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Reações à morte

João Cutileiro. Ministra quer casa-museu “onde novas gerações possam aprender”

05 jan, 2021 - 10:29 • Marta Grosso com redação

O escultor João Cutileiro morreu nesta terça-feira. O artista plástico José de Guimarães recorda à Renascença o amigo que deixou uma marca ímpar. Diretora Regional de Cultura do Alentejo diz que João Cutileiro inspirou uma nova geração de escultores. Leia estas e outras reações à morte do escultor.

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A ministra da Cultura destaca a extensa obra de João Cutileiro, escultor que morreu nesta terça-feira de madrugada, aos 83 anos.

“É mais um dia triste para a cultura portuguesa”, afirma Graça Fonseca à Renascença. “João Cutileiro deixou muito à cultura portuguesa. Foi um artista extraordinário, um escultor da vida, com uma obra notável que está presente em Portugal, fora do nosso país em muitas coleções”, aponta.

Por tudo isso, Graça Fonseca quer transformar a casa-ateliêr de Évora em casa-museu-ateliêr.

“João Cutileiro decidiu doar o seu espólio ao Estado. São cerca 900 peças que estão na casa do João Cutileiro. Desejo que a casa, a sua casa, a casa onde sempre trabalhou, a casa-ateliêr seja uma casa pública, uma casa-museu-ateliêr, onde as novas gerações possam aprender”, avança.

Nestas declarações à Renascença, a ministra da Cultura lembra que, em maio, parte do espólio de João Cutileiro vai poder ser visto em Foz Coa.

“Um escultor ímpar para a sua época” – José de Guimarães

Ouvido também pela Renascença, o artista plástico José de Guimarães recorda o amigo, que deixou uma marca ímpar na cultura portuguesa.

“Eu conheço o João desde os meus primeiros passos, quase, nas artes. Trabalhámos na mesma galeria durante muito tempo. Ele era uma simpática, um autor com uma grande capacidade de trabalho”, conta.

“Foi um escultor original e ímpar para a sua época. Houve muitos escultores contemporâneos, mas ele, na época em que viveu, desenvolveu uma atividade artística bastante acentuada, importante e a obra dele está para aí espalhada em inúmeros sítios”, acrescenta, dando como exemplo “a de D. Sebastião, em Lagos, o monumento ao 25 de Abril, aqui em Lisboa”.

“E, a par das obras públicas, há um conjunto de obras espalhadas, quer em instituições, como por exemplo a Fundação Gulbenkian”, acrescenta.

“Amigo e mestre” – José Pedro Croft

O artista plástico José Pedro Croft fala de João Cutileiro como "um grande amigo e um mestre", que conheceu aos 20 anos e com quem trabalhou.

"Fui seu assistente. Na altura eu estava a estudar pintura e convidou-me para trabalhar com ele, e eu fui. Larguei tudo e fui para Lagos. Foi uma amizade que durou mais de 40 anos", recorda José Pedro Croft à agência Lusa.

O artista considera que Cutileiro foi "uma referência" para o seu trabalho e para a sua vida "na ética e como modelo, de enorme talento e enorme coragem de ser artista num país que também não é fácil".

uma obra grande, que fica difícil de resumir em poucas frases", frisou, realçando a "enorme vitalidade e a enorme vontade de viver" de João Cutileiro.

Croft sublinha ainda que Cutileiro começou nos anos 1950, numa altura em que "a escultura estava muito dependente das encomendas da estatuária".

“Um dos artistas maiores do sec. XX” – Ana Paula Amendoeira

A diretora regional de Cultura do Alentejo considera que João Cutileiro representa um marco na escultura em Portugal, com um papel fundamental na inspiração de uma nova geração de escultores.

“O escultor João Cutileiro é, de facto, um dos artistas maiores do século XX português e um marco no que diz respeito à escultura em Portugal, mas não só – ele está representado em coleções em todo o mundo, em todos os continentes”, começa por afirmar, em declarações à Renascença.

Na opinião de Ana Paula Amendoeira, o escultor falecido nesta terça-feira “teve um trabalho absolutamente extraordinário, quer em quantidade quer em qualidade. Ele trabalhava muitíssimo”.

Recordando em traços largos a carreira de João Cutileiro, a diretora regional de Cultura do Alentejo diz que João Cutileiro “teve a sua formação fora de Portugal, mas depois radicou-se em Portugal a partir dos anos 70 em Lagos, onde tem uma das suas peças mais icónicas – o D. Sebastião, que marca uma rutura com a escultura pública que se via na altura em Portugal”.

“Depois vai para Évora, onde viveu até agora e onde trabalhou muitíssimo e teve um papel fundamental também na criação de novas gerações de escultores. Eu recordo que o João Cutileiro teve um papel absolutamente central na organização do simpósio internacional de escultura em pedra, que é um marco na área da escultura em Portugal”, destaca ainda.

“A maior das admirações” – João Soares

João Soares privou com João Cutileiro. “Tive oportunidade de o conhecer. Por razões familiares, fomos muitas vezes a casa dele, primeiro em Lagos, numa casa-atelier absolutamente deslumbrante, e depois em Évora”, diz à Renascença.

“Tenho a maior das admirações pela obra e pelo percurso pessoal e profissional do João Cutileiro. Foi, de facto, uma figura marcante do século XX e também do século XXI português, no plano cultural, e até cívico”, considera.

Évora quer “perpetuar o nome" de João Cutileiro

O presidente da Câmara de Évora, apesar de saber que “João Cutileiro já estava doente”, recebeu “com mágoa” a notícia da morte do escultor, que considera “uma figura que marcou a cultura nacional” e “a escultura em Évora e no país”.

“É uma referência para a cultura”, reforça Carlos Pinto de Sá.

O autarca avança à Renascença que pretende “perpetuar o nome do João Cutileiro e a influência, o trabalho que teve na escultura”, mas não diz ainda como.

Quanto ao espólio do escultor, “vamos ponderar como será possível fazer a divulgação da sua obra, juntamente com a família”, diz ainda.

Em 2016, João Cutileiro decidiu doar o seu espólio à cidade de Évora, onde vivia e trabalhava, para a criação de uma casa/museu, projeto a desenvolver em conjunto pela Direção Regional de Cultura do Alentejo, a Universidade de Évora e a Câmara.

“Perda para Portugal” – Galeria Monumental

A direção da Galeria Monumental lamenta a morte do escultor João Cutileiro, considerando-a "uma perda para todos, para Portugal" e "uma mágoa particular para a

Galeria Monumental, que sempre o contou entre os seus amigos mais dedicados”.

“Ainda em dezembro de 2019, já muito debilitado, fez questão de nos enviar desenhos, feitos propositadamente, para a exposição de ‘Pequenos Formatos’, em que sempre participou", lê-se no comunicado enviado à Renascença.

Na mensagem, a Galeria Monumental saúda ainda a pintora Margarida Lagarto, uma artista que também tem estado presente naquele espaço e "companheira inquebrantável de todas as horas" de João Cutileiro.

"Vamos sentir muito a sua falta", finaliza a nota.

João Cutileiro morreu aos 83 anos, no hospital Pulido Valente, em Lisboa, onde estava internado com problemas respiratórios.

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