As situações de bullying em contexto escolar continuam a aumentar. No último ano letivo, a PSP registou mais de 2.800 ocorrências criminais, sendo que as injúrias e as ameaças atingiram o valor mais elevado, pelo menos, dos últimos nove anos.

De acordo com o subintendente Sérgio Saldanha, a maioria das vítimas e dos agressores são rapazes com idades entre os 12 e os 15 anos.

Em declarações à Renascença, o responsável sublinha a importância de os pais estarem atentos a todos os sinais que possam indiciar uma situação de bullying. “Devem ouvir as crianças, sejam as vítimas ou os agressores, estar atentos aos sinais de alterações comportamentais”, aconselha.

E no caso de pais de eventuais vítimas, é importante estar atento aos “sinais, não só a nível psicológico, mas a nível físico, se apresentarem hematomas, usarem roupa, em situações que não é normal, para esconder alguns ferimentos que possam ter também”.

No último ano letivo, a Polícia de Segurança Pública registou 2.847 ocorrências criminais de situações de 'bullying' em contexto escolar, 1.169 das quais por agressões e 752 por injúrias e ameaças.

“Bullying é para fracos”

Para assinalar o Dia Mundial do Combate ao Bullying, a PSP está realizar desde o dia 10 de outubro e até amanhã, sexta-feira, a operação “Bullying é para fracos”, dirigida às escolas do 1.º ao 3.º ciclos e ensino secundário, abarcando crianças e jovens dos seis aos 18 anos de idade.

Segundo esta força de segurança, o Dia Mundial do Combate ao Bullying constitui-se como “um alerta internacional para o problema do 'bullying' com o qual muitos jovens convivem diariamente e que é suscetível de interferir, de forma negativa e com grande impacto também a longo prazo, no seu crescimento, físico, emocional e psicológico”.

A operação tem como objetivos “aumentar o conhecimento sobre este fenómeno, capacitando a deteção precoce”, “fazer crescer o sentimento de intolerância e de rejeição para com as práticas de bullying” e “incrementar a confiança nas capacidades da PSP e dos demais parceiros neste contexto para intervir e lidar eficazmente com o problema”.

O bullying pode ser, físico, verbal ou sócio-emocional e vai desde a agressão física à difamação.

A Ordem dos Psicólogos apresentou, em comunicado, dados de 2017 que colocavam Portugal em 15.º lugar numa lista de países mais atingidos por esta prática na Europa e na América do Norte, à frente dos Estados Unidos.

De acordo com a mesma fonte, 31% a 40% dos adolescentes portugueses com idades entre os 11 os 15 anos “confirma ter sido intimidado na escola uma vez em menos de dois meses”.

Mas, se os números tiverem em conta apenas os dois últimos anos letivos - vividos em tempo de pandemia e em que as crianças e jovens passaram muito menos tempo na escola - as situações de bullying, em contexto escolar aumentaram 37%.

Saber lidar com vítimas e agressores

Não menos importante, sublinha o subintendente Sérgio Saldanha, é saber lidar com os agressores e com as vítimas.

“Em termos de relação com o agressor têm que ouvir, têm que escutar para perceber o que é que se passa e não fazer juízos prévios”, destaca, realçando que é preciso “perceber as razões e a avaliação que o agressor faz dos seus próprios comportamentos”.

“Há que entender que estas crianças também precisam de ajuda e ajudar o agressor, em boa parte, é a melhor forma de ajudar a vítima”, observa.

Já quanto às vítimas, é fundamental “ouvir, escutar, estar com atenção àquilo que a criança nos transmite, às vezes sem ser transmitido por palavras, mas com comportamento e não desvalorizar o assunto”.

“Há que manter a calma, não entrar em conflito ou em confronto com o agressor ou com os pais familiares do agressor. Contactar as pessoas responsáveis a nível da escola, a Polícia de Segurança Pública, para que todos em conjunto, possamos ter uma intervenção articulada nesta matéria”, sintetiza.

"Não incentivem, não filmem"

Falando especificamente dos amigos e colegas que sabem destes casos, o subintendente pede-lhes que não incentivem, e que não filmem.

“Perante uma situação de bullying em primeiro lugar, devem tentar fazer cessar essa situação. Se não forem capazes pelos próprios meios, devem contactar um adulto responsável que esteja por perto no momento, seja na escola, professores, assistentes operacionais e depois não encorajar o agressor fazendo filmagens, como por vezes vê nas redes sociais das situações em que divulgam as situações”, esclarece.

Segundo o subintendente Sérgio Saldanha, “as filmagens a serem feitas devem apenas servir para prova, para entregarem às pessoas responsáveis para tratarem deste assunto”.