05 set, 2018 - 18:00
Colin Kaepernick, o jogador de futebol americano que se ajoelhou enquanto tocava o hino em protesto contra a violência policial, volta a estar a estar nas bocas do mundo depois de ter sido escolhido, na segunda-feira, para ser o rosto da nova campanha da Nike.
O jogador, que já foi apelidado de anti patriótico pelo próprio presidente dos Estados Unidos, surge nesta nova campanha com a frase "acredita em algo. Mesmo que isso signifique sacrificar tudo", numa referência à ação de protesto do jogador da NFL (liga de futebol americano) em 2016. A forma de protesto lançou um debate nos Estados Unidos, mas muitos questionaram o respeito do jogador pela bandeira e pelo hino nacional.
A decisão da Nike está a ser, no entanto, mal vista por vários fãs da marca, que nas últimas horas têm publicado vídeos nas redes sociais com a hashtag "#JustBurnIt" a queimar sapatilhas e chuteiras desta popular marca de vestuário desportivo.
"Primeiro obrigam-me a escolher entre o meu desporto favorito e o meu país. Eu escolhi o país. Agora a Nike obriga-me a escolher entre os meus sapatos favoritos e o meu país. Desde quando é que a bandeira norte-americana e o hino nacional se tornaram ofensivos?", questiona um utilizador na rede social Twitter, enquanto filma as suas sapatilhas a arder.
Outro utilizador diz que "devido ao vosso apoio ao C.K. [Colin Kaepernick], eu como americano não posso mais apoiar a vossa empresa" no momento em que atira vários pares de sapatilhas para grelhador, ao som do hino.
Outros utilizadores chegaram ao ponto de até fotografarem-se com as sapatilhas em chamas ainda nos pés.
O próprio Presidente dos Estados Unidos há comentou a polémica. Em entrevista ao site conservador Daily Caller, Donald Trump acusou a empresa de querer passar "uma mensagem terrível, que não devia ser lançada". Apesar de tudo, Trump deixou um elogio à empresa e à liberdade da marca em patrocinar uma mensagem discordante. "É isto que o nosso país é, que possas ter certas liberdades para fazer coisas que outras pessoas acham que não deverias fazer", disse o Presidente norte-americano.
Apesar da empresa ainda não ter reagido aos protestos, algumas vozes sonantes já manifestaram apoio à marca. LeBron James, basquetebolista patrocinado pela Nike, disse que estava com a Nike "todo o dia, todos os dias", e Serena Williams, uma das tenistas mais premiadas de sempre, defendeu Kaepernick durante o Open dos Estados Unidos, congratulando-o por ter feito "muito pela comunidade afro-americana".
Entretanto, as ações da Nike caíram 3.8 pontos percentuais no final de terça-feira.
Um protesto polémico
Kaepernick começou a ajoelhar-se durante o hino em agosto de 2016 para protestar contra a violência policial junto da comunidade negra - um protesto que motivou duras críticas de vários espetros políticos, desde o desrespeito ao país a acusações de traição. Mas muitos foram também as vozes a favor, que acusaram os EUA e as forças policiais de discriminação racial, especialmente depois das mortes de jovens negros às mãos de polícias brancos (e que motivaram o crescimento do movimento Black Lives Matter).
O último jogo em que Colin Kaepernick participou foi em janeiro de 2017, e desde então, não voltou à sua anterior equipa, os Philadelphia 49ers, nem assinou por mais nenhum clube.
O protesto continuou a ser repetido na liga de futebol americano (NFL) e outros desportos.
Do lado oposto, grande parte dos apoiantes de Trump pediram o afastamento imediato do jogador. E depois de outros jogadores começarem a ajoelhar-se durante o hino (que antes do estalar da polémica nem era reproduzido nas emissões televisivas), a NFL decidiu impor multas a quem se ajoelhasse durante o hino, o que motivou pedidos de boicote.