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Iniciativa Liberal

​Entrevista a Rui Rocha. "Primeiro-ministro utiliza o Chega para se autopromover, é lamentável"

26 out, 2022 - 06:50 • Manuela Pires

Candidato à sucessão de João Cotrim Figueiredo na liderança da Iniciativa Liberal quer um partido com uma "presença muito forte no terreno" e com representação em mais pontos do país. Rui Rocha garante às 272 mil pessoas que nas últimas legislativas votaram na IL que é a "alternativa de continuidade no partido".

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"O primeiro-ministro utiliza o Chega para se autopromover e isso é lamentável", afirma Rui Rocha, candidato à liderança da Iniciativa Liberal (IL), em entrevista à Renascença.

Rui Rocha diz que a sua candidatura é “a alternativa de continuidade” no partido. O deputado, que conta com o apoio de João Cotrim Figueiredo, define como prioridades a habitação, a mobilidade e a revitalização do interior do país.

Rui Rocha tem 52 anos e é licenciado em Direito. Foi eleito deputado por Braga nas eleições de janeiro deste ano. Desde domingo que é candidato à liderança da Iniciativa Liberal (IL). No texto que escreveu no Facebook diz que quer popularizar o liberalismo. O que é que isto quer dizer?

Quer dizer proximidade e em dois sentidos. Vamos apresentar, muito em breve, um conjunto de dez medidas concretas para criar canais que estabeleçam maior proximidade dos membros dentro do partido, dar voz aos membros da IL e, por outro lado, maior proximidade também com os eleitores. Queremos ter uma presença muito forte no terreno.

E essa presença tem faltado ao partido?

Quando tínhamos um deputado único, que fez muito trabalho, não havia tanta disponibilidade física para assegurar esse tipo de iniciativas. Mas posso dar o exemplo do que queremos fazer, com o que aconteceu na semana passada, em que eu estive na rua a distribuir informação às pessoas que passavam sobre os 125 euros, esclarecendo e alertando que se trata de uma migalha face àquilo que a generalidade das pessoas descontou em excesso ao longo do ano.

O primeiro-ministro disse que a Iniciativa Liberal está a competir com o Chega e há uma aproximação ao “lamaçal” do partido de Ventura. Como é que reage?

Eu sobre lamaçais não comento porque o senhor primeiro-ministro tem muito mais experiência em lamaçais do que eu. Portanto, eu não vou entrar nessa guerra. O que posso dizer é que considero as afirmações absolutamente lamentáveis. O João Cotrim Figueiredo deu um exemplo de desprendimento de funções e saiu com extrema elegância. E as palavras do seu primeiro-ministro, comparando-as com essa elegância da saída do João, são o oposto.

São aquilo que não se deve fazer em política, que é tentar aproveitar o momento para gerir a sua própria narrativa e a agenda do primeiro-ministro é utilizar o Chega para se autopromover e isso é lamentável.

Se for eleito líder da Iniciativa Liberal, seguirá a mesma orientação de Cotrim de Figueiredo, que é dizer “não” ao Chega num possível acordo de Governo?

Sim, isso é claro. Eu já o afirmei em nome próprio nos últimos meses, não há nenhuma alteração da nossa visão. Portanto, a Iniciativa Liberal continuará firme na defesa dos seus princípios e na defesa de linhas vermelhas que não aceitamos que sejam alteradas.

Os eleitores da Iniciativa Liberal perceberam a saída de Cotrim Figueiredo um ano depois de ter sido eleito e quando nas sondagens o davam como o líder mais popular da direita? Acha que podem sentir-se defraudados?

Eu penso que não é, aliás, a razão para avançar com a minha candidatura. Posso garantir às 272 mil pessoas que votaram na Iniciativa Liberal que sou a alternativa de continuidade no partido, reforçada com propostas concretas para dar resposta aos problemas dos portugueses.

Quer dar exemplos dessas propostas?

De temas, como a habitação, apresentar soluções na área da mobilidade, por exemplo na ferrovia. Outra prioridade é a revitalização do interior e dar resposta à crise energética que atravessamos nesta altura ao apresentar uma matriz liberal e soluções para esta crise.

Cotrim Figueiredo diz que o partido precisa de uma tónica mais popular e abrangente. Até aqui tem sido um partido elitista e urbano?

E eu não reconheço essa etiqueta. Eu fui quatro ou cinco vezes ao Príncipe Real e fui de elétrico. Eu fui eleito por Braga e não me revejo nessa etiqueta.

