O PSD quebrou o silêncio sobre a greve dos motoristas esta quarta-feira, numa declaração aos jornalistas em que foram atribuídos ao Governo do PS “excessos no exercício da autoridade de Estado”, numa referência ao processo de requisição civil, e em que David Justino procurou mostrar como o partido teria agido no poder: forçando um acordo, antes mesma da greve.

“Nas três semanas que antecederam a crise teria forçado uma situação de entendimento, nem que fosse um entendimento provisório. Teríamos feito esforços muito antes de se chegar a este recurso, que é excecional”, declarou o vice-presidente do partido, já na fase de perguntas e respostas dos jornalistas, depois de ler um comunicado.

Questionado várias vezes sobre se o PSD teria optado também pela requisição civil, David Justino nunca deu uma resposta concreta, focando-se no que deveria ter sido feito antes do início da paralisação.

Face à situação atual, o antigo ministro da Educação disse que não há alternativa a uma negociação. “Ou há uma negociação e as partes têm coragem de abdicar dos seus interesses e inflexibilidade, de se sentarem à mesa e encontrar soluções, ou então não há solução”.

Para David Justino – que falou em nome do partido porque Rui Rio está “de férias, mas não incontactável” –, o Governo deve dar o “primeiro passo”. Porém, para se desbloquear a situação deve, simultaneamente, haver uma suspensão da requisição civil, uma trégua na greve por parte dos sindicatos e uma ANTRAM aberta a negociar sem pré-condições.

“Quando se banaliza a requisição civil, isso leva ao desrespeito e à desobediência civil, que são os primeiros sinais que começam a aparecer”, acusou o responsável, que prometeu que o partido vai manter recato para que a situação possa evoluir. “Não é deitando achas para fogueira que vamos resolver o problema”, afirmou, recusando-se a entrar no “circo mediático” que diz ter sido montado pelo Governo.

Negociação num "beco sem saída"

No comunicado lido antes das perguntas e respostas, o PSD considerou que “o Governo e as forças que o apoiam estão agora num beco sem saída” nesta crise dos combustíveis, após uma tentativa de retirada de ganhos políticos da greve.

Os sociais-democratas acusam o executivo de “tentativa de humilhação dos trabalhadores e dirigentes sindicais”, irresponsabilidade e “excessos” no exercício da autoridade, “aos quais não será alheia a atual conjuntura político-eleitoral”. “Lembre-se que esta é a terceira requisição civil que este Governo decretou nos últimos seis meses”, frisa-se na nota à comunicação social.

Na visão do PSD, o Governo deveria estar preocupado com “as reais condições de exercício da atividade profissional dos motoristas, nomeadamente o excesso de horas a que estão sujeitos”, “a falta de condições de segurança rodoviária que estes excessos acentuam” e os “indícios de irregularidades fiscais por parte de algumas empresas transportadoras”.

David Justino foi questionado várias vezes sobre as críticas internas ao silêncio da direção perante esta greve dos motoristas. “Não estou a discutir problemas internos, estou a discutir problemas do país”, respondeu.