No final deste século, a Herdade da Ribeira Abaixo, em Grândola, vai ter um aumento de temperatura durante todo o ano e em agosto atinge mais quatro graus de máxima. Os dias com temperaturas elevadas vão aumentar, no total, mais 21. Por outro lado, as geadas vão diminuir, e a chuva também, por exemplo, com o clima atual há 78 dias de chuva, em 2100 haverá menos 15.

Este é o cenário das projeções climáticas elaborado pelos investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, para o projeto LIFE Montado Adapt, cujo objetivo é perceber como adaptar o Montado às alterações climáticas. “O sistema tal como o conhecemos pode entrar em colapso e as pessoas já estão a ver isso porque as árvores estão a morrer”.

André Vizinho, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é um dos coordenadores do projeto.

O sobreiro e a azinheira são as árvores principais do Montado, um eco sistema típico das regiões mediterrâneas e, nesta altura, em algumas zonas do baixo Alentejo o sobreiro está já fora da zona de conforto e está a morrer.

É preciso encontrar estratégias, e os investigadores apontam dois caminhos a seguir, um deles a mitigação, que passa pela redução das emissões com gases de efeito de estufa. Uma das ideias pode passar pelo aumento das raízes permanentes, por exemplo, usando as pastagens que captam o carbono no solo.

Mas com a diminuição das chuvas é preciso garantir que a árvore consegue captar a pouca água que está no solo e uma das soluções apontadas por André Vizinho é proibir a “grade de discos, é uma espécie de arado que limpa a terra para prevenção de incêndios, mas quando fazemos isso cortamos as raízes dos sobreiros, e o sobreiro absorve 30% da sua água através destas raízes, por isso, quando as cortamos estamos a matar a árvore que é uma espécie protegida”.

Como baixar a temperatura no Montado?

Num cenário de alterações climáticas é preciso manter a água no solo, mas é também necessário diminuir a temperatura no montado. Na Herdade da Ribeira Abaixo André Vizinho está a fazer várias experiências nesse sentido e que passam “por aproximar as copas das árvores para aumentar a sombra e a matéria orgânica e ao mesmo tempo diminuir a temperatura no montado. Cada vez que aumentamos a densidade das arvores conseguimos diminuir a temperatura em cinco graus”.

A herdade tem 221 hectares, é um enorme laboratório gerido pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e é uma das 12 áreas piloto do projeto LIFE Montado.

Os investigadores do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas tentam aqui outras formas de garantir uma adaptação às alterações climáticas, que passa por plantar sobreiros à sombra das estevas.

“Numa das zonas da herdade limpámos as estevas numa orientação este/oeste, e plantamos os sobreiros e as azinheiras à sombra do esteval para tentar aumentar a humidade no solo durante mais tempo e aumentar a taxa de sucesso da plantação destas arvores”, refere André Vizinho, que cita estudos que concluíram que quando as árvores estão viradas a sul morrem porque apanham mais calor.