É certo que Carlos Guimarães Pinto, que fez um extraordinário trabalho, dirigiu-se a um determinado segmento eleitoral, depois João Cotrim Figueiredo somou mais eleitorado, o que levou ao crescimento para oito deputados. E o que nós queremos agora é crescer ainda mais e fazê-lo quer numa perspetiva vertical, quer transversal do território, nos sítios e nas regiões onde ainda não temos presença, o caso da Madeira, por exemplo, onde não temos ainda representação.

O apoio do atual líder à sua candidatura mereceu alguns reparos no partido. Tiago Mayan disse que pode condicionar o surgimento de outras candidaturas. Foi por isso que decidiu pedir ao conselho nacional para adiar as eleições para janeiro?

Antes de mais, a Iniciativa Liberal é um partido que defende a liberdade de expressão e, portanto, o presidente do partido não pode ser condicionado na sua liberdade de expressão.

O João Cotrim Figueiredo tem todo o direito de fazer as manifestações que entender sobre a sua visão, quer da política nacional, quer do partido.

Mas pode ou não condicionar o aparecimento de novas candidaturas?

A resposta é óbvia e já apareceu mais uma candidatura. Não há essa intenção. Depois do João ter decidido que não avançaria para um novo mandato, era importante dizer aos 272 mil eleitores da IL que há uma solução, que há uma oportunidade de continuidade, de reforço e de crescimento.

Eu acho que o surgimento de outras alternativas e de outras candidaturas é muito desejável. Fico muito satisfeito que já tenha aparecido uma outra candidatura [da deputada Carla Castro] e mantenho a minha proposta de alargamento do prazo eleitoral, porque entendo que ninguém deve ficar condicionado pelo tempo que, se houver outras propostas, devem ter a oportunidade de apresentar.

Carla Castro anunciou que é candidata. O que é que os separa?

Eu não posso pronunciar-me sobre qual é a visão da Carla Castro. Só posso falar da minha candidatura que tem um duplo objetivo. Por um lado, assegurar uma continuidade, tenho comigo a equipa que foi fundamental para o sucesso, primeiro, do Carlos Guimarães Pinto e, depois, do João Cotrim Figueiredo. Os dois líderes que trouxeram para o espaço político bandeiras como o liberalismo económico, a liberdade política, liberdade social, a liberdade de escolha na educação, na saúde a liberdade de escolha na saúde.

Vai manter essa estratégia?

O primeiro objetivo é manter e reforçar essas bandeiras, e reforçar com novas propostas para dar resposta aos problemas que afetam os portugueses.

Na última convenção, em Lisboa, ficou visível que há opiniões diferentes no partido. Podemos dizer que há uma ala conservadora e outra mais progressista?

Existem no partido diferentes visões, mas na convenção, apesar dos diferentes pontos de vista, a moção de estratégia de João Cotrim Figueiredo foi aprovada com uma esmagadora maioria. Portanto, eu penso que isso é um dado significativo.

A minha candidatura é uma candidatura que não exclui ninguém. Eu quero que a Iniciativa Liberal seja o espaço de todos os liberais.

Não é então necessário definir melhor a ideologia do partido?

Eu vou apresentar uma moção estratégica que definirá as orientações do partido. Agora, eu acho que a Iniciativa Liberal, dentro daquilo que é o espectro político e partidário, tem uma identidade até muito definida e há partidos que são bem mais indefinidos e que vão variando a sua posição.

Estamos em plena discussão do Orçamento do Estado. Os partidos da oposição, incluindo a Iniciativa Liberal, dizem que a proposta não resolve os problemas do país. Quais são as propostas liberais?

Não vou entrar em detalhe sobre as propostas que vamos apresentar, mas vêm no seguimento das nossas posições anteriores. Defendemos o desagravamento fiscal, teremos uma preocupação clara no que diz respeito à saúde. Queremos que os portugueses tenham liberdade de escolha e, portanto, teremos propostas nessa matéria. Outra questão está relacionada com os profissionais liberais que têm sido muito mal tratados.

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  • Antonio Fernandes
    26 out, 2022 ALVERCA DO RIBATEJO 16:55
    Tal e qual, passadeira vermelha para o Chega, dado pelo sr Costa e pelos Presidentes da A da República... espero que aconteça ao PS o mesmo que acontece ao PS em França...O costa faz o mesmo que o "amigo xuxalista" Miterrand... triste é que a comunicação social faça esse favor ao PS...

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