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Páscoa sem missa? Há cristãos no mundo para quem isso é o normal

10 abr, 2020 - 08:00 • Filipe d'Avillez

Catarina Martins Bettencourt, da Ajuda à Igreja que Sofre, vê esta pandemia como uma oportunidade para os portugueses se identificarem com aquilo que é vida dos cristãos perseguidos em várias partes do mundo, desde a Síria até à Venezuela.

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O facto de os portugueses terem de viver a Páscoa – ponto alto do calendário cristão – nas suas casas pode ser entendido como uma oportunidade para se identificarem com comunidades espalhadas pelo mundo em que a fé sem acesso aos sacramentos é a norma, e não é menor por isso.

Para Catarina Martins Bettencourt, presidente da delegação portuguesa da fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), “o que nós hoje estamos aqui a viver na Europa e em Portugal – estarmos confinados em casa, não podermos ter acesso aos sacramentos, às celebrações – em muitos países isto é o dia-a-dia.”

“Esta é a realidade de muitos dos cristãos que efetivamente não podem celebrar, não podem exercer livremente a sua fé, não podem ter acesso aos sacramentos, ou podem só muito raramente, de forma escondida, clandestina, sempre arriscando a própria vida”, explica.

“E nem por isso eles deixam de ser cristãos, deixam a fé ficar abatida. De facto a experiência que temos, os testemunhos que recebemos desta Igreja perseguida, desta Igreja que Sofre, é que estas pessoas que sofrem estas dificuldades diariamente acabam por ter uma fé muito forte, muito bem estruturada, muito bem assente e muito certos do que é a sua fé e desta confiança total em Deus e colocar as suas vidas em Deus.”

A AIS mantem contacto próximo com comunidades cristãs de praticamente todo o mundo, muitos dos quais vivem em estados de grande pobreza ou de feroz perseguição. Para esses, a pandemia é apenas mais uma preocupação com que têm de lidar, mas Catarina Martins Bettencourt diz que os testemunhos que chegam à organização são de total confiança em Deus.

“O estado de espírito é este, de confiança total em Deus, de colocar a nossa vida nas mãos de Deus e fazermos a nossa parte, que é esta de estarmos confinados e termos os cuidados necessários. Mas de facto as comunidades cristãs com quem temos contactado continuam, muitas delas, a passar mais dificuldades, porque é mais difícil ter acesso a determinados bens essenciais, mas continuam animadas e com esperança de que as coisas irão melhorar.”

“Sem Deus não somos nada, com Ele podemos tudo”

Destas comunidades, as que mais preocupam estão em África, onde a Igreja é muito pobre e as populações têm poucos meios para enfrentar mais esta ameaça, e também a Síria e a Venezuela, países destroçados por conflitos internos que não pouparam os sistemas de saúde, hoje praticamente inexistentes.

Nestes dias, porém, a AIS tem conseguido comprovar que a crise também faz sobressair o melhor de cada homem. “Esta crise acaba por trazer ao de cima o melhor que o Ser Humano tem. Estas generosidade, esta capacidade que temos de entreajudar-nos, de estar junto daqueles que mais necessitam. Quantos de nós se calhar durante esta crise já falou com os vizinhos, está disponível para ajudar os vizinhos, telefonou ao amigo com quem não falava há tanto tempo. Todos estes sentimentos que temos de solidariedade, de apoio, de entreajuda na comunidade acabam por sobressair nestes momentos de crise”, diz Catarina Martins Bettencourt.

“Na AIS temos tido contactos muito interessantes que mostram mesmo esta generosidade, de pessoas que nos dizem que estão a sofrer com estas dificuldades de estarem fechados em casa, de não terem acesso aos sacramentos, às celebrações (quantos não irão perder o emprego durante esta crise?) Tudo isto é muito difícil, mas os que os nossos benfeitores têm dito é que os cristãos perseguidos continuam a precisar da nossa ajuda mais do que nunca, porque continuam a ser perseguidos e agora têm esta dificuldade acrescida que é a pandemia, que está praticamente em todo o mundo e todos os países têm sido mais ou menos afetados.”

“E por isso a comunidade cristã que vive nestes países onde é perseguida precisa mais do que nunca da nossa ajuda, e isso tem sido bonito de ver, a generosidade dos nossos benfeitores que em vez de darem cinco euros passam a dar 10 euros, de pessoas que acabam por dar um donativo maior do que era hábito, porque sabem que as necessidades são maiores neste momento. Portanto esta crise acaba por trazer ao de cima o melhor que o homem tem e de mostrar este afeto, esta genuína preocupação pelo outro que está em mais dificuldades do que nós”, conclui.

A presidente da AIS Portugal termina partilhando uma mensagem recebida recentemente da Venezuela, onde a ajuda dada pela fundação tem permitido servir cerca de duas mil refeições por dia numa cantina paroquial. “Nos últimos quatro anos aprendemos a compartilhar as nossas bênçãos, tudo o que recebemos é para compartilhar com os outros. Mas o maior ensinamento que recebemos foi que sem Deus não somos nada e, com Ele, podemos fazer tudo.”

“Por isso, bendito seja Deus, bendito seja o nosso Pai, o nosso guia nestes dias”.

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