O diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal diz, à Renascença, estar "em profundo choque" com o caso de agressões alegadamente cometido por sete militares da GNR a imigrantes, em Odemira, denunciado esta quinta-feira pela CNN Portugal e pela TVI.

Os militares estão acusados de um total de 33 crimes, por humilharem e torturarem imigrantes.

Num despacho de acusação de 10 de novembro e ao qual a CNN Portugal e TVI tiveram acesso, o Ministério Público refere que os militares cometiam os atos de tortura "em manifesto uso excessivo de poder de autoridade" e que "todos os arguidos agiram com satisfação e desprezo pelos indivíduos".

Pedro Neto classifica o caso como um "episódio gravíssimo de abuso das forças de autoridade, que não honram o uniforme que vestem e o trabalho que desenvolvem".

"Tudo nos leva a querer que haverá uma acusação e que se fará Justiça neste caso", diz, à Renascença.

O diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal questiona "como é que a formação e o recrutamento não tem a profundidade para evitar este tipo de atuações?".

"O que é que está a falhar neste processo que ainda leva a que isto aconteça?", acrescenta.

Pedro Neto refere que, em 2019, houve a identificação de 950 processos de abuso do uso da força e "destes, muito poucos, não chegam a duas dezenas, chegaram a ser investigados".

"Isto pode levar a que pessoas como estes militares possam fazer o que quiserem e se sintam todos poderosos, porque aquilo que fazem não tem consequência. Sentem-se impunes", critica.

"Algo está a falhar na responsabilização dos maus agentes, porque depois a esmagadora maioria dos bons militares vê o seu nome e uniforme manchados".

O diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal considera que estes episódios mostram que "talvez seja necessário as bodycams, as câmaras de vigilância nos carros das forças de autoridade e nas esquadras e nos postos da GNR".

"Assim, mais facilmente podemos responsabilizar rapidamente, quem se comporta incorretamente", defende.

Pedro Neto alerta ainda para o aumento "do discurso de ódio no contexto político e o silêncio de outros políticos que nada dizem sobre isso".

"Constrói-se um ambiente de discriminação a pessoas vulneráveis, como, por exemplo, cidadãos da etnia cigana, de ascendência africana e sempre pobres. São sempre pessoas pobres e desprotegidas", avisa.

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