19 out, 2015 - 12:50 • Filipe d'Avillez
A situação no terreno em Alepo, na Síria, nunca esteve tão difícil, diz a irmã Annie Dermajian, que vive na segunda mais importante cidade do país desde 2004.
“Desde que começou a guerra, temos tido a situação dos deslocados no país, a fuga em massa para os países vizinhos, para a Europa, bem como mortes e feridos e perda de infra-estruturas no país. Muitas casas foram destruídas e danificadas, fábricas foram pilhadas, muitos locais de emprego foram destruídos ou estão em estado de difícil reparação. As escolas e os hospitais foram destruídos ou, caso ainda funcionem, os sistemas foram muito prejudicados”, explica.
A vida naquela cidade, dividida entre rebeldes e forças leais ao regime, é cada vez mais difícil. “Os que querem permanecer, ou que não conseguem fugir, estão num estado de verdadeira pobreza. Há longos cortes de electricidade e de água. A vida não é fácil para as famílias”, diz a freira, que esteve em Portugal a convite da Ajuda à Igreja que Sofre para participar nas conferências que assinalaram os 20 anos daquela fundação em Portugal.
Apesar de tudo, porém, a irmã Annie diz que a fé dos cristãos está cada vez mais forte. “Há um verdadeiro crescimento espiritual e as famílias precisam do apoio e do acolhimento da liturgia e da oração que as igrejas oferecem. As igrejas enchem quando há missa ou momentos de oração. Acho que a crise fortaleceu a nossa fé e isso nota-se na oração das pessoas, a forma como rezam, como confiam no Senhor, a forma como mantêm a esperança de que um dia haverá uma ressurreição.”
A esperança de que um dia as coisas melhorem fará sentido? Em 1915, mais de um milhão de cristãos arménios, assírios e gregos foram mortos no Império Otomano. Em 1933, o massacre de Simele levou à morte de até 3 mil cristãos na região de Mossul, no Iraque, precisamente a mesma zona de onde centenas de milhares de cristãos foram obrigados a fugir do Estado Islâmico. Actualmente, tanto no Iraque como na Síria a perseguição aos cristãos é uma realidade diária. Tendo isto em conta, faz sentido falar de esperança para o futuro?
A irmã Annie faz uma pausa longa antes de responder. “Se recuarmos ainda mais na história veremos que desde o início sempre tivemos tempos de dificuldade e tempos de paz. O que procuramos é viver em paz e em diálogo. Não é fácil… Os nossos queridos cristãos sempre enfrentaram perigos e dificuldades por Cristo”, mas conclui: “Se realmente acreditamos em Cristo, então o que vale a nossa vida?”
Cristãos precisam de saber que não estão sós
Perante as notícias que chegam da Síria, são muitos os que se questionam sobre como podem ajudar os cristãos que lá se encontram.
A irmã Annie insiste que por vezes apenas basta saber que há alguém a rezar por eles.
“Quando estamos com dificuldades é muito importante sentirmos que está alguém ao nosso lado. Sentimos que não estamos sós. Muitas pessoas no mundo estão a rezar por nós, a apoiar-nos com bens materiais mas também com as suas orações. Esta é a beleza da Igreja. Somos um corpo: mesmo quando uma parte pequena do corpo está a sofrer, todo o corpo está a sofrer. Sentimos que os nossos irmãos estão mesmo a sofrer connosco e estão sempre a enviar-nos mensagens de apoio. Esta preocupação com o que se está a passar é uma coisa muito bonita.”