09 nov, 2017 - 12:00 • Filipe d'Avillez
O Papa Francisco aprovou esta sexta-feira o decreto que abre caminho á beatificação da irmã Leonella Sgorbati, que foi assassinada na Somália em 2006, como represália pelo discurso do Papa Bento XVI em Ratisbona.
A freira das missionárias da Consolata foi para a Somália em 2002, numa altura em que o país já era um local de altíssimo risco, estando sem Governo funcional e com uma população quase exclusivamente islâmica, com grande influência extremista.
Sgorbati estava ciente dos riscos mas, segundo a sua ordem religiosa, “via com entusiasmo a possibilidade de gerir o centro de formação de enfermeiras, preparando enfermeiras para o único hospital na Somália”.
No dia 12 de Setembro de 2006 o Papa Bento XVI proferiu um discurso na Universidade de Ratisbona. O tema era essencialmente académico, mas o Papa citou uma frase de um texto antigo em que um imperador bizantino acusava o Islão de nada ter trazido ao mundo se não a guerra. Ratzinger pretendia sublinhar que a religião devia ser compatível com a razão, mas quando a frase começou a circular grande parte do mundo islâmico interpretou-a como expressando a opinião pessoal do Papa e sucederam-se manifestações de repúdio e uma verdadeira crise entre a Igreja Católica e o Islão.
Foi neste contexto – embora a causa directa nunca tenha sido comprovada – que militantes islâmicos na Somália assassinaram a irmã Leonella, com tiros pelas costas. A freira não morreu logo, mas enquanto foi assistida as suas últimas palavras foram “eu perdoo, eu perdoo”. O seu guarda-costas também morreu.
O reconhecimento das “virtudes heroicas” da irmã Leonella é uma fase central do processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade.
A aprovação de um milagre é agora o passo necessário para a proclamação da irmã como beata.