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Turismo

Cada vez mais estrangeiros procuram as escolas do Turismo de Portugal

10 mar, 2022 - 21:45 • Ana Carrilho

Setor do turismo enfrenta crise de mão de obra e as associações do setor pressionam o Governo para flexibilizar as regras para a entrada no país de mais imigrantes, especialmente de África e da Ásia. O recurso a trabalhadores estrangeiros poderá ser uma inevitabilidade.

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Há cada vez mais estrangeiros a procurar as escolas do Turismo de Portugal. O setor debate-se com falta de mão de obra e as associações do setor pressionam o Governo para flexibilizar as regras para a entrada no país de mais imigrantes, especialmente de África e da Ásia.

O recurso a trabalhadores estrangeiros poderá ser inevitável, admite a diretora de formação das escolas do Turismo de Portugal, Ana Paula Pais.

Em entrevista à Renascença, esta responsável revela, também, que a procura das escolas de turismo continua "em alta" e a suscitar cada vez maior interesse de alunos estrangeiros.

A prová-lo está o elevado número de candidatura recebidas para a fase extraordinária de março para oito cursos em seis escolas do país: 2,5 vezes o número de vagas. Das 550 candidaturas válidas, 400 são internacionais, especialmente dos PALOP, com Angola na liderança.

Ana Paula Pais diz ainda que as empresas estão a mudar mentalidades e a assumir que vale a pena ter trabalhadores qualificados. Mas que estes, por isso mesmo, também querem outro tipo de compensações, que vão além da compensação.

Dinamismo também se vê pela procura de formação

As escolas do Turismo de Portugal têm quase 3.000 alunos, “falando apenas dos mais jovens”, frisa Ana Paula Pais, diretora de Formação do Turismo de Portugal, em entrevista à Renascença.

Anualmente, há duas fases de candidaturas: em setembro, em que são admitidos cerca de 1.800 jovens nas doze escolas do país; e a fase de março, com cerca de 270 vagas.

“Fazemos estes dois momentos de admissão para atrair diferentes tipos de público: há sempre jovens que não vão para o ensino superior, ou que decidem mudar de área ou porque no seu percurso profissional, estão disponíveis noutra altura que não a tradicional do início do ano letivo”.

Em pouco mais de um mês as diferentes escolas (Lisboa, Porto, Estoril, Vila Real de Santo António, Coimbra, Oeste, Viana do Castelo e Setúbal) receberam 646 candidaturas às 268 vagas. Ou seja, 2,4 vezes a disponibilidade existente. Mas “há sempre uma quebra entre os que se inscrevem e os que são apurados, há quem não preencha os requisitos ou não apareça às provas. No final, ficaram 550.

No entanto, só 150 – os portugueses ou estrangeiros que já vivem em Portugal – vão iniciar a formação este mês. Os outros 400 vão ser transferidos para a “época especial internacional”, que começa mais tarde, já que muitos destes jovens são de fora da União Europeia e precisam de tempo para tratarem dos vistos, explica Ana Paula Pais.

Entre os estrangeiros que se candidataram aos cursos de turismo em Portugal, o maior contingente é o angolano (228 candidaturas), seguido do brasileiro (98). Mas também há candidatos dos Estados Unidos, Canadá, vários países africanos, especialmente de língua portuguesa, e cada vez mais europeus (por exemplo, franceses, italianos e alemães) que “veem Portugal como um destino de qualidade para estudar”.

Mais de metade (58%) dos candidatos têm o 12.º ano, mas há quem tenha já uma licenciatura ou pós-graduação. De qualquer forma, estes cursos são de especialização. E a responsável pela formação do Turismo de Portugal frisa que também há muita procura de pessoas mais velhas (na faixa dos 30 anos ou mais), que, com a pandemia, ficaram desempregadas noutros setores, que decidiram mudar de vida ou que estão simplesmente a reorganizar a sua vida profissional e sentem necessidade de se especializar para entrar no setor do turismo.

“Constata-se que o setor está de fato a retomar o dinamismo pela procura dessas pessoas. Muitas que já têm qualificações de nível superior vêm fazer uma especialização. São cursos muitos abrangentes e que nos permitem formar pessoas de forma muito eficiente para entrar no mercado de trabalho”.

Cozinha e pastelaria lideram as preferências

O curso de Gestão e Produção de Cozinha tinha 80 vagas, mas a procura foi mais de três vezes superior. Foi a primeira opção para 252 candidatos. Gestão e Produção de Pastelaria tinha 78 vagas, mas foi o escolhido por quase 200 candidatos. Aliás, todos os cursos (à exceção de Food & Beverage Management) tiveram procura muito superior às vagas disponíveis.

