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Coronavírus. Vários países planeiam retirada de cidadãos de Wuhan

27 jan, 2020 - 12:04 • Marta Grosso com Lusa

Há mais de 80 mortos e quase 3000 casos na China. Investigadores de Hong Kong alertam para possibilidade de uma epidemia mundial e pedem aos governos que tomem medidas “draconianas” para limitar os movimentos populacionais.

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Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e outros países estão a planear a retirada dos seus cidadãos que se encontram em Wuhan, epicentro do surto do novo coronavírus (2019-nCoV) na China.

O consulado dos Estados Unidos em Wuhan está a planear um voo fretado na terça-feira para retirar o pessoal diplomático e alguns outros norte-americanos. A embaixada em Pequim já avisou que, face à capacidade limitada do voo para São Francisco, a prioridade será dada aos indivíduos "com maior risco" de apanhar o coronavírus.

Do lado japonês, o porta-voz do Governo, Yoshihide Suga, anunciou que 560 cidadãos estão confirmados em Hubei e que voos fretados estão a ser preparados para a saída destas pessoas "o mais rápido possível".

"A embaixada do Japão em Pequim disse que a retirada inicial é limitada às que estão em Wuhan. Espera-se que os retirados incluam funcionários da Honda Motor Co., Tokyo Electron, Aeon Co. e outras empresas japonesas que operam em Wuhan", declarou o porta-voz.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, disse que designará o novo coronavírus como uma doença infecciosa sujeita a hospitalização e isolamento forçados, medidas preventivas para a preparação da retirada dos cidadãos da China.

Na Europa, a ministra francesa da Saúde, Agnes Buzyn, informou que os cidadãos franceses que queiram deixar Wuhan serão transportados num voo direto para França em meados da semana e, então, mantidos em quarentena por 14 dias – o período de incumbação da doença.

A empresa PSA, que produz carros Peugeot e Citroen, disse que estava a retirar os seus funcionários expatriados e as suas famílias de Wuhan, colocando-os em quarentena numa outra cidade.

Nesta segunda-feira, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, disse que se está a preparar uma retirada aérea dos seus cidadãos de Wuhan.

"Em conexão com os Ministérios do Interior, da Saúde e das Forças Armadas, estamos a implementar uma operação de retorno por via aérea para os nossos nacionais", afirmou Le Drian.

Na Alemanha, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, também avançou que o país está a pensar retirar os seus cidadãos de Wuhan e que o comité do Governo de resposta a crises irá encontrar-se em breve com especialistas médicos para avaliar a situação.

Segundo Maas, o número de cidadãos alemães em Wuhan está na casa dos dois dígitos. O Governo alemão aconselha os alemães a evitarem ou adiarem "viagens não essenciais" para a China.

Quanto a Portugal, o Governo desaconselha "viagens não essenciais" à China e já admitiu a retirada de portugueses de Wuhan, se a medida for viável à luz das regras de saúde pública.

Residem cerca de duas dezenas de cidadãos portugueses em Wuhan.

Mudando de continente, a embaixada do Sri Lanka em Pequim solicitou que um avião da Sri Lankan Airlines pudesse pousar no aeroporto de Wuhan para retirar 32 estudantes seus nacionais, e familiares, desta região.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros também disse que estava a trabalhar para trazer de volta todos os outros estudantes do Sri Lanka por toda a China (são cerca de 860 os estudantes cingaleses naquele país).

A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Marise Payne, anunciou que o seu Governo está "a explorar todas as oportunidades" para ajudar na retirada de vários australianos que supostamente estão em Wuhan.

A governante não deu mais detalhes. A Austrália não tem representação consular em Wuhan.

O último balanço aponta para 81 mortos e 2.804 casos confirmados na China (números avançados nesta segunda-feira pela Bloomberg).

Além do território continental da China, foram reportados casos em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, França, Austrália e Canadá.

As pessoas infetadas podem transmitir a doença durante o período de incubação, que demora entre um dia e duas semanas e em que não são apresentados sintomas.

Cientistas pedem "medidas draconianas” para limitar deslocações

Investigadores da Universidade de Hong Kong (HKU) alertaram, nesta segunda-feira, para uma disseminação acelerada do coronavírus. No espaço de 24 horas, o número de casos suspeitos duplicou para quase seis mil.

"Precisamos preparar-nos para o facto de este surto se estar a tornar numa epidemia global", afirmou Gabriel Leung, líder da equipa de investigação da HKU.

"Medidas importantes e draconianas para limitar os movimentos populacionais devem ser tomadas o mais rápido possível", sublinhou o investigador.

Com base em modelos matemáticos da disseminação do vírus, a equipa de Leung argumenta que o número real de infeções era muito maior do que a avaliação das autoridades, que só leva em conta os casos formalmente identificados.

"Esperava-se que o número de casos confirmados com sintomas estivesse entre 25.000 e 26.000 no Ano Novo chinês” (que se comemorou no sábado), mas ao incluirmos as pessoas que estão no período de incubação e que ainda não apresentam sintomas, "o número chegou a 44.000" a partir de sábado, referiu o investigador numa conferência de imprensa em Hong Kong, com base em curvas teóricas.

Gabriel Leung acrescentou que o número de infeções pode dobrar a cada seis dias, atingindo um pico em abril e maio em áreas que já enfrentam uma epidemia, embora reconheça que medidas eficazes de saúde pública possam reduzir a taxa de contágio.

O epicentro da doença continua a ser em Wuhan e na província de Hubei, mas também foram encontrados casos nas principais cidades do país, como Pequim, Xangai, Shenzhen e Cantão.

"Esperamos ver essas outras grandes cidades como pontos quentes da epidemia", disse o investigador.

Como essas cidades são centros regionais e internacionais de transporte, é "muito provável" que o vírus se espalhe mais longe desses novos surtos.

Num esforço para conter o vírus, o Governo chinês ampliou no sábado o cordão de saúde em torno de Wuhan, que agora inclui quase 20 cidades, com a consequência de isolar uma população de 56 milhões de pessoas.

Segundo Leung, o confinamento está "absolutamente correto", mas essas medidas "podem não ser suficientes para mudar o curso da epidemia em outras grandes cidades".

A equipa da Faculdade de Medicina da HKU é um dos centros colaboradores da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o controlo de doenças infecciosas.

A China prolongou por três dias as férias do Ano Novo Lunar, até 2 de fevereiro, para desencorajar viagens e tentar conter a propagação do coronavírus.

Nesta segunda-feira, a Mongólia, que partilha uma longa fronteira com a China, decidiu encerrar os pontos de travessia rodoviária para evitar a propagação do novo coronavírus.

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