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Nuno Teixeira

“Quebra dos jogadores será mais notória no plano mental"

09 abr, 2020 - 14:52 • Pedro Azevedo

Nuno Teixeira, docente universitário e treinador de futebol, analisa em Bola Branca o impacto da paragem competitiva, devido à pandemia de Covid-19, nos planos mental, físico, técnico e tático.

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A Liga de Clubes continua a acreditar que será possível terminar os campeonatos profissionais dentro da atual temporada e planeou as dez jornadas que restamentre o último fim de semana de Maio e meados de Julho com jogos à porta fechada.

Nuno Teixeira, treinador de futebol e docente universitário no mestrado em Treino Desportivo entende que é no plano psicológico que reside a maior incógnita e que poderá refletir-se numa quebra dos jogadores, e de forma mais notória, nos menos experientes.

“Os jogadores tiveram em mente várias coisas durante esta pausa prolongada. Algumas destas questões são novas e outras não, mas o tempo de amadurecimento destas é novo e, neste momento, não sabemos qual será o resultado disso na exibição dos jogadores. Uma grande incógnita, será saber, por exemplo, como irão reagir os menos experientes a estágios excessivamente prolongados. Enquanto os clubes ditos grandes têm jogadores de seleção que estão habituados a estágios das respetivas seleções, é preciso não esquecer o que este retornar do campeonato implica. Todos os clubes envolvidos na competição vão entrar em isolamento total nos centros de estágio. Nem todos os têm com as condições desejadas para este efeito e muito menos para esta duração. E é bom não esquecer também que este isolamento total, é total mesmo, ou seja, para não correr qualquer tipo de risco, os jogadores vão-se ver privados das suas famílias nos próximos dois a três meses, e isto pode e vai, com certeza, abanar com os jogadores menos experientes”, antevê Nuno Teixeira, em entrevista a Bola Branca.

O medo pode ser um obstáculo para os jogadores

Nuno Teixeira coloca muitas reticências, também, à forma como os jogadores enfrentarão em plena competição, a incerteza e o medo.

“O medo, porque duvido muito que no subconsciente dos jogadores, ou pelo menos de alguns, não exista a incerteza, que estarão a pôr-se em risco de uma forma exageradamente precoce. Mas enquanto os clubes ditos mais fortes, têm alternativas no banco, que através de uma rotação mais ou menos estruturada, apresentam soluções, os outros clubes com planteis menos equilibrados já terão mais dificuldades”, analisa.

Impacto da paragem nos aspetos físico e técnico

No plano físico, Nuno Teixeira antevê dificuldades para os jogadores nomeadamente nas jornadas duplas, em especial nas equipas com menos soluções nos planteis. Já no plano técnico, “está mais que adquirida em jogadores deste calibre, por isso não será diferente, até porque é algo treinável em casa”.

No aspeto físico, o docente universitário acha que não são expectáveis dificuldades iniciais. “Tenho conhecimento de alguns adjuntos, responsáveis pela condição física, que têm estado em constante contato com os jogadores para monitorização e atualização dos planeamentos individuais de treino e, como tiveram este descanso forçado, a intensidade que estes jogadores conseguirão colocar em campo não será coincidente com a altura final do desenrolar do campeonato. Porém com as jornadas duplas que terão que existir para acabar dentro das datas estabelecidas, as equipas com planteis menos equilibrados poderão ter mais dificuldades, principalmente se estas jornadas duplas forem colocadas mais para o final do calendário”, considera.

Os mais experientes em vantagem no plano tático

No aspeto tático, que é a base fundamental do treino do futebol atual, Nuno Teixeira tem uma leitura muito própria relativamente ao impacto na retoma competitiva.

“O entendimento tático, parece-me ser recuperável por parte dos jogadores, como se tratasse, ao fim ao cabo, de uma segunda pré-época. O ser humano, é um ser de hábitos, de rotinas, e não é à toa que os treinadores no inicio de cada época quando as coisas começam a correr menos bem costumam dizer que é necessário mais tempo, para ter melhor entrosamento entre os jogadores e perceberem o que lhes é pedido. “Será mais fácil recuperar esta condição agora do que no início da época porque já existem vivências entre os atletas, mas cada clube terá o seu ritmo de recuperação consoante a experiência do seu plantel. Se de uma forma geral preparamos uma pré-época com jogos de preparação, é preciso não esquecer, que aqui não será possível, o que poderá fazer com que vejamos em campo bom ritmo físico, mas um fraco desenvolvimento de jogo”, antecipa.

Nuno Teixeira é treinador de futebol e docente universitário no ISMAI, no mestrado de Treino Desportivo e no curso de Licenciatura em Gestão do Desporto.

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