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Operação Miríade. “É muito mau e lastimo muito isto”, diz Fuzeta da Ponte

08 nov, 2021 - 17:34 • Pedro Mesquita , Marta Grosso

Em declarações à Renascença, o antigo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas mostra-se preocupado, mas apoia a posição assumida pelo Presidente da República e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, em defesa das Forças Armadas. Tenente Coronel João Alvelos sublinha que “a árvore não faz a floresta”.

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Fuzeta da Ponte não tem dúvidas de que a simples suspeita de tráfico de diamantes, ouro e droga durante uma missão militar internacional é o suficiente para manchar a imagem internacional das Forças Armadas. Venham ou não a confirmar-se os factos.

“Tudo quanto seja ligar as Forças Armadas a ações indignas” mancha a nossa imagem, defende. “As Forças Armadas devem ser vistas como forças, se não exemplares, pelo menos íntegras aos quais é estranha a existência desses factos”, acrescenta o antigo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

“Mancham sempre, porque mesmo coisas que não são verdadeiras, até se provar a mentira, deixam sempre um rasto. É sempre mau. É muito mau e lastimo muito isto”, remata Fuzeta da Ponte.

O antigo CEMGFA considera que a imagem fica ainda mais afetada depois de um outro caso recente chegar a tribunal: Tancos.

“Isto, vindo a seguir, dá a ideia de 'lá continuam eles na mesma'. Julgo que se faz uma ligação e essa ligação não é positiva de forma alguma”, considera o Almirante.

Quanto à posição assumida tanto pelo Presidente da República como pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Fuzeta da Ponte concorda: fizeram bem em sair em defesa das Forças Armadas.

“Naturalmente, o senhor Presidente e o senhor ministro tentam defender a imagem das Forças Armadas e eu, como militar encaro isso como positivo. Julgo que nenhum deles está a negar [o que se passou], mas estão na posição correta de defender até a possibilidade de um erro”, defende.

Quer Marcelo Rebelo de Sousa quer Augusto Santos Silva afirmaram, nesta segunda-feira, que o caso do alegado envolvimento de militares portugueses no tráfico de bens preciosos de países africanos (nomeadamente, da República Centro-Africana), não afeta a imagem internacional de Portugal.

“Não atinge minimamente o prestígio das Forças Armadas Portuguesas – pelo contrário, o facto de elas investigarem casos isolados que possam ter ocorrido e tomar essa iniciativa só as prestigia em termos internacionais”, sustentou o chefe de Estado.

Fuzeta da Ponte, que assumiu o cargo de CEMGFA durante sete anos, concorda com a segunda parte. “Acho que sim, acho que o que o senhor Presidente está a dizer que as Forças Armadas, como qualquer organização nacional, pode ter erros e quando isso existir cria-se um processo e investiga-se”.

“A árvore não faz a floresta”, diz Tenente Coronel João Alvelos

Na leitura deste membro consultivo do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), estamos perante um caso típico de "a ocasião faz o ladrão".

Ainda assim, admite surpresa. “Muito surpreendido, mas temos que ver as coisas que as Forças Armadas comunicaram as suspeitas e houve agora um processo de investigação e isso só foi a lume quando todo o processo foi constituído, identificado, tendo provas concretas”, destaca.

Na sua opinião – e aproveitando “a expressão do senhor Presidente da República – a árvore não faz a floresta e em todas as organizações há situações de ilegalidades”.

Em declarações à Renascença, o Tenente Coronel João Alvelos sublinha ainda que, “no plano internacional, isto não é caso único. Há desde abusos sexuais, este mesmo tráfico de valores e droga nas operações humanitárias, de apoio à paz, situação que é denunciada. Vamos ao site das Nações Unidas das missões de paz e vemos essa situação patente”.

Mas as Forças Armadas Portuguesas têm credibilidade e, “portanto, não é este caso – que é um caso típico 'a ocasião faz o ladrão' – que vai colocar em perigo ou questionar a idoneidade da condução das operações militares nesse âmbito”, defende.

A Polícia Judiciária realizou buscas nesta segunda-feira no Regimento de Comandos, em Sintra, e em cerca de uma centena de outros locais, incluindo Lisboa, Porto, Bragança e Vila Real. Desta operação – apelidada de Miríade – resultaram 10 detidos, todos com litações ao Exército, à PSP e à GNR.


[Notícia atualizada às 19h00 com declarações do Tenente Coronel João Alvelos]

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