01 jul, 2016 - 12:47 • Filipe d'Avillez
O bandeira que o deputado José Manuel Coelho, do parlamento regional da Madeira, desenrolou e exibiu esta sexta-feira a Marcelo Rebelo de Sousa tem vindo a ser identificada como a “bandeira do Estado Islâmico”, mas isso não é inteiramente correcto.
O grupo terrorista que domina grande parte da Síria e do Iraque utiliza de facto este símbolo, mas ele antecede em muitos anos o próprio Estado Islâmico e é, na verdade, uma variante do “Estandarte Negro”, que já é usado por grupos islâmicos há vários séculos.
Na verdade, não se pode dizer que a bandeira em causa seja de qualquer grupo em particular, uma vez que é usada por vários, incluindo alguns que estão em conflito uns com os outros, como é o caso do Estado Islâmico e da Al-Qaeda.
Historicamente, o estandarte negro é associado ao próprio Maomé e já era certamente usado no século VIII pelos seus sucessores. Tratava-se, como o nome indica, de uma bandeira inteiramente preta, sem qualquer inscrição.
O símbolo foi recuperado pontualmente ao longo dos anos, mas o seu uso começou a ser mais difundido na década de 90, altura em que começou a aparecer com variações, normalmente inscrições ou símbolos brancos.
A versão utilizada pelo Estado Islâmico e outros grupos, e que foi exibida no parlamento madeirense, consiste num fundo preto com um selo no centro e uma inscrição em cima. A inscrição, a branco, diz: “Não há outro Deus se não Deus”. Já o símbolo esférico é conhecido como o selo de Maomé e é uma réplica do que foi usado pelo fundador do islão para assinar correspondência oficial. Trata-se de um círculo com a inscrição “Allah”, que é Deus em árabe, e por baixo “Maomé, mensageiro”.
No seu conjunto, a inscrição e o selo reflectem a “Shahada”, isto é, o credo central do islão: “Não há outro Deus se não Deus, e Maomé é o seu Profeta”.
Uma versão do estandarte negro sem o selo começou a ser popularizada nos meios jihadistas na década de 90 pela Al-Qaeda, juntamente com uma versão de fundo branco com letras pretas. Pelo menos em 2006 já se usava a versão com o selo, isto é, quando o Estado Islâmico era praticamente desconhecido e ainda estava alinhado com a Al-Qaeda.
Quando o Estado Islâmico, na altura conhecido como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, começou a ganhar importância, sobretudo depois da ocupação de Mossul, Iraque, em Junho de 2014, a bandeira começou a aparecer com muito mais frequência, devido à mediatização do grupo, pelo que não tardou a ficar associada a este.
Na verdade, porém, é incorrecto presumir que esta versão do estandarte negro seja uma bandeira exclusiva do Estado Islâmico, uma vez que continua a ser utilizada também por outros grupos.
Sua por 27 euros
A dita mediatização da bandeira e a popularidade do Estado Islâmico entre fundamentalistas em vários países, incluindo alguns países ocidentais, levou a que o símbolo fosse proibido, pelo menos na Alemanha, por exemplo, a sua exibição, salvo para razões educativas, é vedada e o mesmo já foi proposto na Áustria.
No Reino Unido David Cameron chegou a sugerir também a proibição. Em Portugal não existe uma proibição oficial.
Como praticamente tudo, a bandeira pode ser adquirida "online" a partir de vários locais. Pelo menos um site consultado pela Renascença anuncia a venda de bandeiras de 90 cm por 1,5 metros por cerca de 27 euros. O site especializa-se em vender parafernália extremista, incluindo bandeiras nazis.
Não se sabe, por enquanto, se a bandeira adquirida por José Manuel Coelho foi adquirida ou se a mandou fazer especialmente para a ocasião.