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As perspetivas são boas, mas há nuvens negras para o setor do Turismo, diz CEO do grupo Pestana

18 mai, 2022 - 19:51 • Ana Carrilho

Em 2021, maior grupo hoteleiro português teve um lucro de 23 milhões de euros. Resultados de abril deste ano foram 15% superiores aos de 2019.

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“As expetativas em relação à retoma e a um bom ano turístico, especialmente nos meses de verão, são muito boas, mas ainda há umas sombras, umas nuvens negras no setor”, diz José Theotónio, CEO do Grupo Pestana, com um otimismo moderado.

Em conferência de imprensa para apresentação dos resultados de 2021, o gestor acabou por revelar que “abril (de 2022) foi o melhor mês dos últimos vinte seis, o primeiro com resultados acima de 2019”. Em comparação com o mesmo mês do melhor ano turístico nacional, os resultados Grupo foram 15% superiores. Apesar de ser preciso contar com mais unidades em funcionamento.

José Theotónio admite que, em termos imediatos, o turismo e a hotelaria nacionais poderão estar a beneficiar da situação de guerra na Ucrânia, mas com o tempo, vai haver perda de confiança no consumo. E frisa que a própria guerra está a fazer aumentar preços, alguns relevantes para o transporte aéreo.

“Pensar que a guerra vai ser o nosso fator de crescimento, é uma coisa que me custa, pelo menos no médio-longo prazo. Era preferível que a guerra terminasse para que (também) o turismo se desenvolvesse. Mas admite que para quem ainda viaja ou quer viajar, Espanha e Portugal são os destinos que estão mais longe (da guerra) e podem ter alguma vantagem comparativa.

Fechadas as contas de 2021, os resultados mostram um saldo positivo de 23 milhões de euros, contra os 32 milhões de prejuízos registados no ano anterior, o pior da história do Grupo a celebrar meio século em 2022. O ano passado “foi significativamente melhor, mas ainda longe do período pré-pandemia, com os destinos de ‘resort’ do Porto Santo e Algarve a recuperarem mais rapidamente”.

O imobiliário foi a boia de salvação de 2020, mas o nosso negócio é hotelaria

O Grupo Pestana dedica-se especialmente à Hotelaria e José Theotónio faz questão de o frisar. No entanto, em 2020, com todos os hotéis fechados devido à pandemia de Covid-19, foi o imobiliário que trouxe quase toda a receita. “Foi a boia de salvação”.

“Depois do êxito do eco-resort” de Tróia, os complexos de Brejos e da Comporta já estão todos vendidos, apesar de ainda decorrer a construção”, revela o gestor. Porto Covo está em fase de comercialização e há outros projetos em andamento, na Madeira e no Algarve.

Em 2021, 40% das receitas do grupo vieram desta área, mas José Theotónio frisa que a atividade principal é a Hotelaria e que o objetivo é que, muito em breve, o peso do imobiliário se situe nos 20-30% do volume de negócios.

O Pestana não pretende vender ativos, mas José Theotónio admite que há oportunidades que não se podem perder. Foi o que aconteceu com o Pestana Alvor, vendido a um Fundo de Investimento. “Apareceu alguém que pagou acima da cláusula de rescisão”, explicou, fazendo uma comparação com a venda de jogadores de futebol. Foi muito acima do que poderíamos esperar”, confessa.

Durante o tempo de pandemia, os hotéis estiveram fechados mas as obras continuaram e esteve ano já foram inauguradas 9 unidades, que envolveram um investimento total de 112 milões de euros: um hotel e uma pousada no Porto, uma pousada uma Lisboa e outra em Vila Real de Santo António. Além de um novo hotel na Madeira, região de origem do Pestana.

As outras quatro unidades estão em Tânger, Marraquexe, Madrid e Nova Iorque. Os três últimos hotéis pertencem à marca Pestana CR7. Para José Theotónio, gerir esta marca em destinos de forte concorrência com as grandes cadeias internacionais, vai ser o desafio para 2022.

Neste momento há dois projetos em construção na cidade de Lisboa: um hotel na R. Augusta e uma Pousada em Alfama, nas Porta do Sol. Esta última poderá ser inaugurada no fim deste ano. Um investimento de cerca de 10 milhões de euros e que segundo o gestor, “mesmo com o aumento dos preços dos materiais, o orçamento não deverá derrapar; ou muito pouco” porque as obras estão em fase avançada, com os preços contratualizados.

Precisamos de uma mudança cultural: o ensino profissional é desvalorizado

O Grupo Pestana tem cerca de 4.000 funcionários em cerca de uma centena de unidades, distribuídas por dezasseis países. Para fazer face à maior procura da época de verão precisa de mais mil pessoas em Portugal. Até ao momento conseguiu contratar pouco menos de 500, o que para o CEO é muito bom, dada a escassez de Recursos Humanos para esta área.

O Alentejo é a zona do país em que há maior dificuldade em fazer recrutamento. Neste momento todas as unidades estão abertas, mas o ano passado, algumas permaneceram fechadas também porque não havia pessoa disponível. Foi o caso da Pousada de Estremoz.

Para José Theotónio é preciso fazer uma mudança cultural no país. “O ensino profissional é muito desvalorizado. Os alunos que vão para o ensino profissional são vistos quase como um falhanço; o que é bom é ir para a Universidade. Um dos problemas estruturais que existe em Portugal é adequar a formação das pessoas às necessidades do mercado. Se o ensino profissional for valorizado, assim como as profissões liadas ao setor, pode-se resolver parte dessa falha. Porque quem vem para a hotelaria, se tiver vontade, pode fazer uma carreira muito positiva e em que pode ganhar mais do que com licenciaturas em certos cursos. Mas de uma forma geral, isso não é ressalvado, antes pelo contrário”.

Isso não invalida o recurso à imigração, especialmente dos PALOP’s. E tal como outros agentes do setor, criticou o facto desta medida não avançar, o que depende da iniciativa do governo.

O gestor do Pestana admite que a atração para o setor não se faz só com salário e por isso, o Grupo aposta em também noutras condições, como seguros de saúde, formação e mobilidade entre unidades, em Portugal ou no estrangeiro.

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