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Crise no Credit Suisse. Constâncio recomenda ao BCE abrandamento já na subida dos juros

15 mar, 2023 - 18:28 • Pedro Mesquita

Em entrevista à Renascença, o ex-governador do Banco de Portugal acredita que não há risco de uma crise semelhante à de 2008, mas sublinha que é preciso encontrar soluções para estancar o efeito de contágio.

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VITOR CONSTANCIO D15

O economista Vítor Constâncio recomenda ao Banco Central Europeu (BCE) que tome medidas sem demora, face às dúvidas sobre a solidez do Credit Suisse, que estão a "afundar" a banca europeia em bolsa,

O antigo governador do Banco de Portugal defende, em entrevista à Renascença, que, já na quinta-feira, o BCE, em vez de subir os juros em meio ponto percentual, suba apenas 0,25%. Seria um sinal importante, afirma o antigo vice-presidente do BCE.

Vítor Constâncio acredita que não há risco semelhante ao de 2008, mas sublinha que é preciso encontrar soluções para estancar o efeito de contágio.

O Credit Suisse está em queda livre. Considera que há motivo para preocupação?

O Credit Suisse é um banco sistémico, a nível mundial aliás, não só europeu. E não é não é fácil de resolver, não havendo disponibilidade de capital privado, nomeadamente árabe. Portanto, é bom que as autoridades procurem rapidamente soluções, porque o efeito de contágio a outros bancos está a ser enorme. A Suíça não faz parte da área do euro, mas, apesar de tudo, os bancos da área do euro, alemães e franceses, etc, estão também a cair na bolsa por um efeito geral de contágio. Não há nenhuma razão específica desses bancos que justifique.

Mas qual é o grau da exposição da banca europeia ao Crédit Suisse, neste momento? Tem ideia?

Não tenho ideia dos números, mas não é esse o problema, não é material. Não é isso que causaria, digamos, um problema: Obviamente que sendo um banco sistémico, se o Credit Suisse fosse deixado falir, toda uma rede de operações em curso entre bancos ficaria perturbada. Isso é que teria um efeito muito nefasto, sobre todo o funcionamento do sistema financeiro europeu e Internacional. Portanto, não é tanto o problema da exposição direta.

A propósito de uma eventual exposição direta. Conhece bancos portugueses com exposição direta ao Credit Suisse?

Não sei. Neste momento, como sabe, fora de funções não tenho esses números.

Mas já disse que o impacto seria certamente forte para toda a banca da União Europeia. Há o risco de regressarmos a qualquer coisa como 2008?

Penso que não. Penso que não e a principal razão é que os bancos estão muito mais bem capitalizados do que estavam em 2007, 2008. Sem comparação.

Mas quais poderiam ser então as consequências?

As consequências são a perda de valor dos outros bancos, e a perturbação em todas as transações financeiras internacionais teria consequências também económicas. Portanto, enfim, é difícil de avaliar, mas certamente um banco sistémico, se acaso deixassem falir, penso que não irá acontecer, mas se deixassem falir, seria muito complicado.

Teria um efeito dominó?

Teria um efeito dominó, porventura, mas não comparável com o de 2008, porque hoje os bancos têm mais do dobro do capital do que tinham em 2007.

Se estivesse ainda no BCE como vice-presidente, quais seriam as medidas? Quais seriam as suas principais preocupações? Qual seria o seu campo de ação para tentar minimizar o impacto?

Bom, diretamente as consequências mais imediatas que eu tiraria, era sobre a política monetária. Aliás, já fiz hoje tweets nesse sentido, recomendando que, em vez de o BCE aumentar amanhã as taxas de juro em mais 50 pontos base, ou seja 0,5, fizesse apenas quando muito metade: 0,25. Dava um sinal da atenção a este problema potencial. E depois é esperar para ver o que acontece nos próximos dias. Se o problema do Credit Suisse for resolvido com alguma rapidez isto, enfim, pode é estabilizar-se também com rapidez. Se não for resolvido ou se arrastar, as coisas irão complicando.

E nesse caso, seria de admitir que, ao invés de subirem, as taxas de juro, começassem a descer?

Bom, começarem a descer seria cedo porque a inflação ainda está alta. Embora a inflação, a partir de março e abril, a inflação vá cair muito. Vai cair bastante. Vamos ver que previsões o BCE publicará amanhã para a evolução da inflação, mas, na minha opinião, a inflação no final deste ano estará à volta de 3%.

Pode dizer-se que o BCE está, neste momento, um bocadinho entre a espada e a parede? Ou seja, por um lado tem que combater a inflação, mas, por outro lado, têm de responder a agora a esta crise no Credit Suisse e também no Silicon Valley?

...Tal como o FED [a Reserva Federal Americana] está na mesma situação. E os mercados, neste momento, os mercados monetários e financeiros a têm a expectativa que o FED não mexa as taxas na próxima semana, de todo.

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  • Pedro
    15 mar, 2023 Ericeira 21:09
    Estamos entregues ao Constâncio?? ? SOCORROOOOOO

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