É preciso "repensar" o serviço postal e a participação do Estado nos CTT

A nova presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) defende, em entrevista ao programa Dúvidas Públicas, da Renascença, que é preciso “repensar” o serviço postal e a participação do Estado nos CTT, um setor onde a falta de concorrência obriga a olhar para a privatização e para o contrato de concessão.

Nas telecomunicações, explica que o regulador não tem informação suficiente sobre o que cobram efetivamente as operadoras no país, por isso vai lançar um estudo nacional para conhecer os preços e espera os primeiros resultados já em 2025. Antes mesmo de qualquer decisão nesta área, Sandra Maximiano antecipa um alívio nos preçários e fidelizações mais curtas até ao verão, com a entrada de um novo operador.

No programa Dúvidas Públicas, a primeira entrevista que dá desde que assumiu a liderança da ANACOM, Sandra Maximiano deixa a porta aberta ao diálogo com todos e sublinha a importância de pontes e entendimentos, num setor em que o fosso entre regulador e incumbentes tem vindo a aumentar de forma dramática.

A economista rejeita garantir a imparcialidade com a distância, seja a operadoras e grupos de interesse, seja ao próprio Estado e mesmo a consumidores. No entanto, também não se inibe de identificar os problemas no setor, como a falta de concorrência.

Nas telecomunicações espera descidas nos preços e prazos de fidelização mais curtos já nos próximos meses, com a entrada “em força” no mercado de um novo operador, a Digi, que promete apresentar serviços alternativos e uma oferta "agressiva".

Sandra Maximiano, que já tinha criticado a falta de dados sobre os preços das telecomunicações em Portugal, confirma ainda que vai avançar com um estudo nacional para saber quanto gastam os portugueses, como e onde. Garante ainda que o regulador vai agir em conformidade com os resultados, que começam a ser conhecidos no próximo ano.

Nesta entrevista ao programa de economia Dúvidas Públicas, a presidente da ANACOM aponta também a falta de concorrência no serviço postal. Agora a prioridade é fechar os indicadores de qualidade, mas logo a seguir admite analisar a privatização dos CTT, compará-la com outros modelos na Europa, e avaliar o contrato de concessão.

À Renascença, a presidente da ANACOM falou ainda sobre a exclusão dos equipamentos dos chineses da Huawei do 5G, um processo que ainda não está fechado e transita para o próximo Governo.

Defende o alargamento da Televisão Digital Terrestre (TDT) e diz que há falta de mão-de-obra nesta área, onde é difícil contratar trabalhadores especializados.

Sandra Maximiano, especialista em economia comportamental, trabalhou muitos anos fora do país. Nesta entrevista fala ainda dessa experiência, garante que hoje os jovens não emigram só por melhores salários e sem reformas Portugal vai continuar a perder talento. Aponta também o dedo ao excesso de burocracia, que acaba por alimentar a corrupção e a economia paralela.

Sandra Maximiano está no cargo desde 15 de dezembro. Sucedeu a João Cadete de Matos.