O 25 de Abril faz 50 anos. Não há a mais leve comparação entre o Portugal de hoje e o de há cinco décadas. O caminho da democracia venceu indiscutivelmente atrasos deploráveis em todos os planos da vida das pessoas e das famílias, perpetuados pelo Estado Novo. É claro que há ainda muito caminho para caminhar, mas o dado mais surpreendente da sondagem Expresso/SIC de 6ªfeira passada (19.Abr) é que um terço dos portugueses prefere um “chefe forte”. No caso, forte quer dizer autoritário. E não eleito.


Ainda mais surpreendente é o facto de os inquiridos identificarem Salazar e Salgueiro Maia como os dois principais nomes associados ao 25 de Abril. E não Sá Carneiro ou Mário Soares que, de resto, liderou politicamente o processo e mobilizou a sociedade para a defesa intransigente da liberdade que acabou por vir a concretizar-se no 25 de novembro. A boa notícia é que mais de 66% faz uma avaliação positiva do desempenho da democracia. O presidente Eanes explicou na televisão (domingo passado, na SIC) que as duas datas, abril e novembro, se completam, que não existem uma sem a outra. Abril foi o momento fundador de uma nova vida para o país; novembro é o momento “purificador” dos ideais de abril, consagrando a liberdade.

Também por isso se percebe com dificuldade a decisão de Nuno Melo ter aproveitado o Congresso do partido dele para revelar que o governo vai criar uma comissão para celebrar o 25 de novembro. Talvez porque o CDS não tinha nenhuma ideia para apresentar, deitou mão de uma iniciativa de que se fala há muito, sabendo-se como se sabe que a data não é consensual nos partidos da esquerda. Tendo sido Mário Soares o rosto e o protagonista político que conduziu ao golpe militar de novembro, tendo o PS estado na primeira linha das trincheiras em defesa da liberdade, percebe-se mal que a atual direção socialista não se alinhe com a defesa da comemoração da data.


A decisão de Sebastião Bugalho de encabeçar a lista da AD ao Parlamento europeu vem reforçar a necessidade, de que temos falado aqui várias vezes, de os comentadores fazerem declarações de interesse, para que os cidadãos possam perceber de onde vêm e o que pretendem. O trânsito do jornalismo (e do comentário político) para a esfera partidária deve ter regras claras. Mas, sobretudo, o acesso ao comentário deve ser feito com a definição sem reservas da origem do protagonista. De resto, os comentadores começam a experimentar novos talentos. Marques Mendes dá notícias (algumas não se confirmam ou são mesmo desmentidas) e, agora, também entrevista, como se viu na SIC, com a presença do General Eanes no Jornal da Noite do passado domingo.


O CGI (Conselho Geral Independente) da RTP indigitou Nicolau Santos para novo mandato. É verdade que o CGI não está obrigado a fazer um concurso público para a gestão da rádio e televisão públicas, mas fê-lo no passado. Nicolau e a sua equipa foram escolhidos entre 12 candidaturas. Para a renovação de mandato não é preciso um concurso público?


Em suplemento ao programa, os Grandes Enigmas. Perante a invasão do seu chão sagrado e a agressividade dos adeptos, os jogadores de futebol não podem defender-se? E se o fizeram são expulsos? Aconteceu no Chaves - Estoril na última jornada da I Liga.


50 anos depois de Abril, fica um poema de Carlos Grade:

Solta-se a luz ao bater das asas
namora a gaivota o inquieto Tejo
ou é só desejo?
(mas mesmo assim)
o labirinto do amor colonizado
advinha-se nas mãos a tecer a aranha
a política hoje é muito estranha
(e ainda assim)
uma estrada por caminho, uma espingarda
trocada por um cravo, o rebentar das águas
a revolução a engolir tantas mágoas
(e ainda)
estávamos na rua no lugar do 25 de abril
50 Anos depois estou perdido na cidade
mas ainda cantamos juntos a liberdade
(ainda e sempre)