nov, 2020 - 11:08 • Joana Gonçalves

Especialistas sugeriram quatro critérios para determinar que concelhos deveriam aplicar medidas especiais de combate à pademia. O Governo adotou apenas três. "Tenho pena que não tenha sido feito há mais tempo. Houve uma série de hesitações em relação a este assunto. Já tínhamos trabalhado nisto há semanas", defende um dos especialistas envolvido no processo.

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Desde o início de setembro, vários especialistas defendem a adoção de um modelo capaz de identificar a situação de risco Covid-19 por concelho, com implementação de medidas de prevenção e controlo imediatas, ao nível municipal.

Profissionais das áreas da epidemiologia e saúde pública uniram esforços para definir os critérios para a identificação de concelhos com maior risco de contágio. Dos quatro critérios apresentados ao Governo apenas três foram adotados, adianta à Renascença Manuel Carmo Gomes, um dos especialistas que integra este grupo de trabalho.

A proposta inicial definia quatro critérios.


Nível de incidência

O Governo adotou uma medida de nível de incidência cumulativa a 14 dias, que corresponde ao número de novos casos nos últimos 14 dias por 100.000 habitantes. A métrica é semelhante aquela que é adotada na Europa.

Concelhos com mais de 240 casos por 100 mil habitantes entram na lista de risco, com medidas restritivas especiais.

Aceleração do contágio

Este segundo critério avalia a velocidade de aumento de casos no município. “Imaginemos que há um concelho que está, numa determinada semana, com uma incidência cumulativa de 220 casos por 100 mil habitantes. Este valor está abaixo dos 240, portanto não entra na zona vermelha”, começa por explicar o professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

“No entanto, se nós detectarmos que nas últimas duas semanas estes 220 resultam de um aumento acelerado de casos, torna-se óbvio que em breve o município vai ultrapassar os 240. Esta noção da aceleração é muito importante”, acrescenta.

Concelhos circundantes

Um concelho com um nível de incidência inferior a 240 casos por 100 mil habitantes pode vir a integrar a lista de risco, se estiver rodeado por municípios identificados com incidência acima do patamar definido.

“Se um município tem uma incidência baixa, mas está rodeado de concelhos que estão a vermelho, é evidente que não tardará muito a ficar também em risco”, defende Carmo Gomes.

Surto localizado

Concelhos onde é possível identificar um surto que está a aumentar o nível de incidência do vírus podem escapar à intensificação das restrições definidas pelo Governo.

“Imaginemos que em determinado local a incidência é baixa, está claramente abaixo de 240, mas há um concelho com poucos habitantes que teve um surto num lar, por exemplo. Apesar de estar bem delimitado, pode ser suficiente para elevar a incidência ao nível de risco. Ora nestes casos, não fará sentido colocar todo o concelho a vermelho, se o surto está bem identificado”, explica o epidemiologista.


Dos quatro critérios apresentados pelos especialistas ao Governo, um ficou de fora. “O segundo critério não foi tido em conta. Fazia parte da nossa proposta, mas não foi adotado. Esta noção da aceleração do processo também devia ser tida em atenção”, defende Carmo Gomes.

Para o professor de epidemiologia, “tem de haver um equilíbrio entre critérios que sejam rigorosos, objetivos, epidemiologicamente sensatos, mas que simultaneamente se consigam explicar às pessoas''.

“Acredito que o Governo não adotou o critério da aceleração porque é mais difícil de explicá-lo”, acrescenta.

Mas se a exclusão de um dos critérios parece ser compreensível, o que não entende é porque motivo o Executivo demorou mais de duas semanas a avançar com a implementação do mapa de risco.

“Tenho pena que não tenha sido feito há mais tempo. Houve uma série de hesitações em relação a este assunto. Já tínhamos trabalhado nisto há semanas. Duas ou três semanas nesta epidemia são uma eternidade, o suficiente para os números triplicarem”.

Esta terça-feira o professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa avançou com uma previsão que aponta para um pico de 11 mil casos e uma centena de mortes diárias por Covid-19, já em dezembro.

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  • antonio jose
    12 nov, 2020 GRANDOLA 19:35
    entao como explicam que concelhos como Viana do Alentejo, S.B. Alportel e outros cujo numero de infetados nos 14 dias anteriores a 26 de outubro foi muito inferior aos criterio defenidos, estao incluidos na lista?

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