27 abr, 2020 - 13:45 • Redação
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A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, garante que a alteração no critério dos casos recuperados não tem "nada a ver com a disponibilidade de testes", recusando a teoria de racionamento.
Questionada pela Renascença na habitual conferência de imprensa diária da Direção-Geral da Saúde (DGS), Graça Freitas explica que a decisão está relacionada com novas informações de artigos científicos, que provam que um doente com sintomas ligeiros tem pouca probabilidade de contagiar outra pessoa duas semanas após a infeção.
"A decisão de fazer apenas um teste foi feita de acordo com os últimos artigos científicos publicados e com a consulta de alguns peritos da DGS. Não tem, rigorosamente, nada a ver com a disponibilidade de testes, mas sim estudos que dizem que o número de partículas virais que se encontram na orofaringe e nasofaringe nestes doentes é muito pequena na altura dos testes, ou seja, não apresenta evidência que continue a transmitir a doença", explica.
Pandemia de Covid-19
O pneumologista Filipe Froes, que é um dos autores(...)
No entanto, a diretora-geral da Saúde explica que, "quem continua ao abrigo da norma anterior, de fazer os dois testes, continuará a fazer, se os seus médicos assistentes assim o decidirem".
Graça Freitas explica que Portugal continua com um critério mais rigoroso para dar um caso positivo como recuperado do que vários países europeus, que não fazem teste.
"Há países desenvolvidos, na Europa, que nem fazem teste para dar um caso como recuperado, apenas esperam pela remissão, que os sintomas desapareçam. Nós temos um duplo critério: esperamos que a febre e os outros sintomas desapareçam e um teste negativo aos 14 dias. Estamos alinhados com a ciência", garante.
Em declarações à Renascença no fim de semana, o pneumologista Filipe Froes, que é um dos autores desta nova norma que define a necessidade de apenas um teste negativo e não dois, explicou as mudanças em detalhe, lembrando que os doentes internados em hospitais continuarão a precisar de apresentar dois testes negativos.
"A mudança é apenas para os doentes que não necessitaram de internamento e que, portanto, se admite que tenham menor carga viral associada à menor expressão da doença. E que na ausência completa de febre e na estabilização clínica, com melhoria clínica dos sintomas durante mais de três dias consecutivos, só necessitam de um teste laboratorial negativo, realizado no mínimo 14 dias após o início dos sintomas, para apresentarem os critérios de cura microbiológica. Os doentes internados mantêm à mesma a necessidade de dois negativos no espaço de 24 horas para serem contabilizados recuperados”, explicou o pneumologista.
Mas, afinal, qual é a razão e o objetivo desta alteração de procedimentos? Filipe Froes refere a “poupança” de testes. E explica a base científica da medida.
"Esta alteração baseou-se na evidência disponível, que demonstrou que estes doentes, na maior parte dos casos, já não iam ter qualquer impacto em termos transmissão da doença na comunidade. E isso justificou que outros países já o tenham feito. E, assim, nós poupamos um teste, que é transferido para quem mais necessita dele, que é quem precisa de fazer o diagnóstico e quebrar os riscos de transmissão na comunidade”, lembra.
O próprio Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) admitiu, a 8 de abril, que há "necessidade urgente" de adaptar os critérios de atribuição de alta médica aos pacientes infetados com Covid-19, devido à continuada falta de consumíveis e reagentes, que por sua vez afeta a capacidade de diagnóstico em laboratório.
Ainda assim, o ECDC sublinha que, idealmente, o paciente infetado com o novo coronavírus deve ser considerado recuperado apenas após testar negativo duas vezes, com intervalod e 24 horas. Se a capacidade de testagem for limitada ou inexistente, entra em efeito o critério clínico.
Os doentes que não tenham sido internados apenas t(...)
Também em resposta à Renascença, Graça Freitas refere que a prioridade continua a ser realizar testes nos lares, não só aos idosos, mas também aos trabalhadores assintomáticos, mas sublinha que não é uma "emergência temporal".
"A nossa grande prioridade é, num lar onde apareça uma pessoa com indícios ou suspeita, que de imediato fará testes, quer nos profissionais, quer nos residentes. Ao mesmo tempo, está a ser feito um rastreio de pessoas assintomáticas, a começar pelos trabalhadores desses lares. O rastreio obedece a um plano, não é uma emergência temporal. São duas situações, uma de triagem e outra de diagnóstico", diz a diretora-geral da Saúde.
Sobre o possível regresso às aulas nas escolas para os alunos do 11º e 12º anos, esclarece que poderão existir exceções para os alunos e professores mais vulneráveis.
"Está a ser preparado o regresso, há um conjunto de regras que todos conhecemos, que vão ser aplicadas às escolas. Vão ser estudadas medidas específicas, uma delas será quase caso a caso, dos docentes e discentes mais vulneráveis. Nos docentes, não só pela idade, mas porque podem ter patologia de doenças de base que justifiquem", termina.
Portugal regista até esta segunda-feira e 928 mortos associados à covid-19, mais 25 do que no domingo, e 24.027 infetados (mais 163), indica o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Comparando com os dados de domingo, em que se registavam 903 mortos, hoje constatou-se um aumento de óbitos de 2,8%.
Ministro da Administração Interna espera que, até (...)