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Urgências sobrelotadas por falência de outras respostas, alertam administradores hospitalares

29 dez, 2021 - 12:33 • Lusa, com redação

Entre 30% a 40% da procura que os hospitais têm tido nos últimos dias são de casos não urgentes, particularmente de doentes com covid-19, muitos deles para fazer o teste.

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Os serviços de urgência dos hospitais têm registado “procuras recorde” nos últimos dias, em grande parte casos não urgentes, devido à “falência” das outras respostas do sistema de saúde, disse esta quarta-feira à agência Lusa um responsável da associação de administradores hospitalares.

“Temos urgências sobrelotadas. Tem havido uma procura superior à média, quer por conta das patologias não covid, que já é habitual neste período do ano agudizarem-se, quer por conta de casos de covid-19 que têm subido muito fortemente nos últimos dias”, disse Xavier Barreto, vogal da direção da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).

Xavier Barreto afirmou que se trata de uma subida prevista, mas, disse, “o que não era previsível era a falência das outras respostas para estes doentes”, nomeadamente da linha SNS 24 e dos cuidados de saúde primários que estão ocupados com atividades ‘Trace-Covid’ e com a vacinação.

“Os serviços de urgência hospitalares acabam por ser vítimas dessa falência das outras partes do sistema”, com “picos de procura enormes” nos últimos dias.

Segundo o responsável, 30% a 40% da procura que os hospitais têm tido nos últimos dias são de casos não urgentes, particularmente de doentes com covid-19, muitos deles para fazer o teste.

“Não faz sentido que as urgências estejam sobrelotadas com estes doentes, que deviam ter tido um outro tipo de resposta e infelizmente não tiveram”, lamentou.

Salientou que há várias semanas que se sabia, até tendo em conta o que estava a acontecer em outros países, que muito provavelmente iria haver “um forte aumento” dos casos covid-19 decorrentes da nova variante Ómicron.

“O que faria sentido era que tivéssemos reforçado as nossas respostas”, disse, considerando ser “incompreensível” ter chegado a este ponto com “a falência destas duas linhas”.

Para Xavier Barreto, esta resposta era “perfeitamente passível” de ter sido planeada.

“Era uma resposta que podia ter sido criada, que podia ter sido montada para responder a este aumento e simplesmente não foi e não se encontra explicação para isto”, lamentou.

Questionado sobre se a saída de muitos profissionais de saúde do SNS e o estado de exaustão em que se encontram também podem dificultar a resposta, afirmou que sim.


“Tem sido muito difícil completar as escalas de serviço de urgência em alguns hospitais, particularmente neste período das festas, que é sempre um período mais difícil e naturalmente também tem dificultado a resposta, mas o fator principal nem tem sido por falhas da resposta tem sido essencialmente por uma falha no controle da procura. Ainda assim tínhamos margem para ter feito muito melhor, criando uma resposta diferente quer no âmbito do rastreio de contactos, quer no âmbito da linha SNS 24 e isso nós não conseguimos perceber porque é que não aconteceu”, afirmou.

Aludindo ao reforço da linha SNS 24 anunciado pelo Ministério da Saúde e dos rastreadores de contactos suspeitos de covid-19, Xavier Barreto disse que não faz sentido fazê-lo "depois de o problema já estar criado”.

“Devia ter sido feito antes, antecipando o problema e evitando que ele acontecesse”, mas, vincou, “vamos esperar para ver o que é que decorre destes reforços (…) e se se consegue recuperar isto, vamos ver”.

Em termos de internamentos, disse que, para já, não se verifica uma grande pressão, considerando que “há um aumento progressivo, mas muito longe das linhas vermelhas”.

“É possível que isso venha a acontecer nos próximos dias se tivermos um aumento progressivo dos casos, mas neste momento vemos um ligeiro aumento de pressão nos internamentos, mas ainda não é preocupante”, rematou.

Portugal atingiu na terça-feira um máximo de novos casos diários de covid-19 desde o início da pandemia, com 17.172, e a ministra da Saúde admitiu que na primeira semana de janeiro o país possa atingir os 37 mil novos casos diários de infeção com o coronavírus SARS-CoV-2.

Na terça-feira, o Hospital Amadora-Sintra acusava a pressão da pandemia, mas não por causa do número de internados: as urgências estão cheias com pessoas que querem apenas fazer teste Covid.

“Neste momento, temos, por exemplo, um elevado número de utentes que recorrem aos serviços de urgência apenas com o intuito de fazer testes Covid, o que, obviamente, é um contrassenso, porque um hospital não é um laboratório, não é um posto de colheitas”, diz à Renascença Cláudio Alves, da direção clínica do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca.

A ministra da Saúde, Marta Temido, confirmou que já foi necessário suspender “em alguns casos” a atividade assistencial não Covid-19, admitindo que tal possa voltar a ser necessário.

“Em alguns casos foi necessário suspender a atividade assistencial, não está fora de hipótese a necessidade de suspensão de outras linhas, mas neste momento estamos a tentar equilibrar o melhor possível todas as áreas”, disse Marta Temido, em declarações à agência Lusa no Ministério da Saúde, em Lisboa.

A procura das Áreas Dedicadas a Doentes Respiratórios (ADR) aumenta quase ao ritmo dos casos de Covid-19, uma situação que preocupa a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, que alerta para o "caos absoluto" nos centros de saúde.

"O que se passa neste momento é que temos muitos casos a aparecer todos os dias, muitos deles com sintomas que exigem observação presencial e, portanto, aumenta muito a afluência aos ADR", espaços destinados à avaliação clínica dos doentes com suspeita de infeção respiratória aguda, incluindo covid-19, disse à agência Lusa o presidente da associação, Nuno Jacinto.

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