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Entrevista

Incêndios em Portugal. "Há poucos sinais de que estamos no caminho correto"

14 jul, 2022 - 20:27 • Pedro Mesquita , com redação

“Temos um sistema de planeamento mais ou menos instalado, mas depois os mecanismos de financiamento não acompanham aquilo que é planeado”, alerta Nuno Guiomar, perito em fogos florestais e dinâmicas da paisagem.

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Nuno Guiomar: "Há poucos sinais de que estamos no caminho correto"

O essencial em matéria de prevenção e combate a incêndios "ainda está por fazer", afirma à Renascença Nuno Guiomar, investigador da Universidade de Évora, perito em fogos florestais e dinâmicas da paisagem.

Numa altura em que o país volta a arder, num cenário de seca e altas temperaturas, e cinco anos depois da tragédia de Pedrógão Grande, Nuno Guiomar considera que algumas medidas levam o seu tempo, “mas há poucos sinais de que estamos no caminho correto neste momento”.

Em declarações à Renascença, o investigador começa por referir que “seria tremendamente injusto dizer que não houve qualquer tipo de evolução”.

Elenca, por exemplo, que foi publicado um plano nacional desenvolvido pela Agência de Gestão Integrada de Fogos Rurais e foram elaborados alguns Planos de Transformação da Paisagem, “mas há sempre um mas”, sublinha.

“Não estamos a conseguir alterar todos os mecanismos que podem levar a que uma paisagem seja mais resistente ao fogo, particularmente as ocupações e usos agrícolas que têm sido ao longo do tempo abandonados e que estão um bocadinho na raiz desta paisagem suscetível ao fogo e com combustíveis mais contínuos”, afirma Nuno Guiomar.

O perito em fogos florestais considera que “temos um sistema de planeamento mais ou menos instalado, mas depois os mecanismos de financiamento não acompanham aquilo que é planeado”.

Nuno Guiomar sugere uma medida que pode passar pelo financiamento à pequena agricultura que cria zonas de tampão aos incêndios em torno das aldeias.

“Por exemplo, a noção da pequena agricultura, de hortas e pequenas culturas, à volta dos aglomerados foi desaparecendo e foi substituída por uma floresta que se encostou praticamente às casas… Também pode ser visto como um serviço que a sociedade paga para que as pessoas façam pequena agricultura, e assim se mantenha uma paisagem diversa, menos suscetível ao fogo, que proteja o edificado”, sublinha.

Para Nuno Guiomar, Portugal também deve começar a olhar para o fogo de forma diferente.

“O redimensionamento do dispositivo tem de ser em função do dano potencial do fogo. Isto quer dizer que há períodos do ano, em determinados locais, que é preciso deixar arder, para que não sejam consumidos mais tarde por fogos muitos mais intensos e severos”, concluiu o investigador.

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