O Papa Francisco diz que se a Igreja é um hospital de campanha, então os refugiados são os feridos que precisam de atenção.

Numa conversa à porta fechada com os jesuítas da Tailândia em novembro, cuja transcrição apenas agora foi divulgada, Francisco foi questionado sobre o problema dos refugiados e recorreu à imagem da Igreja enquanto hospital de campanha, que usou logo no início do seu pontificado.

“A tradição cristã tem uma rica experiência evangélica de lidar com o problema dos refugiados. Recordamos também a importância de acolher os estrangeiros, como nos ensina o Antigo Testamento”, disse Francisco, concluindo que “se a Igreja é um hospital de Campanha, então este é um dos campos em que existem mais feridos. São estes hospitais que mais precisam de nós”.

Segundo Francisco, o drama dos refugiados é mesmo um assunto teológico e o Papa recordou o facto de o Serviço Jesuíta aos Refugiados ter sido fundado pelo líder da ordem religiosa, precisamente em Banguecoque, nas vésperas de um AVC que o deixou incapaz de continuar a governar. Pedro Arrupe tornou-se mesmo o primeiro superior dos jesuítas a resignar ao cargo.

“O fenómeno dos refugiados sempre existiu, mas hoje tornou-se mais bem conhecido por causa das diferenças sociais, a fome, as tensões políticas e sobretudo a guerra. Por essas razões estão a intensificar-se os movimentos migratórios. E que resposta é que o mundo dá? A política do descarte. Os refugiados são tratados como lixo. O Mediterrâneo foi transformado num cemitério”, diz.

O Papa deu depois alguns exemplos práticos que o chocam. “A crueldade conhecida de alguns centros de detenção na Líbia toca-me o coração. Aqui na Ásia todos conhecemos o problema dos rohingya. Admito que algumas das narrativas sobre fronteiras que ouço aqui na Europa me chocam. O populismo está a ganhar influência. Noutros sítios até existem muros que separam os filhos dos seus pais. Faz-me lembrar o Rei Herodes”, afirma Francisco, lamentando ainda que esses mesmos muros não sirvam para impedir o tráfico de droga.

Durante esta conversa o Papa foi ainda questionado sobre como tem sido recebida a sua encíclica Laudato Si’, sobre o clima, afirmando os jovens são os que têm reagido melhor. “Hoje os jovens compreendem que a sobrevivência do planeta é um assunto fundamental. Eles entendem o Laudato Si’ com os seus corações. É uma promessa para o futuro.”

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