Entrevista ao bispo auxiliar de Donetsk

"Esperamos que a oração destes dias em Portugal leve de novo o inimigo a recuar na guerra"

10 ago, 2023 - 06:30 • José Pedro Frazão

Foi uma pausa no dia a dia da guerra. Maksim Ryabukha saiu de Zaporizhzhia com dezenas de jovens, sobretudo raparigas, em autocarro, rumo a Lisboa e à Jornada Mundial da Juventude. Em entrevista à Renascença antes de regressar à Ucrânia, o bispo auxiliar de Donetsk disse esperar que a oração coletiva na JMJ possa ter impacto no terreno da guerra. Lisboa serviu para os jovens do Donbass perceberem que não estão sós, confessa no rescaldo da Jornada.

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É bispo de uma diocese que não consegue visitar. De formação salesiana, Maksim Ryabukha é bispo auxiliar de Donetsk na Igreja Greco-Católica da Ucrânia desde novembro. Como muitos dos que fugiram da ocupação russa, vive em Zaporizhzhia e é de automóvel que tenta percorrer toda a frente de batalha do leste da Ucrânia, uma vez que a jurisdição da diocese abrange o Donbass até Dnipro. Dois padres católicos continuam desaparecidos naquela zona ocupada pelos russos.

Em entrevista à Renascença, registada durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa e antes do regresso à Ucrânia, o bispo de Donetsk agradece o acolhimento português aos refugiados ucranianos, aguarda o impacto da oração pela Ucrânia no desenrolar da guerra e fala do encontro com o Papa Francisco em Lisboa.

Qual a importância desta Jornada de Lisboa para os jovens católicos de Donetsk ?

Em primeiro lugar, experimentámos viver nesta comunidade cristã, onde todos estão juntos. A adolescência é a idade em que todos conversamos e comunicamos uns com os outros. Depois da Covid-19 e com a guerra, perdemos formas de comunicarmos livremente. Portanto, esta Jornada Mundial da Juventude ajudou-nos a reunir e a comunicar com ucranianos de todo o mundo.

Para a juventude de Donetsk e de toda a área que está a ser atualmente bombardeada, estar aqui ajudou-os a ver que as pessoas os apoiam, não importa o que aconteça. Tantos jovens de todo o mundo vieram até nós, ucranianos, abraçando-nos, dizendo que rezaram por nós ou apenas ajudando-nos no geral.

Em segundo lugar, fomos a voz das pessoas que atualmente não podem estar aqui connosco. Esta Jornada Mundial da Juventude ajudou-nos a reunir como ucranianos e a mostrar às pessoas de todo o mundo quem somos e que não temos medo de o mostrar. Porque todos os corações unidos numa oração é algo grande, forte e poderoso para Deus.

Qual foi a importância do encontro do Papa com a juventude ucraniana?

Principalmente para nós, o encontro com o Papa foi um grande momento comunitário onde ele mostrou que nos entende e que nos ama. Ao conhecê-lo, deu-nos um sinal de que, não importa o que aconteça ou quem somos, ele sempre estará ao nosso lado, entendendo como os jovens da Ucrânia estão a viver esta guerra.

O Papa sentiu a dor que todos nós estamos a sentir atualmente durante esta guerra. Ele mostrou grande misericórdia para com todos nós. E todos os jovens da Ucrânia entendem que o amor de Deus é forte e vai-nos ajudar a vencer esta guerra. A paz maior que poderíamos ter é esta - não desistir e mostrar que somos a luz da Ucrânia.

A oração pode ajudar a obter a paz?

Sim, pensamos que a oração, em especial na Vigília, significa uma das grandes oportunidades para obter paz. Sentarmo-nos em silêncio é mostrar a nossa gratidão a Deus e aos grupos de jovens de diferentes países em geral. O amor que todos nos deram e que Deus nos está a dar, ajuda-nos a entender que somos amados pelas pessoas aqui em Lisboa e por todos os que infelizmente não puderam vir.

Pudemos ver isso quando, depois das grandes orações [N.R. refere-se à Consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria a 25 de março], os soldados que estão a lutar contra nós deram um passo atrás. Por isso, depois de Fátima e depois de Lisboa, esperamos que isso se repita e aconteça connosco na Ucrânia.

Em nome da Igreja e da comunidade ucraniana em todo o mundo, gostaríamos também de agradecer à juventude e ao povo de Lisboa e de Portugal por acolherem os refugiados ucranianos. Isso também nos ajuda a ter força e a sentir que vamos vencer. Nas vossas casas, vocês têm os nossos filhos e o nosso povo ucraniano. A vossa ajuda é a melhor e a única coisa que podemos fazer é agradecer-vos por isso. Vocês são a ajuda de que sempre precisámos. Que Deus vos compense pelo vosso amor e a vossa ajuda.

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