20 mai, 2021 - 17:06 • Pedro Mesquita , Hélio Carvalho
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Os resultados da segunda fase do Inquérito Serológico Nacional (ISN) do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) revelaram que os anticorpos contra a Covid-19 só se mantêm durante um período de seis meses, e alertava para a vacinação de pessoas recuperadas.
No entanto, alerta Valter Fonseca, coordenador da comissão técnica da vacinação contra a Covid-19, a presença de anticorpos no sistema não é a única ferramenta para combater a infeção.
O especialista defende que o atual período de espera entre infeção e vacinação de pessoas recuperadas está adequado.
"Este estudo documenta que, após três meses, algumas pessoas começam a ter menos anticorpos. Este aspeto é já conhecido, mas leva-nos ao segundo ponto: os tipos de anticorpos, isto é, as suas concentrações no sangue humano não nos dizem tudo sobre a imunidade das pessoas para novas infeções por SARS-CoV-2", refere o especialista em entrevista à Renascença.
A análise de Valter Fonseca é, aliás, referida no relatório dos resultados, que aponta que a "ausência de anticorpos detetáveis pode não corresponder a uma total ausência de proteção, dado o papel da memória imunitária e da manutenção de mecanismos de imunidade celular".
No grupo de indivíduos vacinados contra a covid-19(...)
Segundo o coordenador, "a imunidade contra novas infeções é duradoura e está prevista atualmente até mais de oito ou dez meses."
À Renascença, Valter Fonseca salienta que os anticorpos são apenas "são apenas a ponta do icebergue da resposta imunológica contra uma infeção viral" e que o nosso sistema imunitário tem "muitos outros mecanismos, celulares, de memória, etc., que não são medidos nestes inquéritos serológicos, e que contribuem para uma imunidade duradoura para esta infeção."
Portanto, para já, os seis meses que uma pessoa que recuperou da infeção tem de esperar para poder ser vacinada é "uma boa recomendação, baseada em dados científicos". "Durante estes seis meses existe documentação de imunidade robusta, contra novas infeções; e se nós vacinarmos os recuperados com algum distanciamento face à infeção inicial, temos também a hipótese de ter mais robustez na resposta à própria vacina", diz o especialista.
Relativamente aos casos raros de pessoas vacinadas que acabaram por ser infetadas, Valter Fonseca aponta que essa situação é incomum e não coloca em causa o "bom percurso" do atual plano.
"É importante ter em consideração que as próprias vacinas não têm uma eficácia de 100%. Pode isto significar que existam alguns casos, algumas situações, em que mesmo pessoas vacinadas podem ter infeção por SARS-CoV-2. São, contudo, situações muito raras em termos de quantidade e que não comprometem a eficácia das vacinas e o bom percurso da campanha de vacinação contra a Covid-19 em Portugal", conclui.