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Amadeo de Souza-Cardoso: “Um exemplo de vida de que o país precisa urgentemente”

25 jan, 2023 - 16:45 • Maria João Costa

Estreia esta quinta-feira Amadeo, o novo filme do realizador Vicente Alves do Ó. A longa-metragem encerra a trilogia que o realizador fez sobre criadores portugueses. É um filme que conta com as últimas participações no cinema de Eunice Muñoz e Rogério Samora.

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Amadeo, de Vicente Alves do Ó estreia nos cinemas
Amadeo, de Vicente Alves do Ó estreia nos cinemas

Vicente Alves do Ó tinha ideia de completar a trilogia sobre criadores portugueses com um filme sobre Sophia de Mello Breyner, mas ao visitar uma exposição sobre Amadeo de Souza-Cardoso, a personalidade do pintor português “impôs-se”.

O filme Amadeo chega esta quinta-feira às salas de cinema portuguesas e conta com um elenco irrepetível, porque tem os atores Eunice Muñoz e Rogério Samora naquelas que foram as últimas participações de ambos no cinema.

Em entrevista ao programa Ensaio Geral da Renascença, Vicente Alves do Ó fala do “privilégio” que foi trabalhar com estes atores, “com quem já estava a combinar coisas para o futuro”, sem saber que a morte atingiria os dois.

Para o principal papel do filme biográfico, Vicente Alves do Ó escolheu o jovem ator Rafael Morais. O realizador explica que gosta de “tornar os elencos muito ecléticos” e por isso mistura atores consagrados com quem está a começar.

“Da mesma forma que a mim me deram uma oportunidade, nos meus filmes gosto de dar oportunidade a quem tem talento.”

Num filme que tem direção de fotografia de Rui Poças, Vicente Alves do Ó conta o percurso do pintor que, em vida, apenas organizou duas exposições e que sonhou um reconhecimento artístico que só chegou muitos anos depois da sua morte.

Rodado em vários locais, desde logo em Amarante, de onde era o artista, o filme mostra a sua vida em família, o seu amor por Lucie, a amizade com Eduardo Viana, a vida em Paris e a doença.

“Tocou-me acima de tudo porque, como é que é possível que este homem tão diferente, tão revolucionário na sua maneira de estar e pensar, um pouco humilde, não está mais presente nas nossas vidas, como exemplo?” interroga-se Vicente Alves do Ó, que conclui: “Estas pessoas são exemplo de vida e de como nós podemos, apesar das nossas limitações, chegar muito longe. O país precisa urgentemente disso.”

Em entrevista ao Ensaio Geral, o ator Rafael Morais conta como se preparou para desempenhar o papel de Amadeo de Souza-Cardoso. Além de ter conversado muito com a família do pintor, teve acesso privilegiado a espólio do artista.

“Estivemos uma semana com o elenco e o realizador em Amarante, onde visitámos a casa do Amadeo, onde ele cresceu. Foi incrível, olhar pelas janelas onde ele olhou e onde se inspirou para pintar. Depois a Gulbenkian abriu os cofres antes de filmarmos e tive a hipótese de ver e tocar em materiais mesmo do Amadeo. Estojos, diários, pinceis, materiais de pintura e desenho e isso foi quase esotérico. Senti a energia de Amadeo”, conta Rafael Morais.

Segundo o ator, ter lido as cartas de Amadeo de Souza-Cardoso foi essencial para criar a personagem.

“Ele escrevia de uma maneira brutalmente honesta, em que falava abertamente dos seus sentimentos, dos medos, inquietudes, esperanças e do amor. Foi nesse lado mais humano em que baseei”, conta Rafael Morais.

No elenco, o filme conta ainda com atores como Ana Lopes no papel de Lucie e Lúcia Moniz no papel de Laura, a irmã de Amadeo de Souza-Cardoso, entre outros atores. Em entrevista à Renascença, Lúcia Moniz explica que ter lido a correspondência do pintor a ajudou a criar a sua personagem.

“A Laura era o elemento protetor da família. Era incentivadora e cúmplice” do artista, indica Lúcia Moniz, que conta que a sua personagem tinha um “instinto maternal” para com o pintor. Ao Ensaio Geral, a atriz conta que, na rodagem do filme, elenco e equipa se “tornaram numa família Souza-Cardoso”, tal foi a proximidade e cumplicidade no trabalho de filmagens.

Com produção de Pandora Cunha-Telles e Pablo Iraola, o filme Amadeo é produzido pela Ukbar Filmes, produtora de filmes como “O Homem que Matou Dom Quixote” ou “A Crónica dos Bons Malandros”, e conta com consultoria histórica de Marta Soares e apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual, RTP, Fundação Calouste Gulbenkian e PIC Portugal.

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