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Associação ucraniana faz apelo à UE. “Precisamos da vossa ajuda, agora”

03 mar, 2022 - 19:34 • Ana Carrilho

Apelo feito no decorrer da abertura da 9.ª Conferência do Comité Europeu das Regiões, que decorre hoje e amanhã, na cidade francesa de Marselha.

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A solidariedade com o povo ucraniano e o repúdio pela intervenção militar lançada por Vladimir Putin, marcou a abertura da 9.ª Conferência do Comité Europeu das Regiões, que decorre hoje e amanhã, em Marselha.

A iniciativa começou, simbolicamente, com os presidentes do Comité das Regiões, Apostolos Tzitzikostas e da região Provence-Alpes-Côte d’Azur, Renaud Muselier, a segurar a bandeira azul e amarela da Ucrânia e prosseguiu com vários apelos à União Europeia (UE).

“Temos problemas em Kiev, em Kharkiv, em Mariupol, em Kerson e noutras cidades, mas continuaremos a resistir fortemente à invasão de Putin”, declarou, aos participantes, Yuri Andryichuck, da Associação Ucraniana dos Concelhos Distritais e Regionais, que coordena a ajuda humanitária a partir da Ucrânia.

Ao fim de quase três horas para conseguir estabelecer o contacto com Kiev, Yuri acabou por, praticamente, encerrar a sessão de abertura da conferência, totalmente dedicada à solidariedade com a Ucrânia, com um apelo desesperado à ajuda europeia: “Precisamos da vossa ajuda, se possível, agora, não daqui a 10 ou 20 dias”.

Apesar das dificuldades no terreno, o responsável garante que “há condições para coordenar essa ajuda com os concelhos regionais e municipais, que a poderão receber e fazer chegar a todas as 24 regiões”.

Anteriormente, a presidente da câmara de Gdansk, cidade polaca geminada com Mariupol, revelava que desde antes do início da invasão russa, já “estava em contacto com as autoridades municipais”, desta cidade portuária.

Aleksandra Dulkiewicz frisou que, nesta altura, a ajuda mais necessária, são os bens essenciais, nomeadamente, alimentação, higiene, roupas, medicamentos e material médico, e não dinheiro, “porque nem sequer há em que o usar”.

A autarca polaca garantiu ainda que “os nossos colegas ucranianos estão bem organizados para fazer chegar a ajuda às populações”, e lembrou que, neste momento, “quase um milhão de ucranianos já entraram na União Europeia, 600 mil dos quais através da Polónia. “Entre eles há muitas crianças e uma necessidade desesperada para ajudar orfanatos e crianças evacuadas da Ucrânia”, acrescentou.

“Temos que nos preparar para o pior”

Outro dos participantes nesta conferência, Emil Boc, presidente da Associação Romena de Municípios e antigo primeiro-ministro da Roménia, revelou que “pelas fronteiras deste país passaram, até ontem, mais de 120 mil refugiados, 70 mil dos quais, já deixaram o país”.

“Entre os 50 mil que ficaram, há 18 mil crianças, que precisam de apoio e de educação, indicou ainda o responsável.

Emil Boc mostrou-se pessimista quanto ao futuro, afirmando aos presentes que o pior ainda não aconteceu.

“Temos que nos preparar para o pior. Isto não é um sprint, é uma maratona”, disse o autarca romeno, frisando a necessidade do apoio da União Europeia, da ajuda nas fronteiras com a Ucrânia e do envolvimento dos cidadãos europeus.

À semelhança do que o Comité Europeu das Regiões já tinha feito, ontem, numa declaração de apoio à Ucrânia e contra a invasão russa, Emil Boc anunciou que a Roménia vai pedir à Comissão Europeia que “ative o Mecanismo de Proteção Civil e Migração para assistência humanitária”.

Por outro lado, considerou ser preciso acelerar o processo de adesão da Moldávia e da Ucrânia à UE, numa tentativa de “lhes dar um sinal forte de que são parte da União Europeia, porque partilham, como nós, os mesmos valores democráticos”.

Europa com voz forte e unida com a Ucrânia e o seu povo

A conferência que decorre até sexta-feira, conta com a participação de três mil europeus que estão em Marselha - cidade que já viveu momentos de guerra -, a representar 240 regiões europeias e 900 mil comunidades locais, dando voz a 1,2 milhões de dirigentes locais e regionais eleitos.

“É, sobretudo, para dar voz aos cidadãos europeus”, destacou o presidente do Comité Europeu das Regiões, sublinhando que a Europa está unida na condenação da invasão russa da Ucrânia.

“O que está a acontecer é uma tragédia humana, causada por um regime cruel que perdeu a noção da realidade, que está assustado com a democracia e a liberdade”, afirmou, Apostolos Tzitzikostas.

O responsável garantiu também que o Comité das Regiões “vai fazer todos os possíveis para facilitar a ajuda concreta no terreno”, e lembrou que nos últimos anos já existia “uma cooperação estreita com algumas cidades e regiões ucranianas, nomeadamente com Mariupol, pela boa governança e com Kharkiv, pelo desenvolvimento territorial”.

Anunciou ainda que, a partir desta quinta-feira, o presidente da Câmara de Kiev passa a ser membro honorário do Comité Europeu das Regiões.

Comissão Europeia e BEI anunciam ajudas à Ucrânia e aos países que recebem refugiados

Entretanto, na sessão plenária que decorreu esta tarde, Elisa Ferreira, comissária da Coesão e Reformas, reafirmou a solidariedade plena com o povo ucraniano e o seu combate.

Numa sessão dedicada à “Coesão e Recuperação”, Elisa Ferreira anunciou que a Comissão Europeia vai apresentar novas propostas para alargar, “por mais um ano, o cofinanciamento a 100%, introduzido com o CRII - Coronavirus Response Investment Iniciative”.

Segundo a comissária, “com a mesma flexibilidade usada para fazer face à pandemia, a comissão vai adaptar as regras para que os estados-membros apoiem os refugiados ucranianos”, tratando-se de “uma necessidade económica e um imperativo moral”.

Também o Banco Europeu de Investimento (BEI) vai aprovar esta sexta-feira, um pacote de apoio à Ucrânia de dois mil milhões de euros.

A decisão foi anunciada pelo vice-presidente do BEI na abertura da Conferência do Comité Europeu das Regiões.

Segundo Werner Hoyer, “700 milhões de euros são para necessidades de tesouraria imediatas”, esperando que “estejam disponíveis para as autoridades ucranianas em três dias”.

Os outros 1,3 mil milhões destinam-se a infraestruturas essenciais, como transportes, energia, desenvolvimento urbano e projetos digitais.

Deverão ficar disponíveis assim que as autoridades ucranianas tiverem condições para aprovar emendas aos contratos existentes.

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