Os responsáveis da Igreja Católica na Austrália expressaram esta segunda-feira a sua profunda vergonha pelos dados revelados pelo inquérito da Comissão Real ao escândalo dos abusos sexuais de menores naquele país, desde a década de 1950.

A Comissão Real para as Respostas Institucionais aos Abusos Sexuais de Menores concluiu que desde 1980 a 2015 um total de 4.444 pessoas fez alegações de abusos contra padres, religiosos ou funcionários da Igreja Católica, sendo que essas alegações dizem respeito a um período que começa na década de 1950. Estas alegações, nem todas comprovadas, dizem respeito a 7% de todos os sacerdotes do país, sejam diocesanos ou de ordens religiosas.

Numa ordem religiosa, os Irmãos de São João de Deus, o número de padres contra os quais foram feitas alegações de abusos ultrapassa os 40% e noutras três ordens, os salesianos, os maristas e os Irmãos Cristãos, uma ordem religiosa muito activa na educação em países de língua inglesa, é superior a 20%.

"Falhanço massivo" da Igreja

A Igreja Católica, que colaborou com a comissão, já reagiu. Francis Sullivan, do Conselho de Verdade, Justiça e Reconciliação, que coordena a resposta da Igreja Católica a este inquérito, disse que os dados apresentados reflectem um “falhanço massivo” da Igreja na protecção de menores.

“Estes números são chocantes, trágicos e indefensáveis”, afirmou na audiência da comissão. “Enquanto católicos, estamos profundamente envergonhados."

O arcebispo de Sydney, Anthony Fisher, também recorreu à expressão “vergonha” numa nota publicada no site da diocese. “Sinto-me pessoalmente abalado e humilhado por esta informação, tal como tem acontecido com outras revelações da comissão até hoje. Tanto eu como a Igreja pedimos perdão por erros do passado que prejudicaram tantas pessoas. Sei que muitos dos nossos padres, religiosos e leigos sentem o mesmo”.

O arcebispo de Sydney, Anthony Fisher, reagiu através de um vídeo colocado no YouTube

O arcebispo refere que as estatísticas recolhidas pela comissão dizem respeito sobretudo às décadas de 50, 60 e 70 e que, desde então, as alegações são muito mais reduzidas, mas sublinha também que é preciso "reconhecer que há vítimas que ainda não tornaram públicas as suas acusações e outras que talvez nunca o façam”.

A advogada Monica Doumit, que tem acompanhado os trabalhos da comissão, comentando o dia-a-dia da estrutura para as páginas do "Catholic Weekly", da arquidiocese de Sydney, recorda os seus leitores de que os 4.444 casos de abusos – alguns dos quais não confirmados – relativos a várias décadas na Igreja são menores que os 5.474 casos de abusos confirmados para a Austrália em geral só em 2014 e 2015.

“Não se trata de apontar o dedo (um padre apenas já seria demais), mas uma recordação de que nos podemos juntar a outros na comunidade, nas instituições e nas famílias, no nosso compromisso pela segurança das crianças”, escreve.

Em 2012, quando foi anunciada a formação da comissão, a Renascença falou com Robert Hiini, jornalista australiano católico, que se mostrou esperançoso de que este processo fosse encarado pela Igreja como uma oportunidade.