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Pastoral da Família

“Os pais são especialistas nos seus filhos”, diz Ana Teresa Brito

13 nov, 2020 - 15:42 • Filipe d'Avillez

O segundo webinar sobre educação, promovido pela Pastoral da Família, perguntou se os pais são competentes para educar os seus filhos. A conclusão dos participantes é que sim, mesmo que por vezes precisem de “um empurrão”.

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Os pais não só são competentes para educar os seus filhos, como são mesmo os maiores especialistas no assunto. Quem o diz é Ana Teresa Brito, formada em educação de infância e em psicologia, professora no ISPA e na Escola Superior de Educação Maria Ulrich, com um doutoramento em Estudos da Criança.

Oradora principal do segundo webinar da série organizada pela Pastoral da Família do Patriarcado de Lisboa, Ana Teresa Brito respondia à pergunta “serão os pais competentes para educar os seus fillhos?”

“A resposta emergiu em mim plena e inteira. Sim, os pais são especialistas nos seus filhos. O que trago é a força deste sim, que diariamente me dá o rumo em educação de infância, na forma sistémica, ecológica, carregada de respeito, afeto e esperança como perspetiva. Uma perspetiva preventiva, de escuta, de colocar ao serviço das famílias e crianças tudo o que somos, tudo o que sabemos”, explicou Ana Teresa Brito, no arranque desta segunda sessão.

A especialista conclui que “é no contexto familiar que ocorrem as mais importantes interações e experiências na vida das crianças e que estas são essenciais ao seu desenvolvimento. É hoje consensual que o desenvolvimento e bem-estar das crianças pressupõe que toda a família seja apoiada e envolvida neste processo.”

Sobre a questão inicial, Ana Teresa Brito cita o pioneiro da pedagogia, Terry Brazzleton, que disse que a competência dos progenitores “não é algo que os pais têm de nos provar, mas antes a forma como devemos ir ao seu encontro”.

A competência natural dos pais para educar os seus filhos não implica, todavia, que isso aconteça sempre de forma perfeita. Para falar desses casos mais complicados esteve presente também a psicóloga Filipa Fonseca, que trabalha no Núcleo de Apoio aos Jovens em Risco, do hospital Amadora-Sintra.

Para além de casos de evidente abuso a que algumas crianças são sujeitas, há formas mais escondidas de as prejudicar no seu desenvolvimento. “Temos crianças e adolescentes que acabam por crescer entregues a si próprios, ainda que tenham tudo aquilo que qualquer criança e jovem gosta de pedir, telemóveis topo de gama, roupa de marca, uma rede enorme de amigos, mas falta-lhes uma parte afetiva em casa, a atenção, o saber como correu o dia, o que aprendeste hoje? O que é que fizeste?”

“Pergunto aos pais quem são os amigos dos filhos e muitas vezes não sabem. Estão tão ocupados que não sabem quem são as pessoas que convivem a maior parte do dia com os seus filhos e isto vai potenciar um crescer só. Chega uma altura em que surgem comportamentos de risco, como o procurar outras relações, online, que funcionam como um escape. E de repente há pais que se apercebem destas dificuldades e pedem ajuda.”

Apesar das más experiências com que convive diariamente por razões profissionais, Filipa Fonseca não perde o seu otimismo. “Sim, os pais são competentes, mas às vezes precisam de um empurrão para potenciar essas competências parentais que têm.”

Liberdade, muita responsabilidade e uns pedidos de desculpa

Também presente, a ocupar um lugar intermédio, esteve Joana Sequeira. Formada em psicologia organizacional a Joana tem apenas 23 anos e não é casada, pelo que trouxe para o debate sobretudo a experiência de filha e de jovem com uma larga experiência de atividade em ação social, tendo sido responsável da Missão País e fundadora do ConVidas, que atua em lares de terceira idade em contexto de Covid.

Falando da sua experiência com os seus pais, Joana Sequeira começou por sublinhar que ao contrário dela eles não são católicos praticantes, nem “conhecem e amam Jesus”, mas que, todavia, foi graças à liberdade que sempre lhe deram que ela conseguiu fazer esse caminho de fé.

“Sempre me foi dada muita liberdade e muita responsabilidade. Sempre com limites, claro, mas nunca fui obrigada a nada. O obrigatório nunca resulta. Tinha amigas que eram obrigadas pelos pais a ir à missa, e por isso deixaram de querer ir. A mim sempre me foi dada esta liberdade”, diz.

Esta é uma liberdade que dispensa uma cultura de castigos ou até de conversas forçadas: “Mostrar que estão orgulhosos motiva-nos a sermos melhores filhos e pessoas, tal como um ‘estou desiludido’ é muito mais forte do que nos porem de castigo”, explica, sublinhando depois que essa ausência de conversas e de partilha pode não ser preocupante.

“Às vezes há coisas que não temos de partilhar com os nossos pais, são pais e não têm de ser os nossos melhores amigos. E de facto é bom que não sejam. Os pais devem também perceber que se ela não quer falar do final deste namoro, não faz mal, ela fala com as amigas, e não fazer disto uma grande tempestade. Eu sou muito reservada, os meus pais respeitam esse espaço. Mas se houver alguma coisa muito grave sei que vou partilhar com eles, porque sei que eles também partilhariam.”

Da perspetiva de progenitor, Ricardo Zózimo, o outro participante do webinar, falou da importância de os pais terem também a noção de que às vezes é preciso ser humilde. “Peço muitas vezes desculpa. É como eu lido com as expetativas dos filhos. Digo coisas de que me arrependo, e vou lá e peço desculpa.”

“Hoje em dia os estímulos à volta das crianças têm uma dimensão que não tem nada a ver com a nossa vida. Nós não fomos educados nestes estímulos, não sabemos o que são. E por isso avaliamos mal a situação. Eu avalio muitas vezes mal a situação. Portanto quando faço alguma coisa mal, no dia seguinte peço desculpa. Isso é importante na gestão das expetativas, no sentido de os preparar para que as pessoas nem sempre tem a reação que nós queremos, em relação a nós, não fazemos sempre a coisa certa. E as expetativas são de que o pai está disposto a viver uma vida séria consigo, está disposto a pedir desculpa e espera o mesmo do outro lado, que quando fizer uma coisa que não foi suficientemente dentro das regras da família, peça desculpa”, conclui.

Este foi o segundo de quatro webinars organizados pela Pastoral da Família. O objetivo destas sessões, para além da formação pessoal e em família, é de contribuir para as jornadas da Pastoral da Família e para a criação, mais tarde, de uma Escola de Pais para ajudar as famílias, correspondendo assim à solicitação feita por D. Manuel Clemente, na abertura da primeira sessão.

“O valor dos adultos para as crianças e jovens”, com contribuições de Henrique Leitão, Joana e José Quintela, Maria Patrocínio e Filipa Carvalho será o tema no dia 3 de dezembro e no dia 10 o ciclo termina com um seminário dedicado à “Liberdade de Educação”, que contará com a presença de Miguel Assis Raimundo, Catarina Teixeira Duarte, Pedro Morais Vaz e a Inês e o Jaime Forero.

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