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Paulo Raimundo: O fim do PCP? "Esperem sentados". O partido "está condenado a crescer"

13 nov, 2022 - 13:53 • Susana Madureira Martins , Tomás Anjinho Chagas

Na primeira intervenção como secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo agradeceu a Jerónimo de Sousa os 18 anos à frente do partido e aconselhou com um "esperem sentados" a quem quer que "salive e desespere pelo do PCP". A estratégia do partido e do novo líder é a mobilização total na contestação ao PS e ao Governo a quem avisa: "não ficou de mãos livres".

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O primeiro discurso de Paulo Raimundo como líder do PCP - c
Reportagem de Tomás Anjinho Chagas

Os minutos que antecederam a intervenção de Paulo Raimundo no encerramento da conferência foram um dos dois momentos de verdadeira emoção da conferência nacional do PCP deste fim de semana. Ao fim de incontáveis discursos durante dois dias que mexeram pouco com os delegados e os militantes, o Pavilhão Alto do Moinho, em Corroios rebentou em aplausos e gritos de "PCP! PCP!".

E mais à frente, já na reta final do discurso, Raimundo dirigiu-se diretamente a Jerónimo de Sousa, o líder que agora substitui: "Obrigado! gritou o novo secretário-geral comunista perante uma plateia que delirou. "A alteração das tuas responsabilidades não significa um adeus, é um até já, camarada", atirou.

O discurso serviu antes de mais para o novo secretário-geral dar uma garantia ao partido: "vamos continuar o nosso trabalho ". O líder mudou e tem pressa de ir para a rua, para "apoiar e reforçar as organizações e movimentos de massas, com destaque para a organização da classe operária e dos trabalhadores, o movimento sindical unitário, a CGTP-IN e as comissões de trabalhadores".

A mensagem da conferência nacional é toda essa. No primeiro discurso ao partido e ao país, Raimundo quer contar com todos. O reforço do partido "é tarefa dos comunistas agindo em unidade com trabalhadores das mais diversas opções e origens". Todos contam, venham de onde vierem: "não estamos, nem queremos estar sós", conclui o líder.

Tem sido esta a mensagem dos últimos meses por parte do PCPa de que conta "com milhares e milhares de pessoas, muitas sem partido", numa "ligação que importa desenvolver e alargar nas mais diversas áreas e sectores".

O partido já não tem vergonha de dizer que precisa mesmo de ajuda e Raimundo faz peito feito e atira que "aqui não escondemos as nossas próprias insuficiências".

Há desafios definidos pelo novo secretário-geral: "avançar na propaganda e imprensa partidária em particular no Avante; garantir o reforço da capacidade e independência financeira do Partido", reconhecendo assim as dificuldades de liquidez do partido, agravadas, por exemplo, pela perda de representação parlamentar que fez diminuir a subvenção partidária.

Raimundo assume para o partido e, no fundo, para si próprio, que "o que vai determinar no presente e no futuro é a nossa capacidade de responsabilizar, recrutar e de estar ainda mais enraizado nas massas". É bater à porta de todos e cada um, antes que o partido bata a sua própria porta.

A maré está alta e "há quem salive e desespere pelo fim do PCP". Pois a esses o novo líder deixa o conselho: "esperem sentados". Raimundo vai mesmo mais longe e faz fé absoluta na correção da rota estratégica do partido marcada pela contestação social e de batida ao terreno: "um Partido assim e como aqui se reafirmou na Conferência, a única coisa a que está condenado é a crescer e a alargar a sua influência".

É a mobilização total, após a derrocada eleitoral do partido no pós-geringonça, com o apelo "que todos e cada um dê mais um pouco, faça mais um esforço". Não só aos que estão dentro da bolha do partido, mas "a toda a sociedade".

A tese de que o partido não está isolado, nem só, é reforçada por Raimundo com "os 2 mil novos militantes que aderiram ao Partido desde o inicio do ano passado e com os milhares que serão membros do Partido nos próximos anos".

A rutura com o PS das "manobras para cortar reformas e pensões"

Primeira mensagem, mobilizar e "reforçar o partido". A segunda vai para a identificação do alvo desse reforço: a maioria absoluta do PS. "Na conferência não há manobras para cortar reformas e pensões", numa alfinetada aos apoios do Governo aos pensionistas.

Numa altura em que está aberto o processo de revisão constitucional, o líder do PCP atira que "na Conferência não foram cozinhados novos assaltos à democracia, alterações às leis eleitorais e laborais ou golpes à Constituição".

Os comunistas entretêm-se a colar o PS pós-geringonça a toda a direita parlamentar, tratando-se de um partido que acusam de tudo ter feito "para forçar eleições antecipadas", que "queria uma maioria absoluta" que "conseguiu" e "os resultados estão à vista". Mas, nem assim, e "ao contrário do que pensou, o Governo não ficou totalmente de mãos livres".

Política de "contas certas" só para a "banca, a EDP, a GALP, a Jerónimo Martins, a Sonae". Esta, acusa Raimundo, é a opção do "Governo do PS, bem evidente no Orçamento do Estado". E é também "a opção de fundo de PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal", atira o novo líder comunista, que ignora todos os restantes partidos com representação parlamentar: Bloco de Esquerda, PAN e Livre.

É contra esta frente de um PS somado à direita parlamentar que o líder comunista pede a organização total de "um partido onde todos se constituem como um só, um partido onde a sua unidade e coesão depende também do papel, dedicação, intervenção, militância de cada um". Resta saber, se isto chega para melhorar resultados eleitorais do PCP. Mas sobre isso, nem uma palavra de Raimundo.

[notícia atualizada às 14h37 de domingo, 13 de novembro de 2022]

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