Aldeia de Santa Isabel. Um centro profissional para jovens à beira do abandono escolar

“Não tinha amigos, sentia-me excluída. Aqui é diferente.” Givanisia Rodrigues tem 16 anos e está na Aldeia de Santa Isabel desde setembro, no curso de Estética, que lhe vai dar equivalência ao 9.º ano. Com dificuldade em falar sobre a escola, onde não se adaptou, encontrou em Sintra, no Centro de Formação Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, uma janela de oportunidade.

Aqui, alunos com uma ou mais retenções na escola, e em situação de abandono ou risco de abandono escolar, podem escolher entre 14 cursos num sistema de oficinas, e que tem um duplo objetivo: que estes jovens completem o 6.º, o 9.º ou o 12.º ano; e que, ao mesmo tempo, recebam formação para uma profissão específica.

Agora, o objetivo de Givanisia é ir trabalhar assim que conseguir - e, quem sabe, abrir e ter a sua própria clínica de estética. Da Aldeia de Santa Isabel leva uma importante lição: “não julgar as pessoas, porque elas têm capacidade de fazer tudo o que querem”.

Nos seis hectares de aldeia, a conviver com estes 300 jovens a aprender uma nova vocação, está um lar e um orfanato.

Aquilo que antes era apenas um orfanato para rapazes recebe agora, além do centro de formação, a Casa de Acolhimento Padre Agostinho da Motta, onde estão cerca de 15 crianças, a que se somam 50 idosos do Lar São João de Deus.

A unir as três gerações, no centro da Aldeia de Santa Isabel, está a Praça da Alegria, um espaço onde a comunidade se junta para atividades que cruzam idades e diferentes cursos. Além disso, ao longo do ano, os utentes do lar são convidados a experimentar alguns dos cursos e a aprender com os seus alunos.

Um deles é o curso de Cabeleireiro e de Manicura, que têm um dia aberto “mãos e cabelo” no qual a aprendizagem é feita com “modelos vivos”: os residentes, as crianças, os jovens e os idosos da própria aldeia, mas também de fora.

A oferta do centro de formação vai desde a jardinagem, à costura e à pintura de automóveis, todas com acordos de estágio. Cada polo é um curso diferente e cada curso é uma “casa” da aldeia, todos integrados dentro da comunidade. A “cozinhar” está ainda um novo polo: a escola de restauração.

Nas aulas, estes alunos têm as disciplinas normais, como Português e Matemática, mas a matéria e os exercícios são ensinados e adaptados de acordo com a profissão que estão a aprender. Há ainda disciplinas especiais como Desenvolvimento Pessoal e Social e Cidadania e Mundo Atual, onde alunos sabem mais sobre o mundo que os rodeia.

Depois de percorrermos a aldeia, onde há até lugar para uma igreja e um jardim, chegamos à oficina de Carpintaria. Carolina tem 18 anos e está no último ano do curso que lhe dá equivalência ao 9.º ano, mas diz que este lhe ensinou “mais sobre a vida do que sobre a escola”.

“Estou mais adulta. Aprendi que temos direito a mostrar os nossos sentimentos e que chorar não é mau”, diz. Para si, que sempre gostou de trabalhos manuais, as aulas práticas são “terapia”.

“Estar concentrada a lixar ajuda a espairecer a mente, É como que o nosso momento de meditação, que nos ajuda a pensar e a ponderar as coisas”, diz.

Dos 15 alunos que entraram no curso consigo, apenas três continuam. Mas o objetivo de Carolina vai mais além do centro de formação: quer agora tirar um curso técnico de educação, que lhe dá acesso ao seu verdadeiro sonho, um curso superior em Psicologia.

Para além do trabalho que o curso exige, e dos trabalhos que fazem para a Aldeia de Santa Isabel, estes alunos reconstroem a sua personalidade enquanto estudam. No fim, deixam o centro de formação preparados para o mundo do trabalho e deixam a aldeia carregando uma mochila muito mais leve.