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“Escândalo de abusos sexuais é oportunidade para a Igreja australiana”

30 nov, 2012 • Filipe d’Avillez

Jornalista católico confirma existência de preconceitos na imprensa, mas diz que a Igreja deve focar-se em ouvir as vítimas e melhorar a capacidade de resposta.  

O Governo australiano criou uma comissão para investigar as alegações de abusos sexuais contra menores nas instituições nacionais, incluindo na Igreja Católica.

Depois de Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda, Irlanda e vários outros países, agora é a vez de a Austrália ser abalada por uma série de revelações de abusos e encobrimentos.

Robert Hiini, jornalista do jornal oficial da diocese de Perth, explica contudo que todos os casos que têm sido referenciados têm já vários anos e por isso não reflectem necessariamente a Igreja actual: “Os casos que têm vindo a lume tiveram lugar há cerca de 20 anos ou mais. Ouvi estatísticas do Estado de Victoria, o segundo maior da austrália, que indica que houve apenas entre 13 a 20 casos depois de 1990, por isso parece ter havido um enorme decréscimo quanto ao número de incidentes. Se isto se deve a um atraso nas queixas não sei, mas é verdade que a esmagadora maioria das alegações têm 15 ou 20 anos, ou mais.”

O debate nacional que tem absorvido a sociedade australiana tem tido alguns momentos preocupantes, como por exemplo uma campanha concertada de alguns meios de comunicação contra o sigilo da confissão. O jornalista diz que se tratou de uma distracção alimentada pela imprensa sensacionalista.

“Houve esse debate durante vários dias, principalmente na imprensa sensacionalista. Agora isso já acalmou, pelo menos por enquanto. Quem desencadeou isso foi o primeiro-ministro do Estado de Nova Gales do Sul quando disse que não imaginava como é que um padre que ouvisse isso numa confissão poderia não agir e informar a polícia”, explica.

“Na imprensa dita de qualidade isso tem sido avaliado como sendo uma mera distracção. As pessoas compreendem que não é por aí que a maior parte dos incidentes é divulgada e estão mais interessados em agir concretamente contra situações concretas.”

Robert Hiini confirma que existe algum preconceito contra a Igreja, mas sublinha que o mais importante é respeitar a dor das vítimas. “Quando ouvimos os relatos das vítimas sabemos que essa dor é verdadeira. E quando ouvimos falar de incidentes ocorridos ao longo dos últimos 20 anos, quando supostamente já era suposto termos apertado com os protocolos, vejo isso como uma oportunidade de fazer o nosso melhor pelas crianças.”

“É verdade que a maior parte dos meios de comunicação na Austrália são progressistas e de tendência vagamente anticatólica, e algumas das reportagens que têm saído parecem ser um escape para um certo ressentimento contra a Igreja e os ensinamentos, mas eu estou a tentar concentrar-me nos factos, na dor das vítimas e em garantir que isto não volta a acontecer. Penso que nesse sentido esta é uma oportunidade”, conclui.

A criação da comissão foi iniciativa da primeira-ministra Julia Gillard, anunciada no dia 12 de Novembro, e foi bem recebida pelo episcopado australiano, com o Cardeal Pell a dizer que espera que a comissão sirva também para separar os factos da ficção que alguns órgãos de comunicação estão a alimentar.