José Sócrates, antigo secretário-geral do PS, pede a desfiliação numa carta enviada ao partido. A notícia está a ser avançada pelo "Jornal de Notícias".

A decisão surge depois de várias figuras do partido, incluindo António Costa, atual líder socialista, Carlos César, presidente e líder da bancada parlamentar, e João Galamba, porta-voz do PS, entre outros, terem deixado fortes críticas à situação do antigo governante, arguido no processo Marquês.

O ex-primeiro-ministro interpreta as declarações dos últimos dias como "uma espécie de condenação sem julgamento" e queixa-se que durante quatro anos o partido nunca saiu em sua defesa contra o que qualificou como os "abusos" da justiça.

"Desde sempre, como seu líder, e agora nos momentos mais difíceis, encontrei nos militantes do PS um apoio e companheirismo que não esquecerei. Mas a injustiça que agora a direção do PS comete comigo, juntando-se à direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político", pode ler-se no texto.

"É chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo", escreve.

José Sócrates filiou-se no PS em 1981, após ter saído do PSD.

No artigo de opinião, critica a justiça e nega que o nome de Manuel Pinho para fazer parte do seu Governo tenha sido sugerido pelo antigo presidente do Grupo Espírito Santo, Ricardo Salgado. O caso que envolve o ex-ministro da Economia foi noticiado, em 19 de abril, pelo jornal Observador, segundo o qual há suspeitas de que tenha recebido, entre 2006 e 2012, cerca de um milhão de euros.

Costa disse, esta quinta-feira, que em Portugal ninguém está acima da lei e que, "a confirmarem-se" as suspeitas de corrupção nas políticas de energia por membros do Governo de José Sócrates, será "uma desonra para a democracia".

Já antes Carlos César falou de um partido envergonhado com as acusações que recaem sobre Manuel Pinho, ex-ministro da Economia de Sócrates. “A confirmar-se é uma situação incompreensível e lamentável”, disse o líder da bancada socialista, reiterando assim o que disse na semana passada sobre o caso. E também em relação às suspeitas que recaem sobre José Sócrates na Operação Marquês. “A vergonha até é maior porque era primeiro-ministro”, frisou.

Galamba afirmou, em declarações à SIC Notícias, que esse “é o sentimento de qualquer socialista” perante estes processos.

O ex-primeiro-ministro foi acusado de 31 crimes no âmbito da Operação Marquês: três de corrupção passiva, 16 de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documento e três de fraude fiscal qualificada. Segundo o Ministério Público, o antigo primeiro-ministro acumulou na Suíça 24 milhões de euros "com origem nos grupos Lena, Espírito Santo e Vale de Lobo".