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Entrevista Renascença

Albuquerque admite contactos com Chega sobre eventual acordo na Madeira: “Já falámos sobre isso"

23 mai, 2024 - 23:59 • Tomás Anjinho Chagas (na Madeira)

Líder do PSD/Madeira apoia uma eventual candidatura de António Costa ao Conselho Europeu e diz que se perder as eleições no domingo não deve manter-se no cargo. Albuquerque assume que já conversou com o Chega sobre cenário pós-eleições.

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Entrevista a Miguel Albuquerque, líder do PSD/Madeira e presidente do governo regional
Oiça aqui a entrevista a Miguel Albuquerque, líder do PSD/Madeira e presidente do governo regional. Foto: Tomás Anjinho Chagas/RR

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Entrevista a Miguel Albuquerque, líder do PSD/Madeira e presidente do governo regional

Já tinha admitido entendimentos com o Chega mas, em entrevista à Renascença, o presidente do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, vai mais longe e revela que já falou com o Chega/Madeira sobre o cenário pós-eleitoral.

O atual presidente do Governo regional madeirense - que caiu depois de uma investigação judicial - acredita que tudo parte de "forças políticas" que fazem denúncias para "deitar governos abaixo". Sobre uma eventual candidatura de António Costa ao Conselho Europeu, Miguel Albuquerque apoia o antigo primeiro-ministro e diz que "tem tudo para substituir Charles Michel".

Recebe a Renascença na Quinta Vigia, sede do Governo da Madeira, na reta final da campanha para as regionais.

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"Já falámos sobre isso, como é óbvio": Albuquerque admite contactos com Chega sobre eventual acordo na Madeira:

Está preocupado com o consumo de drogas sintéticas aqui na região?

Estamos preocupadíssimos, temos feito um esforço com as autoridades judiciais e médicas para estarmos sempre a atualizar as tabelas. Existe tratamento e acompanhamento, mas é uma situação muito complicada.

E de onde aparecem estas substâncias?

São drogas que muitas vezes aparecem no mercado como meros produtos comerciais. Não são tipificadas. Agora temos uma comissão para atualização no quadro nacional destas drogas. Muitas delas aparecem em lojas de adubos e que depois são usadas, de forma catastrófica, para esse fim.

Houve eleições em setembro aqui na Madeira. Acha que os resultados vão ser muito diferentes?

Ganhamos em setembro, voltámos a ter eleições [legislativas] em março e tivemos mais dois mil votos. A minha esperança é que os madeirenses continuem a reconhecer o esforço e os bons resultados do nosso Governo.

Reconhece que agora tem uma missão mais difícil?

A minha missão nunca foi fácil. Sempre fui um homem de ir a eleições e de combate político. Temos por um lado de mobilizar o nosso eleitorado e acho que temos o partido mobilizado.

Tem falado com Luís Montenegro?

Tenho. A última vez quando foi a aprovação dos candidatos para o Parlamento Europeu.

Como é que olha para a escolha de Sebastião Bugalho como cabeça de lista?

Acho que é uma boa escolha. Eu discordei não foi do Sebastião Bugalho, foi da Madeira não ter um lugar elegível pela primeira vez.

Sente falta de Luís Montenegro para dar força ao PSD Madeira?

São eleições regionais. Não somos como o PS que precisa dos seus líderes nacionais, eles é que precisam dessas muletas. Não precisamos, toda a gente sabe quem eu sou. O candidato sou eu, o Luís Montenegro é primeiro-ministro.

Acha que Luís Montenegro vai aguentar esta legislatura até ao fim?

Espero que sim. Os governos minoritários estão sempre sujeitos a contingências. No início houve aquele pacto entre PS e Chega, que eles diziam que não existia, para aprovar a abolição das portagens das SCUTs. Estava a Assembleia da República a governar e o Governo a olhar. Espero que isso não se mantenha e que o programa de Governo se consiga cumprir. Os governos minoritários são muito instáveis. Mas esta iniciativa do aeroporto foi excelente. Mostra que o primeiro-ministro vem aqui para tomar decisões.

Que conselhos lhe daria para resistir a esta situação de desgaste político?

Eu não dou conselhos a ninguém. Recebo conselhos da minha mulher, todos os dias. [ri-se]

Teme que seja formada uma geringonça aqui na Madeira?

Pode vir a acontecer, mas espero que não. Quem decide são os eleitores, eu não decido nada. O exemplo do continente é bom para cá...

Teme que se repitam estes microciclos políticos na Madeira?

Espero que não, precisamos de aprovar o orçamento o mais rapidamente possível. Precisamos de aprová-lo até 15 de julho, o que é um prazo muito curto. A Madeira vai atingir este ano o maior crescimento económico de sempre, temos pleno emprego, as coisas estão a correr muito bem em todos os setores e não podemos entrar em disfuncionalidades.

Se tiver de fazer uma coligação com o Chega, está disposto a oferecer secretarias regionais ao partido de André Ventura?

Essa questão não se coloca agora. Eu não consigo fazer cenários antes das eleições, depois das eleições decidimos o que fazemos. Aí temos um cenário que já não é abstrato, é resultado da vontade do povo. As diligências são feitas em função desse cenário. Não lhe posso dizer o que vai acontecer, depende dos resultados.

Já falou com o líder do Chega/Madeira sobre isto?

Ultimamente não falei com ele, falei na tomada de posse do Governo, mas já falámos sobre isso, como é óbvio.

Tem alguma ideia preparada?

Não, acho que não.

E já falou com André Ventura?

Falei durante a tomada de posse do Governo. Mas foi uma conversa cordial, nada teve a ver com os cenários da Madeira.

Se ganhar as eleições e o processo judicial avançar a meio do mandato, tem condições para se manter no cargo?

Há um processo de averiguações, se prosseguir, há instrução. Depois há julgamento, trânsito em julgado, sentença... São processos que demoram muito tempo e não são compatíveis com o tempo político. Têm havido denúncias anónimas utilizadas para condicionar as políticas e deitar governos abaixo, como aconteceu a nível nacional. A culpa não é do Ministério Público, é de quem faz estas denúncias. Está-se a fazer denúncias disparatadas, com argumentos falsos. Isto é uma autoestrada para os partidos populistas. O primeiro-ministro já se demitiu há quase um ano e você ainda não sabe o que se passou.

Este tipo de denúncias têm sido feitas de forma premeditada?

Claro, nós não somos ingénuos nem somos parvos. Muitos desses instrumentos são utilizados, não para fazer justiça, mas no sentido de obter objetivos políticos.

Quem é que as faz?

São forças políticas, com interesses na desestabilização política e na fragilização das democracias liberais, é óbvio.

Se perder, Miguel Albuquerque mantém-se como líder da oposição?

[Ri-se] Isso é uma boa pergunta... penso que não. Se perder não.

Falou em António Costa e na forma como a sua carreira política ficou estagnada. Acha que a sua corrida ao Conselho Europeu tem pernas para andar?

Acho que sim. Eu apoio o António Costa, acho importante termos lá um português. Ele tem tudo para substituir Charles Michel e ser presidente do Conselho Europeu, mas vamos ver, ele está condicionado por esse processo que nunca mais acaba. Era importante para o país ter lá um português.

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