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Eleições no Brasil

"Tentaram enterrar-me vivo e eu estou aqui." Lula é eleito Presidente do Brasil

30 out, 2022 - 22:32 • Joana Azevedo Viana , Fábio Monteiro , Carlos Calaveiras

"É a vitória de um imenso movimento democrático", declarou o vencedor. À segunda volta, antigo chefe de Estado conquista 50,9% dos votos e firma regresso ao Planalto, num Brasil mais polarizado do que nunca.

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O antigo Presidente do Brasil Luiz Inácio 'Lula' da Silva venceu este domingo a segunda e última volta das eleições presidenciais no Brasil, firmando um retorno ao Planalto pela terceira vez.

"Quero começar por agradecer a Deus", disse aos apoiantes reunidos em São Paulo no seu primeiro discurso enquanto Presidente eleito do Brasil.

"Tentaram enterrar-me vivo e eu estou aqui", continuou Lula, invocando um "processo de ressurreição na política brasileira".

"O país está numa situação muito difícil. Queremos restabelecer a paz", acrescentou. "Chegámos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. A eleição de dois projetos do país e que tem um vencedor: o povo brasileiro."

Citando a "vitória de um imenso movimento democrático", Lula sublinhou que "a maioria do povo brasileiro deixou claro que deseja mais e não menos democracia" e prometeu: "A roda da economia vai voltar a girar."

Num discurso focado nos temas que dominaram a sua campanha, como tirar milhões da pobreza e proteger a Amazónia, Lula acabou por falar também aos que não votaram nele, prometendo "governar para 215 milhões de brasileiros e não para os que votaram em mim".

No adeus à era Bolsonaro -- o derrotado que até àquela hora ainda não tinha reagido aos resultados eleitorais -- o Presidente eleito garantiu:

"Decisões não serão tomadas na calada da noite, mas após amplo diálogo. O que mais escuto nos contactos internacionais é que o mundo sente saudades do Brasil. O Brasil está de volta, é grande demais para ser pária."

Diferença mínima de votos

No discurso da vitória, Lula defendeu que o Brasil é só um, apelando à união dos brasileiros. "Somos um único povo, uma grande nação. Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia."

Perto das 00h em Lisboa, com a quase totalidade das secções de voto apuradas e o vencedor ainda a discursar, Lula conquistava 50,90% dos votos, contra 49,10% para Jair Bolsonaro, candidato à reeleição.

A essa hora, a revista brasileira "Veja" adiantava que Bolsonaro estava "isolado" sem atender sequer os conselheiros mais próximos.

A curta margem de vitória, correspondente a pouco mais de dois milhões de votos, espelha a enorme polarização do Brasil, que vê agora Lula da Silva regressar ao Palácio do Planalto pela terceira vez.

No Twitter, assim que a sua vitória se afigurou na contagem, o vencedor publicou uma imagem da bandeira brasileira com uma única palavra a legendá-la: "Democracia."

À Renascença, o jornalista Alberto Bombig, da UOL, aponta que Lula “vai ter a difícil missão de unir o Brasil e os brasileiros” com Bolsonaro ao leme da oposição.

"Com esta votação expressiva que teve, Bolsonaro sobrevive politicamente e deve liderar a oposição" a Lula, indica Bombig, apontando como trunfo do em breve ex-Presidente a eleição de Gomes de Freitas, seu ex-ministro, no "maior colégio eleitoral do país, o motor económico do Brasil que é o estado de São Paulo".

“Bolsonaro terá apoio popular – com uma votação muito expressiva – e terá orçamento para continuar a fazer política”, acrescenta o jornalista a partir do Brasil.

Reações à vitória

Também no Twitter, Sérgio Moro foi uma das primeiras figuras da oposição a reagir à vitória de Lula.

"A democracia é assim. O resultado de uma eleição não pode superar o dever de responsabilidade que temos com o Brasil", escreveu o juiz da operação Lava Jato, que incluiu entre os condenados Lula da Silva.

"Vamos trabalhar pela união dos que querem o bem do País. Estarei sempre do lado do que é certo! Estarei na oposição em 2023, respeitando a vontade dos paranaenses", acrescentou Moro, que na primeira volta das eleições conquistou um assento no Senado brasileiro.

Pouco antes da meia-noite em Lisboa, o presidente da Câmara dos Deputados, apoiante de Jair Bolsonaro, reconheceu a vitória de Lula e disse ser hora de "desarmar os espíritos, estender a mão aos adversários, debater, construir pontos, propostas e práticas que tragam mais desenvolvimento, empregos, saúde, educação e marcos regulatórios eficientes".

Numa nota a que a RTP teve acesso, Arthur Lima diz que é altura de "pacificar o País e dar melhor qualidade de vida ao povo brasileiro".

"Agora é olhar adiante, debater nas instâncias legítimas e democráticas, restabelecer o respeito e autonomia dos Poderes, e avançar para melhorar a vida de todos, principalmente dos mais vulneráveis", acrescentou.

De Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa foi rápido a congratular o novo Presidente brasileiro pela vitória.

Numa nota divulgada no site da presidência pouco depois do anúncio, o chefe de Estado português diz ter a certeza de que o mandato que Lula vai iniciar em janeiro "corresponderá a um período promissor nas relações fraternais entre os povos brasileiro e português e por isso também entre os dois Estados".

Via Twitter, o primeiro-ministro português, António Costa, adiantou que também já felicitou Lula da Silva pela vitória.

"Já tive a oportunidade de felicitar calorosamente @LulaOficial pela sua eleição como Presidente da República do Brasil. Encaro com grande entusiasmo o nosso trabalho conjunto nos próximos anos, em prol de #Portugal e do #Brasil, mas também em torno das grandes causas globais."

Clique no vídeo para rever o discurso de Lula da Silva na íntegra

[atualizado às 00h58]

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