A responsável da Formação do Turismo de Portugal diz que os cursos cobrem as áreas em que o mercado precisa de mais pessoas qualificadas e que além da cozinha e pastelaria (em português e inglês), abrangem o serviço de restaurante, serviço de quartos, hospitality.

“As escolas, juntamente com as empresas, procuram dar uma resposta - a vezes quase imediata, outras vezes mais estruturante - para que o setor tenha os profissionais que mais precisa. “Mas é preciso cativar os jovens e temos um reforço das ofertas (pedagógicas) também para setembro porque estamos muito comprometidos a cativar mais pessoas e a qualificá-las”.

Estágio é um “namoro” que tem que correr bem

O setor da hotelaria e turismo debate-se com falta de mão-de-obra e especialmente, qualificada. O desafio das empresas já não é apenas captar, mas sobretudo, reter o talento. “É uma área muito exigente e os jovens veem a carreira de uma forma diferente, valorizam o tempo, a possibilidade de conciliar a profissão com a vida pessoal e familiar, entre outros aspetos. Só a remuneração já não é suficiente, embora seja importante”.

Por isso, há muitas empresas que apresentam “pacotes de benefícios” que podem incluir seguros, oportunidades de mobilidade entre unidades do mesmo grupo, viagens, formação acrescida, progressão na carreira. “Neste setor um jovem que conjugue competências técnicas com competências ao nível da liderança, pode ascender rapidamente na hierarquia e ter uma carreira. E creio que as empresas portuguesas estão muito focadas no que têm que fazer para cativar e reter o talento, que é o bem mais precioso para todos, hoje em dia”, diz Ana Paula Pais.

Um momento decisivo é o estágio, crucial para a vida, diz a responsável pelas escolas do Turismo de Portugal. “Se o primeiro estágio correr bem, há um reforço da motivação; se correr mal, pode levar ao abandono da opção que fizeram.

Por isso, Ana Paula Pais diz que há uma preocupação das escolas trabalharem com as empresas o primeiro estágio dos alunos, por forma a que seja um momento de inspiração, que lhes permita perceber que podem acrescentar valor à empresa e que esta lhes pode dar conhecimento e experiência complementar à que receberam na escola; que há potencial de crescimento nessa relação.

“É uma fase de namoro que tem que correr bem para que o jovem, depois de concluída a formação, queira voltar àquela empresa ou ao setor. Quando o estágio corre bem, a contento das duas partes, há frequentemente uma negociação prévia para que regressem depois do curso acabado.

Qualificação é rentável para o setor

Recentemente, André Jordan, considerado por muitos como “o pai do turismo português”, referia que o turismo é uma indústria que tem que ser rentável. Ana Paula Pais concorda, mas frisa que a rentabilidade vem, no fundo, da capacidade que as pessoas que operam as unidades têm para as tornar rentáveis. Porque só com o edifício, não operam essa rentabilidade. “Investimos cada vez mais na qualificação dessas pessoas: na gestão, nas vendas, na área das relações com o cliente, na fidelização, para que os nossos alunos e futuros profissionais possam alargar essa cadeia de valor com cada cliente e aumentar a rentabilidade.

Essa é uma questão crucial também para as empresas, especialmente as pequenas, nas áreas da restauração ou animação turística, por exemplo. O ano passado o Turismo de Portugal lançou um programa específico que as ajuda a desenvolver o negócio de forma mais rentável, mostrando aos pequenos empresários como podem ganhar mais se adicionarem pessoas qualificadas às suas equipas.

Por exemplo, se num restaurante, os empregados de mesa souberem explicar as características de um vinho e explicarem porque é que vale a pena pagar mais por ela, os clientes podem aceitar a sugestão, gerando maior receita para o restaurante. “Quase todos nós estamos dispostos a pagar mais pelo serviço se reconhecermos valor no serviço”.

A curto prazo precisamos de imigrantes. E de qualificá-los

“No turismo, a curto prazo, a necessidade é tão expressiva que temos mesmo que ter mais pessoas e terá que ser com recurso a imigrantes”, admite Ana Paula Pais. Frisa que é preciso ver todas as condições de segurança, o acolhimento, a capacitação. “Precisamos dessas pessoas e temos, inclusive, programas de capacitação, trabalhamos com algumas associações que acolhem migrantes. E a diretora de formação do Turismo der Portugal dá como exemplo o programa dedicado á capacitação de refugiados, “que tem sido muito bem-sucedido e facilitado a inserção destas pessoas no mercado de trabalho.

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