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Os cafés do bairro da Jamaica, no concelho do Seixal, vão ser encerrados, em princípio, a partir desta quinta-feira e sem data de reabertura para travar a propagação da Covid-19. A garantia foi dada à Renascença pelo delegado de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Mário Durval.

O delegado de saúde justifica o encerramento dos cafés como forma de travar a propagação do vírus naquele bairro, com 16 casos confirmados até agora, quatro já dados como recuperados.

“O que vai acontecer é que vão ser encerrados os cafés onde as pessoas se costumam encontrar. É uma situação que se verificou que é de risco e vão ser encerrados durante um período”, explica Mário Durval.

A região de Lisboa tornou-se, nas últimas duas semanas, o principal foco de expansão e morte por Covi-19, em Portugal. Uma das preocupações passa pelo aumento de contágios em bairros como o da Jamaica, no Seixal, o Bairro da Fonte Nova, em Setúbal, e o bairro na Quinta do Mocho, em Sacavém.

Em entrevista à Renascença, Mário Durval assume que a situação em alguns bairros é problemática e que, além de ser necessário evitar o ajuntamento de pessoas nestes espaços, é preciso controlar o isolamento domiciliário

"Vamos afinar a pontaria para alguns sítios que estão agora com um problema. Em determinados pontos de alguns bairros, tentar que os cafés não sirvam de ponto de encontro para pessoas Covid-positivas e negativas, que pessoas que de facto são Covid-positivas não andem a conviver com outras. Isto passa por medidas educativas e, eventualmente, por algumas medidas de aplicação da lei do desconfinamento com intervenções mais musculadas. Por isso, é necessário que as pessoas que forem detetadas como Covid-positivas tenham de obrigatoriamente ficar isoladas", assinala.

Já na quarta-feira, a associação de moradores de Vale de Chícharos, no Seixal, defendeu que o bairro deveria ser “isolado” e mostrou particular preocupação com os cafés. “Os cafés ao fim de semana não deixam dormir as pessoas que trabalham, com música e ajuntamento de pessoas que não usam máscara”, relatou o presidente da Associação de Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos, Salimo Mendes.

"Não se isola um bairro por causa de 10 pessoas"

Apesar de os bairros mais desvaforecidos serem novos focos de contágio, o delegado de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo descarta, para já, a possibilidade de cercos sanitários, tendo em conta que há bairros com poucos infetados e que a medida poderia prejudicar o normal funcionamento da restante população:

"Se formos a cada bairro são meia dúzia de pessoas. Como há muitos bairros degradados à volta de Lisboa, faz muita gente. Em cada bairro são 10, 15, 20 pessoas. Não se isola um bairro por causa de 10 pessoas. As pessoas têm características especiais. Temos de nos adequar à sua cultura e hábitos de vida. Temos de adequar a nossa intervenção às pessoas. Face aos hábitos daquelas pessoas, pode tornar-se uma coisa problemática, se as pessoas não forem devidamente acompanhadas."

Embora haja focos de contágio pelo novo coronavírus em bairros lisboetas, Mário Durval, sublinha que é preciso desmistificar a ideia errada de que o número de contágios em Lisboa está a aumentar.

"Aquilo que acontece é que, como nós estamos a manter os números há muito tempo e os outros agora desceram, parece que os nossos subiram, mas não é. Mantêm-se os mesmos números. Temos tido sempre entre 200 e 250 pessoas por dia, às vezes sobe, outras vezes desce", explica.

Mapa da Covid-19 na região de Lisboa

As maiores fragilidades na luta contra a Covid-19 estão nos bairros com piores condições socioeconómicas, diz à Renascença o delegado de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a região com maior aumento do número de casos do país. Mário Durval faz um mapa das zonas que mais preocupações levantam nesta altura.

Além do Bairro da Jamaica na margem Sul, na margem Norte do Tejo, o delegado de Saúde aponta maior atenção das autoridades ao “eixo Lumiar-Odivelas, entrando aqui a freguesia de Santa Clara”, mas não só.

Outros pontos são a freguesia de Arroios, na cidade de Lisboa; Queluz, no concelho de Sintra; Mina de Água, na Amadora; algumas freguesias do concelho de Loures; e Forte da Casa, no concelho de Vila Franca de Xira.

“São uma série de freguesias periféricas de Lisboa, e que no fundo onde estão as populações mais vulneráveis do ponto de vista socioeconómica. Isto é uma constante em todas as doenças. As populações mais débeis do ponto de vista socioeconómico são as que adoecem mais facilmente”, sublinha Mário Durval.

Empresas de trabalho temporário preocupam


Ainda assim, o delegado de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo reconhece que o caso é complexo, como descreveu a diretora-geral da Saúde, porque a região queria ter acompanhado a tendência de descida das restantes.

As empresas de trabalho temporário são um foco de preocupação, porque "mobilizam as pessoas de uns sítios para os outros constantemente, transportes de pequenas carrinhas cheios de pessoas, sem tomar as devidas precauções".

Além de partilharem os transportes disponibilizados pelas empresas, estes trabalhadores deslocam-se, também, em transportes públicos e, nesse sentido, diz Mário Durval, é preciso assegurar que todos cumprem as recomendações sanitárias da Direção-Geral da Saúde (DGS):

"Há pessoas certamente que andam nos transportes públicos que são Covid-positivas, mas se seguirem as orientações da DGS, minimizam ou reduzem a praticamente zero a sua capacidade de infeção."