O artista americano David Lewis acaba de publicar uma banda desenhada em que o herói é um muçulmano, natural da Argélia.

Mas Kismet, que tem o epíteto de “Homem do Destino”, já tinha existido durante um curto período em 1944, fazendo dele o primeiro super-herói muçulmano da história da banda desenhada.

Escrito originalmente em inglês e publicado pela Bomber Comics, Kismet era um herói argelino que combatia os nazis no sul de França, tronco nu, mas com luvas, capa verde e uma fez amarela.

“‘Persigam-nos, torturem-nos’, gritam os sádicos nazis, mas os povos da Europa ocupada continuam a sua luta incessante contra a tirania. E ao seu lado, com o poder da sua grande mente e a força dos seus punhos, encontra-se Kismet, Homem do Destino!!”, lê-se logo na capa da primeira história. A banda desenhada é assinada por Omar Tahar, mas suspeita-se que se trata de um pseudónimo.

A Bomber Comics durou apenas quatro edições e depois Kismet caiu no esquecimento.

Com os direitos do super-herói no domínio público, o artista David Lewis – que se converteu ao Islão há 12 anos – achou que era chegado o tempo de ressuscitar o herói argelino, colocando-o desta vez em Boston, na sequência do atentado da Maratona de Boston.

Com um doutoramento em Religião e Literatura, há anos que Lewis explora a ligação entre a teologia e a banda desenhada e não quis perder a oportunidade de preencher um certo vazio que existe na banda desenhada no que diz respeito a super-heróis muçulmanos.

Ao contrário da maioria dos super-heróis, o Kismet original não tinha qualquer superpoder, atribuindo a sua supremacia à “liberdade que me foi dada por Alá e pelo Profeta”. Lewis quis manter essa característica. “No final de contas ele não salva o dia por ser o mais forte, ou mais herói. Vence porque tem fé”, diz o autor, em declarações à agência Religion News Service.

Inicialmente Lewis quis que Kismet servisse para combater a islamofobia, mas com a ascensão da extrema-direita nos Estados Unidos viu uma oportunidade de o colocar a combater o mesmo inimigo de 1944. Quando viu a marcha de neo-Nazis em Charlottesville, em agosto de 2017, diz que “percebi que tínhamos chegado àquele ponto em que é preciso contra-atacar”.

Mas o autor diz que as histórias de Kismet não são um apelo à violência. “É só uma forma de dizer que chegou a altura de escolher de que lado estamos”.